Apesar da proibição, discotecas ambulantes viram moda no Irã
22 de maio de 2013Para muitos jovens iranianos, o conceito discoteca é relacionado vagamente a um local escuro com música alta, pessoas dançando, muita bebida e cigarro. Isso porque a grande maioria deles nunca esteve numa discoteca, já que desde a República Islâmica foi instituída, em 1979, locais para baladas foram proibidos no país, assim como o consumo de bebidas alcoólicas.
O cotidiano no Irã é marcado por proibições e limitações impostas pelo Estado. Em locais públicos, mulheres precisam usar lenço na cabeça e um casacos longos e folgados. O contato corporal entre homens e mulheres é proibido fora do círculo familiar.
Além disso, desde que os países ocidentais impuseram sanções ao Irã, a situação econômica no país se agravou e a moeda se desvalorizou fortemente. Apesar de todas as adversidades, os iranianos não querem deixar de se divertir. E são bem criativos quando se trata de encontrar lacunas no sistema.
A discoteca ambulante
Uma estratégia para poder dançar é fazer uma viagem de ônibus, que no meio do caminho se transforma em discoteca. Independente de serem jovens ou pessoas mais velhas, quem deseja se divertir ou conhecer outros turistas faz uma excursão de ônibus no final de semana, explica o guia turístico Hamidreza Hashemi.
"Os iranianos têm uma mentalidade descontraída e gostam de andar em grupos grandes. Eles adoram festejar e ter contato com a natureza. As baladas móveis são tão populares por unirem tudo isso: música, dança, um clima alegre e passeios em áreas verdes", conta o guia.
O trajeto é o destino
Yalda, uma estudante de 26 anos de Teerã, já fez várias dessas excursões. Certa vez ela viajou em um ônibus de dois andares, com 68 amigos e conhecidos. Eles foram para Kashan, uma cidade que fica cerca de 200 quilômetros ao sul de Teerã.
"Foi uma viagem inesquecível. Nós nos divertimos o tempo todo. Nesses passeios, recarregarmos as energias e ficamos alegres por alguns dias", conta a estudante.
Para não levantar suspeitas entre policiais, cortinas são colocadas nas janelas dos ônibus. Então começa a festa, a dança toma conta do corredor e dos bancos. "Assim, pessoas se recuperam da vida estressante", conta Hashemi.
"Elas entendem a viagem de ônibus como um passeio em uma esfera privada, onde elas podem festejar sem serem controladas e sem regulamento. Muitos dizem que, ao chegarem ao destino da excursão e descerem do ônibus, elas voltam para o mundo real", diz o guia.
Controle da polícia
Os organizadores de excursões não gostam muito desse clima de festa entre os seus clientes. Os agentes de viagem muitas vezes acabam se tornam involuntariamente organizadores de passeios para balada. As autoridades responsabilizam com frequência a agência de viagem e o guia turístico por esses passeios, explica o chefe de uma agência de viagem, Ali Alipour.
Durante o trajeto, os passageiros não podem ficar totalmente despreocupados. Muitas vezes, a viagem chega ao fim antes do previsto, quando a polícia para a discoteca ambulante e exige satisfações dos participantes.
Nem sempre a viagem é despreocupada. "Frequentemente, somos advertidos por causa da roupa ou do comportamento dos nossos passageiros. Certa vez, nossos turistas foram impedidos de chegar a um ponto turístico e foram levados com o ônibus para a delegacia", conta Alipour.