Apesar de tragédia, um recomeço na Alemanha
1 de julho de 2021A família da brasileira Christiane H., morta num atentado a faca na cidade de Würzburg, na Baviera, se prepara para se estabelecer definitivamente na Alemanha mesmo após a tragédia que tirou a vida da professora de 49 anos e deixou a filha dela, de 11 anos, gravemente ferida.
"Não vamos deixar para trás todo o pioneirismo da minha mãe, tudo o que ela já tinha feito para que nossa família se estabelecesse na Alemanha", conta o filho András, de 20 anos, que em breve deve viajar para o país europeu com o pai para encontrar a irmã mais nova, que se recupera do ataque. A família, porém, reclama da falta de auxílio do governo brasileiro.
Na sexta-feira passada (25/06), um homem de 24 anos originário da Somália atacou com uma faca pessoas num centro comercial em Würzburg, a cerca de 120 quilômetros de Frankfurt, matando três mulheres, entre elas Christiane, e ferindo outras sete pessoas, entre elas a filha da brasileira.
As motivações do atentado ainda não estão claras, segundo as autoridades alemãs, que investigam um possível ato terrorista bem como um histórico de transtornos mentais do autor do atentado.
Christiane havia se mudado no fim de janeiro com a filha para a Alemanha. A intenção era arrumar um emprego e se estabelecer em definitivo na Baviera, onde a família, de origem alemã, tem parentes. O marido e András viriam em seguida.
No Brasil, a família mora num sítio na zona norte da cidade de São Paulo, que já foi invadido várias vezes. Diante da violência e, segundo András, "por negligência do Poder Judiciário", a saída encontrada foi recomeçar a vida na Alemanha, já que Christiane e os dois filhos são cidadãos alemães. Os pais de Christiane nasceram na Alemanha e vivem no Brasil, para onde se mudaram no século passado.
Christiane escolheu Würzburg para se estabelecer por ser uma cidade tranquila do interior. "Ela se mudou para Alemanha porque, em tese, é um país mais seguro que o Brasil", explica o filho.
No Brasil, Christiane era professora de artes numa escola particular de São Paulo. O plano dela era começar em breve a dar aulas na Alemanha, já que falava alemão com fluência. A filha já frequenta uma escola em Würzburg e domina o idioma alemão.
Críticas ao Itamaraty
András diz que soube da tragédia por meio de um telefonema do Itamaraty, com poucas informações. Os pais de Christiane, já idosos e debilitados, não receberam nenhum contato, seja do governo alemão, seja do brasileiro, e foram informados pela própria família do ocorrido.
András conta que, no dia seguinte, o pai tentou contato com o Itamaraty, em busca de mais esclarecimentos, mas diz que o Ministério das Relações Exteriores não prestou qualquer apoio à família. "O que eles disseram é que não poderiam fazer nada para nos ajudar", diz.
Horas depois, a família recebeu um telefonema do Itamaraty prometendo que ajudariam no que pudessem – porém, segundo András, este foi o último contato por parte das autoridades brasileiras.
Em nota divulgada à imprensa, o Itamaraty comunicou que, "por meio do Consulado-Geral do Brasil em Munique, está em contato com a família da cidadã e com as autoridades policiais locais, e tem prestado a assistência cabível".
Questionado pela DW, o Consulado do Brasil em Munique, que atende a região de Würzburg, comunicou que está prestando todo o auxílio documental, logístico, psicológico e legal possível, mediante solicitação do marido da vítima e pai da criança ferida, e acrescentou que se colocou à disposição do cônjuge e do filho da vítima para ajudá-los tão logo cheguem à Alemanha, por exemplo com emissão de atestados e, se necessário, apoio jurídico.
Sem falar alemão
Outra dificuldade enfrentada pela família de Christiane está sendo o contato com os órgãos alemães, já que as informações são fornecidas somente em alemão e, em parte, em inglês.
"Ligaram para o meu pai e perguntaram se ele falava alemão. Ele disse que não, então disseram que tudo bem, pois a polícia alemã fala inglês. Só que meu pai não fala inglês, e eu ainda estou aprendendo alemão", conta András.
Por essa razão a maior parte do contato com as autoridades está sendo feita pelos irmãos de Christiane na Alemanha. Eles disseram à András que ele e o pai receberão todo auxílio necessário das autoridades alemãs quando chegarem ao país.
Apoio à menina ferida
A menina que foi ferida no atentado passa bem e está sob a tutela do governo alemão até a chegada do irmão e do pai. Ela está recebendo apoio psicológico. A família no Brasil mantém contato frequente com ela.
Por enquanto, a família prefere não se manifestar sobre os detalhes do crime. "Tudo ainda está muito confuso. Só saberemos o que realmente aconteceu quando chegarmos à Alemanha", comenta András.
"O que queremos agora é prestar apoio para minha irmã, ampará-la", diz o jovem, que ressalta, porém, que a menina está sendo muito bem cuidada pelos tios.