Armênios de Nagorno-Karabakh dissolvem governo separatista
28 de setembro de 2023A liderança armênia do enclave de Nagorno-Karabakh anunciou nesta quinta-feira (28/09) a dissolução do Estado separatista, após três décadas de conflitos com o Azerbaijão. O anúncio ocorre enquanto prossegue a fuga da população local. Segundo o governo da vizinha Armênia, mais da metade da população de Nagorno-Karabakh fugiu desde que o Azerbaijão lançou uma bem-sucedida ofensiva relâmpago na semana passada.
“68.386 pessoas deslocadas à força de Nagorno-Karabakh chegaram à Armênia”, escreveu Nazeli Baghdasarian, porta-voz do primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, em sua conta na rede social Facebook.
Pashinyan, por sua vez, afirmou que nos próximos dias não haverá mais armênios em Nagorno-Karabakh e denunciou que está sendo promovida uma “limpeza étnica” na autoproclamada república, agora dissolvida. Por décadas, a Armênia forneceu apoio aos separatistas de Nagorno-Karabakh.
"O êxodo de armênios de Nagorno-Karabakh continua como resultado da política de limpeza étnica levada a cabo pelo Azerbaijão", afirmou Pashinyan durante um encontro com membros do governo, citado pela agência oficial Armenpress.
Segundo o primeiro-ministro, "a análise mostra que nos próximos dias não haverá mais armênios em Nagorno-Karabakh". "Esta é uma ação direta de limpeza étnica sobre a qual alertamos a comunidade internacional há muito tempo", acrescentou.
Imagens da televisão armênia mostram longas filas de carros na estrada que leva ao centro humanitário na pequena cidade fronteiriça de Kornidzor.
Dissolução e fuga
Na quarta-feira, os serviços de segurança do Azerbaijão detiveram na fronteira dois ex-funcionários de alto escalão da autoproclamada república de Nagorno-Karabakh (Artsakh, para os armênios).
O ex-ministro de Estado Rubén Vardianian e o ex-chefe do Conselho de Segurança Vitali Balasanian foram detidos quando tentavam partir para a Armênia.
Após as prisões e a derrota para as tropas do Azerbaijão, a liderança separatista afirmou que a autodeclarada República de Artsakh "deixaria de existir" em 1º de janeiro, o que equivaleu a uma capitulação formal para o Azerbaijão.
Para o Azerbaijão e seu presidente, Ilham Aliyev, o resultado é uma restauração triunfante da soberania sobre uma área que é reconhecida internacionalmente como parte de seu território, mas cuja maioria étnica armênia conquistou a independência de facto em uma guerra na década de 1990.
Para os armênios, é uma derrota e uma tragédia nacional.
O Azerbaijão vem negando a acusação de limpeza étnica, dizendo que não está forçando as pessoas a saírem e que irá reintegrar pacificamente a região de Nagorno-Karabakh e garantir os direitos civis dos armênios étnicos.
Os armênios da região dizem que não confiam nessa promessa, lembrando-se de uma longa história de derramamento de sangue entre os dois lados, incluindo duas guerras desde a dissolução da União Soviética. Durante dias, eles têm fugido em massa pela estrada montanhosa que atravessa o Azerbaijão e liga Nagorno-Karabakh à Armênia.
Os Estados Unidos e outros governos ocidentais têm expressado sua preocupação com a crise humanitária e exigido o acesso de observadores internacionais para monitorar o tratamento dado pelo Azerbaijão à população local.
Embora tenha dito que não tinha problemas com os armênios comuns de Nagorno-Karabakh, Aliyev na semana passada descreveu seus líderes como uma "junta criminosa" que seria levada à justiça.
Muitos dos armênios que fugiram nesta semana em carros, caminhões, ônibus e até mesmo tratores carregados de peso disseram que estavam com fome e com medo.
"Esta é uma das páginas mais sombrias da história da Armênia", disse o padre David, um sacerdote armênio de 33 anos que foi à fronteira para dar apoio espiritual aos que chegavam. "Toda a história da Armênia é cheia de dificuldades."
jps (Reuters, EFE)