Apesar de protestos, governo espanhol quer acirrar medidas de economia
29 de março de 2012Nesta sexta-feira (30/03), o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, pretende apresentar o projeto de orçamento para o próximo ano. Cortes acentuados estão garantidos, porque no ano passado a Espanha fez mais dívidas do que o planejado.
Por isso, a Comissão Europeia exige que o governo em Madri reduza o déficit de 8,5% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado para 3% até 2013. Rajoy falou da aprovação de um "orçamento bem enxugado". A declaração soa inócua diante do fato de os políticos conservadores pretenderem economizar cerca de 60 bilhões de euros nos próximos dois anos.
Apertar ainda mais o cinto
Pelo menos 35 bilhões de euros deverão ser economizados no orçamento de 2012, através do aumento de impostos, reduções salariais e cortes no serviço público. Isso representa apenas um pouco mais da metade da meta de saneamento orçamentário. Funcionários públicos e contribuintes devem se preparar para apertar ainda mais o cinto.
Como primeira reação, os sindicatos convocaram para esta quinta-feira uma paralisação geral de 24 horas. Milhares de pessoas atenderam ao apelo dos sindicatos e cruzaram os braços. Houve prisões e diversos feridos nos confrontos entre polícia e manifestantes. Os protestos acontecem 100 dias após a subida ao poder do premiê conservador Mariano Rajoy. A última greve geral na Espanha aconteceu em 29 de setembro de 2010.
Muito está em jogo. Caso a quarta economia da zona do euro não consiga reduzir suas dívidas, paira a ameaça de a crise ficar fora de controle.
Medo do declínio social
Os cortes orçamentários fazem parte de um abrangente pacote de reformas, que representa uma dura prova para a paz social do país. Há poucas semanas, milhares de pessoas voltaram às ruas para protestarem várias cidades espanholas. Se em manifestações anteriores os espanhóis se comportaram disciplinadamente, dessa vez houve tumultos violentos em Barcelona e Valência.
Esses são os sinais de que o medo de um declínio social e econômico tomou conta de grande parte da população e de que a "reforma extremamente agressiva", como a classifica abertamente o ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos, modifica aos poucos a estrutura social do país.
O cerne do programa de reformas está nas mudanças drásticas no mercado de trabalho. Estas incluem demissões mais rápidas e maior flexibilidade para as empresas. Nos setores de educação e saúde foram cortados tantos postos de trabalho quanto nas empresas públicas. Após a reforma, os trabalhadores recebem somente 33 dias de salário por cada ano que trabalharam na empresa, e não mais 45. Empresas particularmente afetadas pagam somente 20 dias por ano.
Além disso, estão planejados incentivos fiscais a empresas que criem empregos e um estágio probatório de um ano, durante o qual o empregado pode ser demitido sem direito a indenização.
"Uma encruzilhada diabólica"
Ao anunciar o programa de reformas, De Guindos salientou que devem ser criados empregos sobretudo para os jovens. Mas, especialmente estas, como universitários e alunos do ensino médio, são os que protestam contra os novos planos. Apesar de todas as críticas e incertezas, o governo espanhol terá de se ater ao seu programa de austeridade econômica. Caso contrário, Madri colocaria em risco sua credibilidade junto à União Europeia e aos mercados financeiros.
Atualmente, até mesmos órgãos da mídia acostumados a emitir opiniões positivas estão desconsolados. Assim, em editorial, o jornal El País escreve: "Não há na recente história econômica nada semelhante. A Espanha se encontra em uma encruzilhada diabólica: o enorme déficit torna indispensáveis as medidas de contenção de gastos. No entanto, elas agravam ainda mais a situação econômica já fragilizada. Segundo especialistas, a Espanha não vai conseguir cumprir os requisitos, caso não ganhe mais tempo."
Maior taxa de desemprego na UE
Há apenas alguns anos, a Espanha era considerada um país turístico em expansão. Mas, em seguida, estourou a bolha do mercado imobiliário e a economia decaiu. O país ainda não conseguiu se recuperar do golpe. Ele se encontra numa crise profunda devido às milhares de firmas que foram à falência.
Com um nível recorde de 23% de desempregados (5,3 milhões de pessoas), o Reino de Espanha é o país com a maior taxa de desemprego da UE. Entre os menores de 25 anos, essa taxa atinge quase 50%. E a tendência é de aumento.
O país agora paga o preço de ter apostado, durante muito tempo, em hotéis localizados em balneários abarrotados de edifícios e em empregos de baixos salários no setor de gastronomia, em vez de ter investido na pesquisa e desenvolvimento ou na educação de qualidade da geração mais jovem. Não é nenhuma surpresa que, nos últimos meses, cada vez mais jovens espanhóis tentam a sorte no exterior.
Autor: Ralf Bosen (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer