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Darwin e a arte

4 de maio de 2009

Arte reflete quão diversas foram as reações à teoria de Darwin. Jornais da época também documentaram como artistas e sociedade discutiram Teoria da Evolução.

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Macacos como juízes de arte, de Gabriel von MaxFoto: Martin Hahn Foto Design 2009

O pintor, professor de Arte e colecionador apaixonado Gabriel von Max (1840-1915) é típico de uma época em que arte e ciência estavam bem próximas. Os macacos o fascinavam de modo especial: durante uma época, ele manteve todo um bando deles em sua casa de verão, observava-os, retratava-os, dissecava os que morriam.

Seus quadros mostram os animais em papéis humanos, ao piano, lendo, como trupe de teatro, juízes de arte diante de uma pintura. Ele foi um dos muitos artistas que se inspiraram nas pesquisas do biólogo inglês Charles Darwin (1809-1882).

A beleza da natureza

Max Hollein, diretor da Kunsthalle Schirn, de Frankfurt, onde recentemente foi realizada uma exposição sobre Darwin e a arte, acha que a reação da arte à divulgação do darwinismo foi relativamente pouco observada até hoje.

A mostra documentou quão diversas foram essas reações. Durante longos anos, o norte-americano Martin Johnson Heade esteve esquecido, somente agora são relembrados seus magníficos estudos de plantas e animais.

Martin Johnson Heade Passionsblumen und Kolibris
Flores-da-paixão e colibris, de Martin Johnson HeadeFoto: Museum of Fine Arts, Boston

Em contraste, a ricamente ilustrada Tierleben (Vida dos animais) de Alfred Brehm (1829-1884), é um clássico nas estantes alemãs, desde 1863 e pelo século 20 adentro. O zoólogo e escritor se correspondia com Darwin.

Ernst Haeckel (1834-1919), cientista e talentoso desenhista ao mesmo tempo, foi um dos pioneiros da Teoria da Evolução das Espécies na Alemanha, tendo escrito numerosos livros e artigos. Com seus quadros – paisagens tropicais e cascatas, mas também a filigrana da fauna marinha e plantas reproduzidas com minúcia – ele desejava revelar ao espectador as belezas da natureza.

Metamorfose e morte

Outros pintores mostraram, antes, a devastação e a luta pela sobrevivência. Entre eles, esteve Alfred Kubin (1877-1959), autor de romances fantásticos e desenhista do abismal, demoníaco. Para ele, o ser humano é presa de uma natureza prepotente, ameaçadora.

Haeckel Ernst Kunstformen der Natur Tafel 1 Darwin Ausstellung Frankfurt Schirn
Formas artísticas da natureza, de Ernst HaeckelFoto: Ernst-Haeckel-Archiv, Uni Jena

O simbolista francês Odilon Redon (1840-1916) retratou seres andróginos, que dão calafrios. Max Ernst (1891-1976) mostrou clima de fim de mundo, deterioração, paisagens destruídas. Segundo Pamela Kort, que foi a curadora da mostra na Kunsthalle Schirn, é justamente esse motivo que une artistas, de resto, tão diversos.

Segundo ela, as obras expostas retrataram seres híbridos, mistos. Seu tema não teriam sido também as metamorfoses? "A metamorfose é um processo que vem acompanhado pela morte. Uma pintura que tematize a evolução se ocupa de coisas em extinção, que deixam de ser. E é isto o que vemos nesses quadros. Os artistas querem dar forma a coisas desaparecidas ao longo de uma longa cadeia evolutiva."

Participação ativa da sociedade

Kubin Alfred Wissenschaft Darwin Ausstellung Frankfurt Schirn
Alfred Kubin: 'Ciência'Foto: VG Bild-Kunst, Bonn 2009

Uma olhada nos jornais também documenta como, na época de Darwin, artistas e sociedade discutiram sobre a Teoria da Evolução. Não são poucos os que representam o biólogo inglês e seus partidários em caricaturas maldosas. Segundo Max Hollein, milhões de pessoas podiam acompanhar os debates na nova imprensa ilustrada.

"Foi a cultura visual, foram as imagens que transportaram as ideias e repercussões das teorias darwinianas, quer reforçando-as, quer parodiando-as. Os artistas importantes da época vivenciaram essa discussão intensamente, como todos os outros participantes da sociedade pensante, e reagiram a ela."

Ernst_Max_Europa nach dem Regen Darwin Ausstellung Frankfurt Schirn
Max Ernst: 'Europa após a chuva'Foto: VG Bild-Kunst, Bonn 2009

Contrastantes foram também as reações dos visitantes do Schirn Kunsthalle. Para alguns, a exposição propôs uma visão toda nova da arte, outros observaram alguns dos objetos expostos com um certo horror. Certo é: a contribuição artística ao ano Darwin não reescreve a história da arte, porém abre novos horizontes e fecha lacunas de conhecimento.

Autor: Cornelia Rabitz
Revisão: Roselaine Wandscheer