Comandantes da PM prometem ao TSE eleições sem tumulto
25 de agosto de 2022Representantes do comando das polícias militares dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal participaram nesta quarta-feira (24) de reunião no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para discutir preocupações da Justiça Eleitoral em relação à segurança do pleito deste ano.
Chefe da PM de Rondônia, o coronel James Padilha declarou a jornalistas na saída do encontro que o tom dos chefes das polícias foi tranquilizador, e que "as tropas estão sob controle”.
"Cada um dos comandantes foi enfático e uníssono em externar que as tropas estão sob controle. Temos tropas ordeiras e disciplinadas", afirmou Padilha. Ele reforçou ainda que a hierarquia e a disciplina são dois pilares da corporação.
"Temos total isenção, imparcialidade e tranquilidade para dizer que estamos em condição de proporcionar toda a segurança e tranquilidade de que a população precisa para que ela possa exercer o seu livre arbítrio de escolher o candidato que ela entende que é o melhor para o seu estado, para a nossa nação", disse o coronel.
Convocada pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, a reunião em Brasília é considerada incomum, já que não ocorreu em pleitos anteriores. Para os comandantes, é um sinal de preocupação da Justiça Eleitoral com possíveis episódios de violência antes, durante ou depois das eleições, bem como eventuais desvios de comportamento de membros das tropas.
Há temores de que policiais militares, que este ano bateram recorde de candidaturas e são uma das bases de apoio do presidente Jair Bolsonaro, possam tumultuar as eleições, motivados por um alinhamento político-ideológico a algum candidato.
Em termos quantitativos, policiais militares estão entre as categorias mais bem representadas na disputa, com 832 nomes na campanha, ante 603 em 2018 – ficam atrás, somente, de empresários, advogados, políticos, administradores e comerciantes. Outra categoria relevante, os militares na ativa respondem por 62 candidaturas, e os reformados, por 248.
Segundo a Folha de S.Paulo, Moraes teria abordado durante a reunião o tema da restrição ao porte de armas no dia da votação, mas não se posicionou sobre o assunto, que ainda será decidido pelo tribunal.
Ainda segundo o jornal, um dos comandantes da tropa teria afirmado que os militares estão cientes de que haverá pessoas armadas nas eleições, mas que qualquer limitação ao porte de armas no dia da votação terá que levar em conta os profissionais de segurança – é comum que tanto a PM quanto as Forças Armadas deem apoio logístico e operacional à Justiça Eleitoral no dia do pleito.
Moraes assumiu o comando do TSE no último dia 16 e desde então já se reuniu com o presidente do Senado, o ministro da Defesa e o diretor-geral da PF.
Eleições polarizadas
O pleito deste ano deve ser um dos mais polarizados das últimas décadas no Brasil. Favorito ao Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém uma vantagem de entre 12 e 15 pontos nas pesquisas de intenção de voto em relação a Bolsonaro, que tenta a reeleição.
Em 2021, o Foro Brasileiro de Segurança Pública alertou para uma maior mobilização de membros das forças de segurança do Estado em redes digitais vinculadas a grupos de extrema direita simpáticos a Bolsonaro.
O próprio Bolsonaro, que é capitão da reserva do Exército, referiu-se várias vezes às eleições em tom belicoso, chegando a declarar que, se necessário, irá "à guerra” para defender "a liberdade" da sociedade ante a "ameaça" da esquerda.
Em um ataque indireto à Justiça e às instituições democráticas do Estado de Direito, o presidente também conclamou "civis e militares” contra "marginais” que agem de dentro de "gabinetes com ar-condicionado” contra "a nossa liberdade de expressão”.
A isso se soma uma agressiva campanha de desinformação contra o sistema eletrônico de votação – que é usado no Brasil desde 1996, foi codesenvolvido por militares e sob o qual até então não se teve notícia de fraude.
Segundo membros da oposição, essa cruzada contra as urnas eletrônicas, que conta com o respaldo de alguns setores das Forças Armadas e de grupos de extrema direita, pode ser uma estratégia de Bolsonaro para tentar garantir sua sobrevivência política e legitimar um golpe em caso de derrota eleitoral.
A movimentação tem sido condenada por diversos setores da sociedade. Recentemente, representantes da sociedade civil – de entidades patronais a sindicatos, passando por intelectuais e movimentos sociais – lançaram publicamente um manifesto que reuniu mais de meio milhão de assinaturas "em defesa da democracia”.
ra/lf (EFE, ABR, ots)