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Ano Mozart celebra o gênio em todas as suas facetas

(gr / av)1 de janeiro de 2006

2006 marca os 250 anos de nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart. Os eventos se espalham por toda a Europa, em especial nas principais estações de sua curta, porém intensa vida.

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Cartaz para o Festival Mozart 2006, em VienaFoto: AP

Em 27 de janeiro de 1756, nascia Wolfgang Amadeus Mozart na cidade austríaca de Salzburgo. Menino-prodígio musical, apesar de suas vitórias iniciais, faleceu na miséria, em 5 de dezembro de 1791, na capital Viena. Somente após a morte, foi reconhecido como um dos maiores gênios musicais de todos os tempos.

Mozart-Kugeln
Mozart-kugeln: chocolate, marzipã e muito maisFoto: dpa - Bildarchiv

Contudo, se pudesse receber os direitos autorais, não só pela execução constante de suas obras, como pelos subprodutos da moderna indústria de merchandising, ele seria miliardário. As doces e calóricas mozart-kugeln são apenas a variante mais inofensiva desse amplo potencial de consumo.

Explorando o gênio infantil

O gênio de Salzburgo é fonte infinita para todo tipo de especulação, de austeros tratados musicológicos plenos de revelações, a filmes, peças de radioteatro, livros policiais e romances semibiográficos.

O que está acima de dúvida é que, desde a mais tenra infância, Mozart revelou-se um talento fora do comum para a arte dos sons. Seus primeiros "garranchos" como compositor datam dos cinco anos de idade! Consta que aos sete já aprendera sozinho violino e órgão, escrevia sonatas para piano aos oito anos, e com 12 terminava sua primeira ópera.

Na qualidade de professor de violino, seu pai, Leopold, logo reconheceu o potencial financeiro desse talento, organizando para Wolfgang e a irmã Anna Maria apresentações na Áustria e em outros países da Europa.

Augsburg, a cidade do pai

Christkindlmarkt in Augsburg bei Nacht
Augsburgo à noiteFoto: Illuscope

As primeiras estações da turnê familiar foram Munique e Viena, seguidas de Augsburg e Frankfurt. Até 1766, a trupe já freqüentara as cortes e academias públicas de Paris, Londres e Haia, dentre outras metrópoles.

Como a cidade alemã de Augsburg foi o berço do patriarca Leopold, é justamente lá que se iniciará o Ano Mozart. Serão cerca de 80 eventos, sob o patronato do presidente da Alemanha, Horst Köhler.

Maio promete ser a época mais "quente" desse Festival Mozart: durante duas semanas completas serão apresentadas obras de Wolfgang e de Leopold, segundo as práticas históricas de interpretação.

Gênio irreconhecido

Mozart consta como um dos primeiros compositores independentes das cortes reais. Passada a primeira fase de menino-prodígio, ele teve que trabalhar duro para garantir sua subsistência.

Ainda adolescente, foi nomeado konzertmeister não remunerado da orquestra da corte de Salzburgo. Em agosto de 1777, pediu exoneração, candidatando-se em vão para um posto em Munique ou Mannheim. Tampouco em Paris conseguiu fincar pé, retornando no ano seguinte – após a morte de sua mãe, Anna Maria – à cidade natal, como organista da corte.

Mozart Salzburg
Praça Mozart, em SalzburgoFoto: dpa

Não sem motivo, Salzburgo é considerada a meca dos estudos mozartianos. Em 2006, numerosos projetos, oficinas e exposições conferirão um insight na vida, obra e personalidade desse gênio da música clássica. O diretor artístico do Festival de Salzburgo, Peter Ruzicka, incluiu todas as 22 óperas de Mozart na programação deste ano.

O fim na vala comum

Em 1782, Wolfgang desposou Konstanze Weber, e o casal se estabeleceu na capital austríaca. O compositor se mantinha às custas às aulas de piano que ministrava. E graças a uma certa predileção imperial.

O imperador Joseph 2º não só encomendou a ópera O rapto do Serralho, como apoiou a criação de As bodas de Fígaro. Esta se baseava numa explosiva peça de teatro de Beaumarchais, que, a rigor, fora banida por ordem imperial. Contudo, o público não estava à altura nem de sua complexidade musical, nem do conteúdo crítico da obra, e a situação de Mozart começou a declinar irreversivelmente.

Em 1787, ele recebeu o posto de compositor de câmara da corte vienense, porém o salário era ínfimo. A estréia de A flauta mágica, quatro anos mais tarde, foi um dos últimos êxitos do genial músico. Ele faleceu jovem, aos 35 anos, sem haver completado seu Réquiem, a missa dos mortos sobre texto latino.

Como a causa mortis nunca foi esclarecida, as especulações da posteridade vão de envenenamento a sífilis. Wolfgang Amadeus Mozart foi enterrado numa vala comum, no cemitério St. Marxer, em Viena, e que está sendo restaurada, para celebrar seu 250º aniversário.

Wolfi goes Hollywood

Wolfgang Amadeus Mozart
Wolfgang Amadeus MozartFoto: dpa - Bildfunk

Mozart compôs mais de 600 obras num curto espaço de tempo, que formam um repertório variadíssimo, que inclui sinfonias, concertos, sonatas, óperas, obras vocais sacras e profanas.

Hoje elas constituem patrimônio mundial, não diminuído pelas mais recentes pesquisas musicológicas. Estas revelaram que o gênio de Salzburgo não tinha pudores de tomar emprestadas melodias de seus contemporâneos, como Joseph Haydn.

Mas, independente do inestimável valor musical da obra mozartiana, a atual popularidade do compositor se deve, em boa parte, à celebrada peça teatral Amadeus, do britânico Peter Shaffer, e sobretudo à versão cinematográfica de Milos Forman, premiada com diversos Oscars.

Anjo, bon vivant e demônio

Amadeus representou, sobretudo, uma reviravolta na imagem pública do grande compositor. Lado a lado com o celestial menino-prodígio, tem-se que aceitar o garanhão sedutor, o caótico genial, o artista ávido de vida e o autor de cartas alegremente obscenas.

Essa correspondência nada celestial será lida, aliás, pelo ator e diretor austríaco Klaus Maria Brandauer, e irradiada ao longo dos 365 dias de 2006, pela emissora governamental alemã ARD.

E, como deixar de lado a pompa e circunstância, neste jubileu? Em 27 de janeiro, Viena celebra Mozart com uma festa monumental, estréias, concertos e transmissões de TV para o mundo inteiro.

Festeiro e bon vivant como era, Wolfi adoraria, sem dúvida, toda essa agitação.