Ataques a Haddad e Bolsonaro marcam penúltimo debate
1 de outubro de 2018Após um fim de semana marcado por protestos em dezenas de cidades do país, com atos pró e contra Jair Bolsonaro (PSL), o capitão reformado do Exército continuou a ser o protagonista da disputa eleitoral na noite deste domingo (30/09), no penúltimo debate entre os presidenciáveis antes das eleições de 7 de outubro.
Mesmo não estando presente no encontro organizado pela TV Record, Bolsonaro, que ainda se recupera da facada da qual foi vítima no início do mês, foi duramente atacado por quase todos os oito candidatos que participaram do debate.
Ao longo de quase duas horas, seus concorrentes lembraram as frases polêmicas proferidas por seus aliados e acusaram Bolsonaro de ser antidemocrata. Fernando Haddad (PT), vice-líder nas pesquisas, também foi igualmente alvo de seus adversários, que tentaram pregar a pecha de que o ex-prefeito de São Paulo representa um projeto político tão extremado quanto o do militar reformado.
As críticas a Bolsonaro vieram até de candidatos que, até aqui, não vinham se contrapondo ao presidenciável do PSL com tanta ênfase. O ex-ministro da Fazenda e candidato do MDB, Henrique Meirelles, foi duro com Bolsonaro e afirmou que o deputado federal pelo Rio de Janeiro "não gosta do Bolsa Família". Meirelles, que se mostrou próximo a Haddad, pouco criticou o candidato petista e afirmou que "ódio não cria empregos e a vingança só cria destruição".
Bolsonaro ainda foi acusado por Ciro Gomes de fazer declarações "antipobre e antipovo" e disse ter ficado alarmado com a "frase assustadora" de Bolsonaro em que ele afirma que não aceitaria nenhum resultado das urnas que não fosse sua vitória. Sobre o cenário político, o candidato disse que "o Brasil precisa de alguém para encerrar essa radicalização".
Ciro também não poupou munição contra o candidato petista. "Você poderia explicar o que quer dizer quando em seu plano de governo diz que quer propor uma Assembleia Constituinte?", perguntou. Haddad respondeu, explicando que essa ideia teria vindo do ex-presidente Lula, com a intenção de criar condições para a elaboração no futuro de uma Constituição "mais moderna, enxuta, com princípios e valores bem constituídos", que conseguisse reequilibrara o Poderes e reformar os sistemas bancário e tributário.
"Você não acredita numa única palavra do que acabou de dizer. Não existe poder constituinte no presidente da República", rebateu Ciro, esclarecendo que só o Congresso tem o poder de convocar uma Assembleia Constituinte. "Essas palavras foram postas na sua boca porque, infelizmente, há uma vingança que você está encarregado de fazer", afirmou o pedetista.
"Jair Bolsonaro desrespeita a Constituição e a democracia. Para mim, as palavras dele só podem ser uma coisa: ele fala muito grosso, mas tem momentos em que ele amarela. Ele já está com medo da derrota", disse por sua vez Marina Silva, que protagonizou uma dura discussão com o candidato do PSL.
Ela afirmou que é preciso "enfrentar dois projetos autoritários, aqueles saudosistas da ditadura e aqueles que fraudaram a eleição de 2014", em clara referência à vitória de Dilma Rousseff contra Aécio Neves (PSDB), há quatro anos. Marina tentou se posicionar como uma candidata equilibrada, distante dos dois polos extremos.
Essa também foi a tônica utilizada tanto por Geraldo Alckmin (PSDB) quanto por Álvaro Dias (Podemos). Alckmin afirmou que tanto o PT quanto Bolsonaro são dois lados de uma mesma moeda e que a solução para o Brasil não são "nem os radicais de direita e nem os radicais de esquerda". Álvaro Dias afirmou que o Brasil segue em "uma marcha da insensatez" e que a mentira segue sendo uma arma dos candidatos.
Guilherme Boulos, do Psol, criticou duramente o candidato do PSL "As declarações de Bolsonaro não são de um candidato e sim de um ditador", afirmou.
Fernando Haddad acenou para praticamente todos os candidatos de olho em possíveis acordos no segundo turno. Com Boulos, afirmou ter pontos de convergência e elogiou Ciro Gomes por sua luta democrática, apesar dos ataques que sofreu do candidato do PDT. Não divergiu de forma acalorada com nenhum de seus adversários e procurou, como tem sido rotina, associar seu nome de Lula e aos tempos de bonança do país nos dois primeiros mandatos do PT.
Haddad, no entanto, precisou explicar os apoios que tem recebido – e dado – a figuras polêmicas da política brasileira, como os senadores Eunício Oliveira (MDB-CE) e Renan Calheiros (MDB-AL). "Minha coligação é com o PCdoB e o PROS, eu fiz apenas uma visita ao presidente do Senado”, disse ele, tentando minimizar o apoio que vem recebendo no Nordeste de políticos de partidos que o PT chama de golpistas.
Ausente, Bolsonaro limitou-se a publicar vídeos dos atos em seu apoio que ocorreram em todo o país neste domingo. Chamado de "frouxo" por Ciro Gomes por não participar do debate, Bolsonaro afirmou que não compareceu ao encontro por recomendação médica. De acordo com ele, a equipe que o acompanha teria desautorizado sua participação no último debate presidencial, que ocorre na quinta-feira no Rio de Janeiro e será organizado pela TV Globo. Em entrevista ao jornal O Globo, Bolsonaro afirmou que tentará convencer seus médicos na véspera.
Cabo Daciolo, uma vez mais, fez o papel cômico no debate. Exaltado, Daciolo teve dificuldades para responder às perguntas que lhe eram feitas. Chegou a pedir que Marina Silva esperasse a resposta apenas em sua tréplica e afirmou que levaria óleo de peroba para o próximo debate. Entre muitos "Glória a Deus", disse que todos os candidatos eram amigos e faziam parte de um clube. Afirmou, mais uma vez, que não sabe exatamente como, mas que será eleito no primeiro turno com 51%. Foi o candidato mais aplaudido pela plateia.
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