As audiências públicas que prometem paralisar os EUA
12 de novembro de 2019Donald Trump está irritado. O presidente dos Estados Unidos é o foco das audiências que podem levar ao seu impeachment. Até então, esses depoimentos eram feitos a portas fechadas no Congresso, mas, a partir desta quarta-feira (13/11), as testemunhas serão ouvidas em frente às câmeras de TV.
E isso não agrada em nada ao presidente. "Eles não deveriam realizar audiências públicas", afirmou Trump na última sexta-feira.
Já no passado, outros chefes de Estado americanos que enfrentaram processos de impeachment tiveram que se conformar com o fato de o público poder acompanhar ao vivo os depoimentos contra eles. Nos casos de Richard Nixon e Bill Clinton, houve audiências fechadas e públicas.
Portanto, a fase que se inicia nesta quarta-feira não traz nada de especial ou inédito – pelo menos em comparação com inquéritos de impeachment anteriores. Contudo, ela tem potencial para mudar drasticamente a política em Washington.
"Eu diria que as próximas audiências serão extraordinárias", afirma Michael Cornfield, cientista político da Universidade George Washington. "Elas vão paralisar o país."
Para esta semana estão programadas três audiências, duas na quarta-feira e uma na sexta. Como o processo irá prosseguir, ainda não se sabe. Certo é que ele será o foco de todas as atenções.
Apesar da transmissão ao vivo pela televisão, Cornfield não acredita que as audiências de impeachment acabarão sendo um mero espetáculo que serve apenas ao entretenimento das massas.
"As pessoas sabem do que se trata", diz o cientista político. "E, exceto nos intervalos, os canais de TV renunciam à publicidade, o que também mostra como isso é sério." Se mesmo uma emissora como a CNN se recusa a interromper sua programação a cada dez minutos para exibir anúncios, os americanos sabem: a diversão acabou.
As testemunhas que comprometem Trump
As audiências públicas serão iniciadas na quarta-feira com o testemunho do diplomata Bill Taylor, embaixador em exercício dos EUA na Ucrânia. Taylor assumiu o escritório diplomático em Kiev após sua antecessora, Marie Yovanovitch, ser removida do cargo em maio de 2019. A audiência na quarta-feira já é o segundo depoimento de Taylor no escândalo da Ucrânia.
Em outubro, ele afirmou ao Comitê de Inteligência do Congresso que Trump pressionou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a anunciar publicamente o início de investigações de corrupção contra o filho do ex-vice-presidente americano Joe Biden, possível rival de Trump nas eleições de 2020, em troca de ajuda militar a Kiev. O presidente nega esse toma lá, dá cá.
O outro depoimento de quarta-feira será do alto diplomata americano George Kent, que também já prestou depoimento sobre o caso. Em outubro, a portas fechadas, Kent levantou pesadas acusações contra Rudy Giuliani, advogado pessoal de Trump.
Segundo o diplomata, Giuliani teria liderado uma "campanha de difamação" contra a então embaixadora Yovanovitch, de quem Trump não gostava, e os meses de mentiras teriam contribuído significativamente para seu afastamento do cargo. "Suas alegações e acusações contra Yovanovitch foram infundadas, erradas", declarou Kent.
Yovanovitch, por sua vez, prestará depoimento na sexta-feira. Em seu primeiro testemunho, ela disse ter ficado "chocada" com a campanha que Giuliani e outras pessoas próximas de Trump fizeram contra ela, e afirmou não ter recebido qualquer apoio do Departamento de Estado americano. Quando pediu conselhos ao embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, ele a aconselhou a elogiar Trump no Twitter, pois isso seria do agrado do presidente.
Mas até mesmo Sondland, apoiador de Trump, testemunhou a existência de uma polêmica troca de favores no caso Ucrânia. Ele admitiu ter dito a um assessor do presidente ucraniano que a ajuda militar americana não voltaria a ser prestada até que Kiev anunciasse um inquérito público sobre o filho de Biden.
Audiências prejudicam campanha
Quando as audiências públicas começarem na quarta-feira, Trump precisará de muitos elogios no Twitter. Para o cientista político Cornfield, o presidente americano não tem como escapar dos fatos que vieram à tona em todas as audiências anteriores.
Esse efeito será agora reforçado pelas declarações públicas que todos os americanos poderão acompanhar na TV. "Agora, tudo o que ele poderá dizer é que suas infrações não são ruins o suficiente para justificar um impeachment", afirma Cornfield.
O cientista político acredita ainda que as audiências afetarão as eleições presidenciais no próximo ano. Ou Trump se prejudicará com comentários precipitados em resposta às declarações de seus críticos, "ou ele renuncia antes das eleições", avalia o especialista.
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