Aos 200 anos, Museu Städel é sinônimo de arte em Frankfurt
16 de março de 2015Por diversas vezes, Johann Wolfgang Goethe visitou a notável coleção de arte do banqueiro Johann Friedrich Städel. As quase 500 pinturas e inúmeros desenhos e gravuras eram apresentados em dois andares da casa na praça Rossmarkt, no centro em Frankfurt. Aos aficionados da arte era oferecida uma visita guiada pelo proprietário da coleção. Essa oferta também foi aceita por Johanna Schopenhauer, mãe do filósofo Arthur Schopenhauer. Ela visitou o colecionador quando ele já estava com mais de 80 anos, pouco antes de ele morrer, em 1816.
Städel fez questão de conduzir pessoalmente Johanna Schopenhauer pelos aposentos da casa. "Apesar da idade avançada, e de algumas queixas que ela acarreta, ele nos chamou a atenção para as suas excelentes pinturas, cuja visão parecia rejuvenescê-lo", escreveu a mãe do célebre filósofo sobre sua visita à casa do colecionador.
Com seu testamento, o banqueiro e comerciante de especiarias foi o primeiro representante da burguesia a fundar um museu público e uma academia de belas-artes numa região de língua alemã. Hoje, o Museu Städel de Frankfurt é uma das instituições culturais mais renomadas da Europa.
Convidado habitual
Goethe continua, por assim dizer, presente no museus de Frankfurt. O local abriga os dois retratos mais famosos do poeta, nascido na cidade. São eles o quadro do artista Johann Heinrich Wilhelm Tischbein, pintado em 1787 durante a viagem de Goethe a Roma, e a serigrafia executada por Andy Warhol.
A pintura de Tischbein, Goethe nos campos romanos, foi uma das muitas doações que o museu recebeu. Como fundação, o Städel depende dessas gentilezas. Isso nunca mudou. O diretor do Museu Städel, Max Hollein, é considerado um dos mais bem-sucedidos networkers, suas ideias atraem doações e empréstimos.
Hollein dirige o Städel desde 2006. Recentemente, renovou contrato até 2018. Ele sabe promover bem suas exposições, permitindo que padarias vendam "pão Städel" ou que mercados vendam impressões de alta qualidade de quadros do museu.
Ele também é um dos diretores menos convencionais da atualidade quando se trata de convencer museus ou colecionadores a emprestar suas obras. Uma vez, para uma exposição de Matisse, convenceu uma herdeira com uma sachertorte, uma torta de chocolate típica de Viena. Para a atual exposição, O nascimento do impressionismo, um copo de vinho aqui e outro ali ajudaram no sucesso das negociações, reconhece o diretor.
Monet e Van Gogh
Hollein segue uma longa tradição – já há centenas de anos é necessário se ajoelhar para obter empréstimos e doações. "Consegui entrar em contato com os últimos sobreviventes da pintura francesa do século 19, assim abriu-se a possibilidade [...] de obter algumas obras deles", escreveu em 1910 o então diretor do Museu Städel, Georg Swarzenski, ao prefeito de Frankfurt.
E ele tinha um trunfo na mão. "Eu já posso apresentar uma obra importante de Monet, cuja aquisição significaria um evento de primeira ordem e também receberia aplausos do público." Os seus pedidos foram atendidos, e ele pôde adquirir a pintura O almoço para o Städel. O quadro pertence até hoje ao museu e é um dos destaques da exposição sobre o Impressionismo.
Muitos quadros, no entanto, tiveram de deixar o museu. Em 1937, os nazistas confiscaram diversas obras que consideravam "degeneradas". A mais famosa é o Retrato do Dr. Gachet, pintada por Van Gogh e adquirida por Swarzenski em 1912. Ela foi vendida e mudou várias vezes de proprietário, até ser adquirida, por 82,5 milhões dólares, pelo japonês Saito Ryoei, num leilão em 1990. Ele morreu em 1996, e o quadro nunca mais foi exposto.
Sete séculos de história da arte
Städel possuía "somente" 1,3 milhão de florins, mas era um dos homens mais ricos de Frankfurt. O destaque de sua coleção era a pintura dos séculos 17 e 18. Hoje, o museu abrange 700 anos de história da arte. Além das muitas obras de velhos mestres e da modernidade clássica, desde 2012 a arte contemporânea também tem seu próprio espaço. Essa área de exposição se localiza numa ampliação, construída completamente sob o solo e iluminada por 195 claraboias.
Não somente em termos de espaço, mas principalmente a ampliação digital do museu é uma das conquistas de Hollein. Além de um app para celulares, ele também montou cursos de história da arte, que o museu oferece pela internet. E, pontualmente para o aniversário, o museu lança a sua coleção digital. Paulatinamente, a instituição pretende disponibilizar todo o seu acervo na web – na melhor tradição de um museu para os cidadãos fundado por Johann Friedrich Städel.