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PolíticaSíria

"Não considerei renunciar", diz Assad em primeiro comunicado

16 de dezembro de 2024

Uma semana após deixar a Síria e se asilar na Rússia, presidente deposto Bashar al-Assad afirma que ficou no país até o dia da tomada de Damasco pelos rebeldes e que foi "evacuado" de base militar russa.

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Registro de março de 2023 mostra o ditador sírio Bashar al-Assad ao lado do ministro interino do Exterior da Rússia, Michail Bogdanov, durante viagem à Rússia
Uma semana após fugir para a Rússia, Assad (foto de arquivo) falou pela primeira vez sobre queda de seu regimeFoto: SANA/dpa/picture alliance

O presidente deposto Bashar al-Assad rompeu o silêncio nesta segunda-feira (16/12), após fugir da Síria. Em comunicado publicado no canal da presidência síria no Telegram, o ditador afirma que só deixou o país depois que a capital Damasco caiu.

Assad diz que estava na cidade no dia 8 de dezembro, quando os rebeldes tomadam Damasco, e que foi "evacuado" para a Rússia naquela noite. "Em nenhum momento, durante esses eventos, considerei renunciar ou buscar refúgio", diz.

Desde que foi derrubado do poder pela ofensiva relâmpago liderada pelo grupo insurgente islâmico Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS) e ter fugido para a Rússia, há uma semana, não havia notícia sobre Assad.

A confirmação de que recebera asilo na Rússia veio do Kremlin no mesmo dia de sua chegada, mas sem mais detalhes. 

"Como as forças terroristas se infiltraram em Damasco, eu me mudei para Latakia, em coordenação com nossos aliados russos, para supervisionar operações de combate", afirma o comunicado, em refência à cidade síria na costa mediterrânea.

Mas ao chegar à base aérea de Hmeimim, controlada pelos russos, naquela manhã do dia 8 de dezembro, "ficou claro que nossas forças haviam sido retiradas de todas as linhas de batalha e que as últimas posições do Exército haviam caído".

A base militar russa ficou "sob ataque intensificado por ataques de drones" e "sem meios viáveis de deixar a base", diz o comunicado.

Segundo o relato, Moscou solicitou então que o comando da base providenciasse uma "evacuação imediata" para a Rússia.

De acordo com a agência de notícias Reuters, assessores, funcionários e até mesmo parentes de Assad foram pegos de surpresa com a decisão dos russos de tirar Assad da Síria.

Organização terrorista

O colapso da ditadura de Assad surpreendeu o mundo e provocou comemorações na Síria e em outros países, depois que a repressão aos protestos democráticos em 2011 provocou uma das guerras mais mortais do século. Foram mais de 500 mil vítimas nesses 13 anos de guerra civil, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. Mais da metade da população síria foi forçada a fugir de casa.

A ofensiva rebelde arrancou do controle de Assad cidade após cidade em poucos dias, até chegar à capital, Damasco, pondo fim a mais de 50 anos de controle do governo sírio pela mesma família. No seu comunicado, Assad se refere ao grupo HTS como "terrorista".

Com raízes no ramo sírio da Al-Qaeda, o HTS é classificado por vários governos ocidentais como uma organização terrorista, embora tenha procurado moderar sua retórica e prometido proteger as minorias religiosas do país.

No entanto, muito antes do surgimento do HTS e dos grupos jihadistas na guerra da Síria, Assad sempre classificou seus oponentes, inclusive manifestantes não violentos, como "terroristas".

sf/ra (Reuters, AFP, AP)