Apps ajudam quem quer deixar o carro em casa em cidades brasileiras
19 de março de 2014"Cadê o ônibus?" ganhou fama rápida entre os usuários do transporte público de São Paulo. O aplicativo monitora, diariamente, mais de 15 mil ônibus das linhas municipais da capital paulista. Em tempo real, o app fornece informações como horários, linhas, datas, rotas, pontos de ônibus, condições do trânsito e localização atual.
Mais de 150 mil usuários já baixaram o app que ajuda a planejar o deslocamento dos mais de 11 milhões de moradores da cidade. "A ideia nasceu da vontade de aprender a desenvolver aplicativos para celular. Nós todos utilizamos o transporte público, e isso se tornou a nossa principal inspiração na criação do app", diz Luiz Oliveira, da Nano IT, em entrevista para a DW Brasil.
Luiz faz parte do grupo de quatro amigos que deciciu fundar a Nano IT por causa de uma competição organizada pela prefeitura de São Paulo, a Hackatona do Ônibus, em dezembro de 2013. Eles venceram o desafio, que contou com outros 15 concorrentes, e tinha o objetivo de melhorar o acesso à informação, à inovação tecnológica e incentivar a participação social nas políticas públicas na cidade.
Atualmente, o aplicativo monitora somente a cidade de São Paulo com auxílio das empresas de transporte público SPTrans e EMTU. A equipe Nano IT quer levar o app a outras regiões brasileiras. No entanto, as cidades precisariam investir mais no acesso à informação dos transportes públicos, argumenta a equipe.
Para uma metrópole com sérios problemas de mobilidade, como a capital paulista, a tecnologia deve ser vista como uma aliada, afirmam especialistas. "Essa fórmula é válida para qualquer cidade que já tenha congestionamento ou virá a ter em curto prazo. Tudo o que vier a facilitar o uso do transporte público para seus usuários deve ser incentivado e prestigiado", defende Luiz Célio Bottura, consultor de engenharia urbana e transporte e professor da Universidade de São Paulo (USP).
Por outro lado, a iniciativa estaria longe de trazer uma melhoria de fato ao transporte público. "Até porque o mais importante é a chegada do veículo no horário na estação de embarque e sua fluidez ao longo do percurso", aponta Bottura.
Pegando carona
Outro aplicativo que se propõe a ajudar o trânsito das cidades brasileiras é o Zaznu. O app é usado no Rio de Janeiro, é uma espécie de rede social que oferece caronas aos seus usuários. Apps similares já fazem sucesso na Europa e nos Estados Unidos.
"Após um jantar com meu pai, ele resolveu chamar um táxi pelo seu smartphone. Naquele momento, eu contei que utilizava um aplicativo de caronas em vez de chamar um táxi em São Francisco (EUA). Durante essa conversa, eu percebi uma oportunidade de desenvolver a Zaznu", afirma Yonathan Yuri Farbe, fundador da empresa.
Para usar os serviços, o usuário faz o cadastro e seleciona o seu destino e, em seguida recebe várias sugestões na tela do smartphone. A partir daí, o motorista selecionado – já cadastrado para dar caronas - decidirá se aceita ou não a corrida através de avaliações feitas por outros usuários.
O valor da carona é definido antes da viagem e pago pelo usuário ao motorista. O sistema usa a tabela de preço dos táxis como referência. A empresa criadora do app fica com 20% do valor recebido pelo motorista.
"O nosso objetivo é melhorar a forma como as pessoas se locomovem e utilizam os seus carros. Por outro lado, buscamos pessoas interessantes que queiram compartilhar seu carro, reduzindo assim o número de veículos na rua e o volume de poluição despejada na atmosfera", acrescentou Farbe.
O engenheiro Luiz Célio Bottura também aprova essa ideia. "Cada pequena parcela que uma iniciativa como essa promove ajuda a eliminar um pequeno problema. Na somatória geral, pode ter alguma significância. Essas iniciativas são louváveis, mas aplicadas somente a uma minoria", afirma.
Para oferecer caronas no Zaznu, os motoristas devem passar por uma seleção que conta com verificação de antecedentes criminais, teste psicológico e entrevista pessoal. Entre as exigências, o candidato deve ter um carro quatro portas em boas condições. No momento, o Zaznu está disponível só no Rio de Janeiro e será lançado em São Paulo no próximo mês. Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e demais capitais brasileiras também devem ganhar versões.
Descobrindo saídas
De acordo com dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, a cidade possui em média um congestionamento diário de 84 quilômetros no horário de pico. Diariamente, são cerca de 7,5 milhões de veículos (entre ônibus, carros, caminhões e motos) nas ruas da capital.
A mudança de hábito da população das grandes cidades – trocando seus carros pelo transporte públicos ou por meio de caronas – pode ajudar a amenizar essa realidade. Mas está muito longe de resolver os problemas do trânsito brasileiro, opinam especialistas consultados pela DW Brasil.
Bottura calcula que existam cerca de 1000 pontos na capital paulista onde, quase todos os dias, se formam congestionamentos. "Primeiro temos de ter certeza de quais são e quais as razões de ter inicio da obstrução de tráfego, fazer uma lista de prioridade e já começar a intervir nos pontos mais óbvios", acrescenta o engenheiro da USP.
A intervenção nesses pontos de conflito contaria com ações como ajustes nos ciclos dos semáforos, melhoria geométrica, ou até pequenas intervenções de desnivelamento o fluxo – de preferência por baixo dos eixos existente. "Em alguns casos, só uma das hipóteses já eliminaria o conflito", garante Bottura.