Anti-semitismo vira tema eleitoral na Alemanha
6 de junho de 2002O presidente do Partido Liberal (FDP), Guido Westerwelle, quer transformar o FDP num partido de protesto, a fim de angariar votos de extremistas de esquerda e de direita: "Quem quiser manifestar suas frustrações através de um comportamento político construtivo é bem-vindo entre nós. Metade do eleitorado não vai às urnas. Isso não pode ficar assim", declarou o líder liberal à revista Stern.
Westerwelle pretende tornar o FDP "uma nova pátria democrática", "um partido para todo o povo". "O protesto contra o sistema político vigente não vem da extrema-direita, mas sim de um amplo espectro do centro", justificou o político liberal.
Partido de protesto divide alemães
De acordo com uma enquete da revista Stern, 46% dos alemães sentem falta de um partido que dê ouvidos a reivindicações não abordadas pelas grandes agremiações políticas, enquanto 49% não vêem necessidade na fundação de um partido de protesto. Quanto a uma possível mudança de perfil do Partido Liberal, 84% dos entrevistados preferem que o FDP se mantenha um clássico partido de centro; apenas 5% favorecem uma radicalização do populismo de direita entre os liberais.
"Haiderização" da política
"Não vamos permitir que se faça campanha eleitoral com anti-semitismo, mas com acusações de anti-semitismo também não", desabafou Guido Westerwelle num debate parlamentar de quarta-feira (5) sobre o tema. O presidente do Partido Liberal acusou o governo de instrumentalizar a polêmica nacional sobre o anti-semitismo como tática eleitoral contra os liberais.
O vice-líder da bancada social-democrata no parlamento, Michael Müller, refutou a acusação liberal de que o debate parlamentar sobre anti-semitismo fosse "mera campanha eleitoral". Para Müller, seria importante descobrir se o populismo de direita pode continuar sendo instrumentalizado como tática eleitoral e se o FDP pretende aceitar uma "haiderização", referindo-se ao político austríaco de extrema-direita Jörg Haider.
Anteriormente, social-democratas e verdes haviam declarado os liberais incapazes de governar. Para o chanceler federal Gerhard Schröder, o FDP deixou de ser uma força política a ser levada a sério. O chefe de governo advertiu os liberais para a escalada do debate sobre o anti-semitismo, que estaria ameaçando a imagem da Alemanha no exterior.
Os verdes, por sua vez, consideram Westerwelle cúmplice – e não vítima – do conflito, acusando-o de ter assistido passivamente à escalada de toda a discussão.
Ultimato à ovelha negra
Sob pressão dos partidos da coalizão, o presidente do Partido Liberal deu um ultimato a seu vice, Jürgen Möllemann, a fim de que o deputado Jamal Karsli seja excluído da bancada liberal do estado da Renânia do Norte-Vestfália até segunda-feira. O deputado de origem síria, que desencadeou uma polêmica nacional sobre anti-semitismo, após ter acusado Israel de "métodos nazistas" e se referido à "influência de um lobby sionista na mídia mundial", coopera com a bancada estadual com o respaldo de Möllemann.