Ameaças ao Irã preocupam mas não surpreendem europeus
19 de janeiro de 2005Ao deixar claro que não descarta um ataque militar ao Irã, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, assume, como já foi no caso do Iraque, uma posição contrária à dos países da União Européia. Ainda na semana passada, os europeus deram início em Bruxelas a negociações com representantes do governo iraniano sobre um acordo comercial – um sonho antigo de Teerã. Por assim dizer, uma pequena recompensa pelo fato de o Irã ter contemporizado, em novembro passado, prometendo suspender temporariamente seu programa de enriquecimento de urânio, após encontros com representantes da Alemanha, França e Grã-Bretanha.
O fato de o presidente norte-americano estar de novo dando demonstração de forças faz certamente soar todos os alarmes do lado de cá do Atlântico. Até mesmo Jack Straw, ministro do Exterior da Grã-Bretanha – o mais fiel aliado dos Estados Unidos na campanha militar no Iraque –, voltou a insistir na importância da diplomacia. Em entrevista ao Financial Times, ele defendeu a forma como os europeus estão tratando o problema. Mesmo sabendo que há muito trabalho pela frente, ele acredita que "essa estratégia é melhor do que a alternativa militar".
Desta vez a meta é a mesma
O que torna a situação diferente agora é o fato de EUA e Europa terem a mesma meta. O Irã é um parceiro difícil, e os europeus levam muito a sério o perigo de armas atômicas irem parar em mãos erradas. Por outro lado, não é nenhuma surpresa para os ministros europeus que os Estados Unidos seriam capazes de levar a cabo planos de um ataque militar. O próprio ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, não se cansou de alertar que Teerã talvez não estivesse levando a ameaça a sério.
O policial bonzinho e o policial mau
Sob este aspecto, talvez seja até bem-vindo que Bush levante agora, afirma Bernhard May, da Sociedade Alemã de Política Exterior. "Os EUA estão desempenhando um pouco o papel do bad cop, que fica ameaçando com a arma", diz ele, aludindo ao recurso conhecido de filmes policiais, em que um suspeito se vê confrontado com um investigador agressivo e outro simpático, para ser levado a confessar. "Não é tão ruim assim essa estratégia dupla. Os europeus não estão vendo com maus olhos o novo desenvolvimento, mesmo que não possam admitir isso publicamente."
Esta avaliação é compartilhada também por Karsten Voigt, coordenador das relações teuto-americanas no Ministério alemão do Exterior, em entrevista à DW-TV. "Se os iranianos souberem que os americanos vão aumentar a pressão também com meios não pacíficos – se a solução pacífica não funcionar –, talvez isso possa aumentar sua disposição de fazer concessões e de desistirem de suas armas atômicas, se as estiverem planejando."
O que não significa que Voigt dê preferência à solução militar. Pelo contrário, "se os americanos apoiarem os europeus e aderirem às negociações diplomáticas, numa fase posterior, então a probabilidade de sucesso se torna maior."