Análise
8 de abril de 2009Oficialmente, o governo dos Estados Unidos nem sequer analisa a possibilidade de suspender o embargo comercial decretado há décadas contra Cuba. O vice-presidente norte-americano, Joe Biden, deixou isso claro no final de março, durante sua participação na cúpula de líderes progressistas realizada no balneário chileno de Viña del Mar. Mas isso não significa que não existam sinais de aproximação entre os dois países, como – por exemplo – a visita de sete deputados norte-americanos do Bloco Parlamentar Negro (Congressional Black Caucus) a Havana, há poucos dias.
O fato de que os parlamentares da ala mais progressista do Partido Democrata tenham sido recebidos por Raúl e Fidel Castro prova o interesse que a viagem despertou nas altas esferas políticas cubanas. O próprio Fidel abordou amplamente o assunto em seu comunicado mais recente, publicado no diário oficial Granma, o que também indica a intenção da cúpula cubana de divulgar ao máximo o encontro bilateral.
Anteriormente, Castro havia escrito que Cuba não teme o diálogo com os Estados Unidos e que a revolução "não precisa de confronto para existir". Como no diálogo com a União Europeia, o presidente Raúl Castro repetiu, na frente dos sete visitantes norte-americanos, que Cuba está disposta a dialogar sobre qualquer assunto com os Estados Unidos, sob a condição de que se respeite seu direito de autodeterminação.
O que ocorrera antes havia sido interpretado como uma busca de novos canais de comunicação com Washington por parte do regime cubano. Vendo desta forma, o caminho parece conduzir a uma aproximação entre Cuba e os Estados Unidos. Mas a reconciliação, caso se concretize, não será imediata nem fácil.
As palavras de Biden no Chile não deixam dúvidas quanto à postura atual do presidente Obama: o embargo norte-americano contra Cuba não será suspenso de imediato. Os Estados Unidos consideram que, do lado cubano, não foram feitas mudanças substanciais em relação às liberdades dos cidadãos e aos direitos humanos, segundo as palavras de Biden em Viña del Mar.
Isso também pode ter razões político-eleitorais. Um dos deputados norte-americanos citados por Fidel afirmou que o novo governante norte-americano não pode eliminar as sanções, porque isso lhe custaria a reeleição.
Visto desta forma, o balanço da visita é outro: as relações bilaterais entre Cuba e os Estados Unidos aparecem pouco a pouco como um dos temas mais sensíveis na agenda de ambas as nações em matéria de política exterior.
A presença de Barack Obama abriu possibilidades reconhecidas tanto por Washington quanto por Havana. Mas o intercâmbio parece se encontrar numa fase preliminar e ocorre com a maior cautela. Afinal, por detrás deste lento avanço há meio século de muita desconfiança.
Autor: Enrique López Magallón
Revisão: Simone Lopes