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Arábia Saudita confirma morte de Jamal Khashoggi

20 de outubro de 2018

Procurador-geral saudita afirma que, segundo investigações, jornalista dissidente morreu após briga dentro do consulado do país em Istambul. Apurações seguem, e 18 suspeitos já foram presos. Autoridades são demitidas.

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O jornalista saudita Jamal Khashoggi, em foto de janeiro de 2011
Khashoggi está desaparecido desde 2 de outubro, quando entrou no consulado saudita em IstambulFoto: picture-alliance/AP Photo/V. Mayo

A Arábia Saudita confirmou na noite desta sexta-feira (19/10) a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi, visto pela última vez ao entrar no consulado de seu país em Istambul no dia 2 de outubro. O caso gerou clamor internacional e criou tensões entre Riad e o Ocidente.

O anúncio foi feito na imprensa estatal saudita, mencionando os resultados preliminares de uma investigação oficial em curso no país árabe. O jornalista era conhecido por suas críticas à família real e ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Em declaração, o procurador-geral saudita afirmou que a morte de Khashoggi foi ocasionada por uma briga entre ele e pessoas com quem ele se reuniu no consulado saudita na Turquia.

"Uma discussão entre Jamal Khashoggi e aqueles com quem ele se encontrou no consulado do reino em Istambul se transformou em uma briga corporal, levando à sua morte", diz a declaração do procurador-geral veiculada na mídia estatal.

É a primeira vez que o país admite a morte de Khashoggi, já especulada por outros países. A Turquia, por exemplo, já havia sugerido que o dissidente foi morto dentro do edifício do consulado. Riad, por sua vez, negou as alegações anteriormente, afirmando que Khashoggi deixara o prédio.

"As investigações ainda estão em curso, e 18 cidadãos sauditas já foram presos", acrescentaram as autoridades sauditas na declaração desta sexta-feira.

Riad informou ainda que, diante do escândalo, o conselheiro da corte real, Saud al-Qahtani, e o vice-chefe de inteligência do país, Ahmed Asiri, foram demitidos de seus cargos.

Além disso, o rei Salman ordenou a formação de um comitê ministerial, sob comando do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, para reestruturar a agência geral de inteligência saudita, informou a imprensa estatal do país.

O comitê incluirá os ministros do Interior e do Exterior, o chefe da agência de inteligência e o chefe de segurança doméstica. Segundo a ordem do rei, o grupo deve se reportar a ele dentro de um mês.

O caso Khashoggi

Khashoggi foi ao consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro para providenciar a documentação necessária para seu casamento com a turca Hatice Cengiz. Após sete horas e meia sem notícias de seu noivo, Cengiz informou a polícia turca. Os investigadores analisaram vídeos filmados no entorno do prédio do consulado e abriram uma investigação oficial.

Segundo a agência de notícias Associated Press, fontes turcas afirmaram temer que agentes sauditas de um comando especial que se deslocou a Istambul tenham assassinado e esquartejado Khashoggi, que teria ainda sido alvo de tortura.

Policiais turcos disseram à agência Reuters que 15 agentes sauditas chegaram a Istambul em dois aviões no dia em que Khashoggi foi ao consulado. Segundo o jornal turco conservador e pró-governo Yeni Safak, eles visitaram o consulado enquanto o jornalista ainda estava dentro do edifício, e deixaram o país pouco tempo depois de seu desaparecimento.

O caso gerou repercussão internacional e elevou as tensões entre a Arábia Saudita e o Ocidente. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou que o caso terá duras consequências para Riad, caso as autoridades do país estejam envolvidas na morte do dissidente.

Enquanto isso, uma série de executivos e altos funcionários governamentais cancelaram nesta quinta-feira sua participação numa conferência de investidores na Arábia Saudita, incluindo três ministros europeus e o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin.

Quem é Jamal Khashoggi?

O jornalista saudita se tornou conhecido por seus artigos publicados em veículos em inglês sobre o mundo árabe e, especialmente, sobre a Arábia Saudita. No país árabe, Khashoggi trabalhou como jornalista durante muito tempo e chegou a ser assessor de um ex-chefe do serviço secreto, o príncipe Turki al-Faisal.

Devido às críticas à família real e ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o jornalista temia ser preso e, no ano passado, se mudou para os Estados Unidos.

Ele escreveu artigos de opinião e colunas para o Washington Post. Em setembro do ano passado, Khashoggi explicou num artigo: "Abandonei minha casa, minha família e meu trabalho e estou erguendo a minha voz. Agir de outra forma significaria trair a todos aqueles que estão na prisão. Enquanto muitos não podem falar, eu posso".

EK/afp/ap/dpa/rtr/dw

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