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Canal do Panamá alarga acesso para faturar mais

Manuela Kasper-Claridge (md)19 de abril de 2014

Passagem de 80 quilômetros entre oceanos Atlântico e Pacífico é alargada para receber mais e maiores navios. Com maior projeto de construção da história panamenha, administradora da rota espera duplicar sua receita.

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Panama Kanal
Foto: DW/M. Kasper-Claridge

Os turistas americanos, que viajaram uma hora e meia de ônibus da Cidade do Panamá até Colón, estão maravilhados. De cima, podem ver a entrada do Canal do Panamá, em que está um dos maiores canteiros de obras do mundo. Enormes quantidades de terra e areia são escavadas e transportadas. Grandes muros, degraus e telas de arame dominam um cenário em que trabalhadores e guindastes parecem minúsculos.

As novas eclusas do Canal do Panamá, em Colón, terão 427 metros de comprimento e 55 metros de largura, o correspondente a quatro campos de futebol. Cerca de 30 milhões de metros cúbicos de terra foram removidos apenas para aprofundar e expandir a entrada do Atlântico, abrindo mais espaço para navios cargueiros e transportadores de contêineres – no momento, ainda grandes demais para a passagem entre os oceanos Pacífico e Atlântico. São os chamados "navios pós-Panamax", com mais de 294,3 metros de comprimento e 32,3 metros de largura.

Maior projeto panamenho

"A expansão vai possibilitar que navios maiores e mais modernos naveguem através do canal, pois há demanda nas Américas do Norte e do Sul", explicou Soren Skou, diretor executivo da empresa dinamarquesa Maersk, uma das maiores companhias de transporte de contêineres no mundo, em comentário recente para o Oxford Business Group. "Navios maiores reduzem custos, pelo menor consumo de combustível."

Os armadores estão interessados em enviar menos navios através dos oceanos, porém maiores. Em contrapartida, a Panama Canal Authority, sociedade que administra o canal, espera obter uma maior receita por embarcação.

Ela está investindo 5,3 bilhões de dólares na expansão da passagem e, logicamente, esperam que haja um retorno. Além de seus 10 mil funcionários, ela está empregando 30 mil trabalhadores adicionais nas obras. O novo Canal do Panamá é o maior projeto de construção na história do país. A empreitada é liderada pelo consórcio Grupo Unidos por El Canal, que inclui empresas de Espanha, Bélgica, Itália e, claro, Panamá.

Panamakanal Ausbau Bauarbeiten
Trabalhos de ampliação: funcionários e máquinas parecem minúsculos na paisagemFoto: picture alliance/AP Photo

Ceticismo da população

Na sede da Canal Authority, o clima é de comemoração. A fachada do edifício histórico está acabando de receber nova pintura. Por dentro, tudo foi cuidadosamente restaurado, mantendo o estilo original, com pisos de madeira escura e pinturas murais elaboradas.

Em agosto de 2014, serão comemorados os 100 anos do Canal do Panamá. "Esperamos que, no mínimo, haja uma duplicação da receita", comenta, confiante, o executivo Oscar Bazan, em entrevista à DW. Ele deixa claro que o canal também irá se beneficiar do boom de gás de xisto nos Estados Unidos. "Esse gás é transportado em navios, e esses navios vão passar pelo novo Canal do Panamá."

Ele ri quando é questionado se isso não seria perigoso. "É claro que vamos cumprir todas as normas internacionais para o transporte de mercadorias perigosas", garante. E acrescenta que está atualmente trabalhando numa nova estrutura tarifária e mantendo conversações com a indústria naval: mais tarde haverá uma audiência pública sobre as taxas. Bazan acentua que todos os panamenhos também vão ser beneficiados pelo aumento das receitas.

Entre a população, entretanto, o ceticismo é grande. "O canal é uma coisa boa, mas tornou-se importante demais, e as receitas não são distribuídas adequadamente", diz Franklin Morales, de 28 anos, funcionário de um escritório de advocacia. "Precisamos investir o dinheiro em educação e na juventude."

Na Cidade do Panamá, com seus arranha-céus e apartamentos de luxo, um quarto da população é pobre. E o canal ampliado provavelmente pouco irá mudar esse quadro.