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AI denuncia mais de 100 mortes em protestos no Irã

20 de novembro de 2019

ONG relata uso de munição real contra manifestantes e diz que total de mortos pode ser ainda maior. Presidente e líder supremo dizem que país teve êxito ao lidar com distúrbios provocados por inimigos externos.

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Estopim dos protestos no Irã foi um aumento de mais de 50% no preço da gasolina
Estopim dos protestos no Irã foi um aumento de mais de 50% no preço da gasolinaFoto: picture-alliance/abaca/SalamPix

A ONG Anistia Internacional (AI) denunciou nesta terça-feira (20/11) que ao menos 106 pessoas morreram nos atuais protestos contra o governo no Irã e alertou que o número de vítimas fatais pode ser ainda maior.

O governo iraniano não divulgou o número de pessoas presas, feridas ou mortas nos protestos iniciados na última sexta-feira, que se espalharam para mais de 100 cidades pelo país e cujo estopim foi um aumento de mais de 50% no preço da gasolina.

Teerã questionou os números divulgados pela AI, afirmando se tratar de "alegações sem fundamento e dados fabricados". A ONG, entretanto, disse que se baseia em "relatos confiáveis" e alertou que "o número real de mortos pode ser bem mais alto, com alguns relatos sugerindo que até 200 pessoas tenham sido mortas".

A Anistia disse que colheu dados de jornalistas e ativistas dos direitos humanos e que verificou as informações com fontes diferentes. "Imagens de vídeo mostram as forças de segurança utilizado armas de fogo, canhões de água e gás lacrimogêneo para dispersar os protestos e agredindo manifestantes com cassetetes", afirma a AI.

"Imagens de cartuchos de balas deixados pelo chão, além do alto número de mortos, indicam que eles usaram munições reais", diz a ONG. 

A AI menciona testemunhas oculares que corroboraram o que foi visto nas imagens de vídeo e afirma que atiradores de elite posicionados em telhados de edifícios e, em um dos casos, em um helicóptero, abriram fogo contra a multidão. Órgãos oficiais e semioficiais de imprensa contabilizaram apenas seis mortes até o momento.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnur) divulgou um comunicado expressando "profunda preocupação" com os relatos sobre a ação das forças de segurança nos protestos.

"Estamos especialmente alarmados com o uso de munição real contra os manifestantes, o que, supostamente, teria causado um número significativo de mortes pelo país", disse o porta-voz do Acnur, Rupert Colville, em nota.

Por sua vez, o porta-voz da missão do Irã na ONU, Alireza Miryousefi, disse que os dados sobre as mortes são "especulativos e não confiáveis, e em muitos casos, parte de uma campanha de desinformação realizada contra o Irã de fora do país", que ele atribui a "entidades ocidentais tendenciosas".

Manifestante mostra cartuchos de balas supostamente utilizadas pela polícia na repressão aos protestos no Irã
Manifestante mostra cartuchos de balas supostamente utilizadas pela polícia na repressão aos protestos no IrãFoto: picture-alliance/abaca/SalamPix

As autoridades iranianas bloquearam o acesso à internet no país de 80 milhões de habitantes, deixando a divulgação das informações nas mãos da imprensa estatal e autoridades do governo.

A televisão estatal mostrou imagens de Alcorões queimados em uma mesquita e manifestações pró-governo, como parte de um esforço para demonizar os protestos e demonstrar apoio por parte da população.

A imprensa estatal, entretanto, não mencionou o aumento da gasolina que gerou as manifestações em todo o país e se tornou mais um fardo pesado para os iranianos. A população sofre as consequências do colapso da moeda nacional, o rial, e do fracasso do acordo nuclear entre o país e potências internacionais (Alemanha, China, EUA, França, Reino Unido, Rússia e União Europeia), após os Estados Unidos decidirem abandonar o tratado e reimpor pesadas sanções econômicas ao Irã.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, assegurou que o aumento no preço da gasolina teria como objetivo fomentar novos subsídios que deveriam ser concedidos às famílias mais pobres do país. Mesmo assim, a decisão gerou uma onda de revolta em meio à população, no país que possui a quarta maior reserva de petróleo bruto do mundo.

Autoridades iranianas responsabilizam grupos "antirrevolucionários" de fora do país pelos protestos, como os descendentes e apoiadores do antigo xá Reza Pahlavi – deposto pela Revolução Islâmica em 1979 – e o grupo opositor Muyahidin Jalq. Os Estados Unidos, Israel e a Arábia Saudita também são acusados de estarem por trás dos distúrbios.

Nesta quarta-feira, Rohani declarou vitória sobre os protestos. "O povo iraniano mais uma vez saiu vitorioso em um teste histórico e demonstrou que não deixa que os inimigos se beneficiem da situação, mesmo que possam ter queixas sobre a administração do país", disse o presidente em pronunciamento transmitido pela emissora estatal Irib.

O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, disse nesta terça-feira que os protestos eram uma questão de segurança, e não um movimento popular, e que o governo teve êxito ao lidar com os distúrbios.

RC/afp/rtr

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