Arte para incentivar vacinação global
27 de janeiro de 2015"Queria fazer desenhos com coisas vivas". Para o artista plástico Vik Muniz, uma infecção pode se tornar um traço de arte. Misturando células de fígado com o vírus da vacina contra a varíola, ele conseguiu o tom avermelhado que contorna as flores de "Flowers – The beauty of vaccines" ("Flores – A beleza das vacinas").
O painel, que reproduz a imagem obtida em laboratório com técnicas de microfabricação em microscópio, faz parte da mostra virtual "A arte de salvar uma vida" ("The art of saving a life"), organizada pela Fundação Bill e Melinda Gates. São 38 trabalhos de artistas visuais, músicos e escritores sobre o passado, o presente e o futuro da imunização por vacinas no mundo.
"Flowers" é a última peça da série "Colônias", uma coleção de obras artísticas biomanipuladas feitas por Muniz em parceria com o cientista Tal Danino, do MIT. Vik queria organizar bactérias, células vivas, células cancerígenas e vírus em pinturas.
"É lindo o fato de uma vacina ser feita a partir de um veneno. Eu acho isso fascinante. É poético usar a doença para criar a cura", conta Muniz no making off do trabalho.
Linguagens
Além de Vik Muniz, outros dois brasileiros participam da exposição. O fotógrafo Sebastião Salgado e a escritora cearense Socorro Acioli também abordam a luta pela imunização global.
O documentarista social registra em imagens épicas a jornada pela erradicação da poliomelite em Sudão do Sul, Somália, República Democrática do Congo, Paquistão e Índia. A série de fotos feita em 2001 foi publicada no livro "O fim da pólio".
Socorro Acioli escreve um poema de cordel em inglês sobre o médico brasileiro Ciro de Quadros, uma referência mundial em imunização infantil. "Drops from a hero" ("Gotas de um herói") conta a trajetória pioneira de Quadros na erradicação da pólio e do sarampo nas Américas. Ele morreu em maio de 2014. "Precisamos seguir o caminho dele, precisamos lembrar de Ciro", diz o poema.
No site da exposição, o usuário pode assistir a performances da atriz americana Mia Farrow e do pianista chinês Lang Lang.
Enquanto o músico toca A tarde de um fauno, de Debussy, um vídeo mostra atrás do palco um famoso pas de deux de Tanny LeClercq, nos anos 50. Aos 27 anos, a principal dançarina do Balé de Nova York teve de interromper a carreira. Ela contraiu poliomielite por se negar a tomar a vacina e nunca mais pôde dançar.
Campanha
"A arte de salvar uma vida" também ficou exposta fisicamente, apenas nesta terça-feira (27/01), no evento mundial da Gavi Alliance (Aliança Global para Vacinas e Imunização), em Berlim.
A ideia é que as obras sejam compartilhadas na internet com a hashtag #VaccinesWork para incentivar doações. Com a campanha, espera-se arrecadar 7,5 bilhões de dólares para imunizar 300 milhões de crianças em todo o mundo até 2020.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada cinco crianças não tem acesso às vacinas mais básicas – cerca de 1,5 milhão morrem a cada ano por doenças como pneumonia e rotavírus.