Apoio de Marina pode não ser decisivo, dizem analistas
13 de outubro de 2014A cobiçada declaração de apoio de Marina Silva, que obteve mais de 22 milhões de votos (21%) no primeiro turno, pode não ser tão determinante para o resultado da disputa entre Dilma Rousseff e Aécio Neves.
Segundo analistas políticos ouvidos pela DW Brasil, a ambientalista tem um eleitorado diversificado e de comportamento imprevisível. Para eles, a declaração de apoio a Aécio, anunciada no domingo (12/10), não significará necessariamente uma transferência automática dos votos.
Os candidatos Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV), que receberam menos de 1% dos votos cada, também declararam estarem com o tucano no segundo turno.
Conta complexa
De acordo com o cientista político Pedro Fassoni Arruda, da PUC-SP, não existe transferência automática de votos, e a conta é complexa. Para ele, nem todos os eleitores seguem a orientação dada pelo candidato. E Marina não deve subir no palanque, nem pedir abertamente votos para o tucano na TV.
“Um apoio tímido como esse transfere menos votos que uma declaração explícita”, diz Arruda. “Um exemplo é Lula. Mesmo com o apoio do ex-presidente e a forte possibilidade de transferência de votos, o candidato petista ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, perdeu em redutos importantes do PT no estado.”
Para o cientista político Oswaldo Dehon, do Ibmec/MG, Marina tem um importante capital político, mas, pelo fato de não estar fundada em estruturas partidárias e movimentos sociais sólidos, ela perde parte de seu potencial de transferência de votos.
“Falta a ela uma institucionalização do ponto de vista de militância ou de articulação partidária. Isso tira dela um papel mais destacado nos momentos fora das eleições”, diz Dehon. “Por isso, ela não deve transferir de forma unidirecional os votos que teve no primeiro turno.”
Dehon não descarta que os 22 milhões de votos acabem divididos meio a meio entre os dois candidatos finalistas. Já Arruda aposta que 60% dos eleitores de Marina devem votar em Aécio, e 25%, em Dilma. O resto, segundo ele, ficaria dividido entre indecisos, branco e nulo.
Os riscos da neutralidade
Segundo analistas, manter-se neutra na disputa do segundo turno seria essa a postura mais coerente para quem afirma ser representante da "nova política" e diz querer quebrar a polarização entre PT e PSDB.
Para o cientista político Rodrigo Prando, do Mackenzie, se escolhesse a neutralidade, Marina poderia reafirmar algo que muito foi dito sobre seu estilo de liderança: que ela seria personalista – foi do PT, depois se filiou ao PV, tentou fundar a Rede Sustentabilidade e, por fim, parou no PSB.
“Para seus críticos, isso é uma busca do poder não importando as convicções”, afirma Prando. “A neutralidade poderia significar a manutenção da coerência – da nova política e contrária à polarização vigente. Ou que a candidata tem um projeto de poder pessoal e não um projeto para o Brasil.”
Apoiar a campanha do PSDB no segundo turno seria, porém, um risco calculado, segundo observadores. A opção pela neutralidade poderia relegar Marina a um segundo plano na cena política brasileira.
Além disso, entre Aécio e Dilma, é o tucano que tem programa de governo mais parecido com o de Marina, com defesas da manutenção das políticas sociais petistas e elogios à política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso.
Nas eleições de 2010, Marina, então candidata do Partido Verde, teve também cerca de 20% dos votos e ficou em terceiro lugar. No segundo turno, porém, optou pela neutralidade, não apoiando nem Dilma nem o então candidato José Serra (PSDB).