1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Fantasma da guerrilha

13 de agosto de 2010

Cinco dias após assumir o poder, o governo de Santos enfrenta um fantasma que acreditava haver desaparecido das grandes cidades: o terrorismo. As Farc são as principais suspeitas da explosão de um carro-bomba em Bogotá.

https://p.dw.com/p/OmlP
Policiais colhem evidências no local da explosãoFoto: AP

“Os terroristas não se importam muito com o grau de destruição provocado por suas ações. Para eles, o terrorismo é um meio, uma espécie de sinal que enviam frequentemente a toda uma sociedade”, afirmou o sociólogo alemão Peter Waldmann, em um de seus tratados sobre terrorismo publicados pela Universidade de Augsburg.

Justamente assim está sendo interpretado o atentado com um carro-bomba nesta quinta-feira (12/08), que deixou pelo menos 36 feridos e destruiu vários edifícios na área de Bogotá onde se encontra a sede da cadeia de rádio hispano-colombiana Caracol, a maior empresa de mídia do país, além da agência de notícias espanhola EFE e de bancos colombianos e espanhóis.

Até agora não houve confirmação de que se trata de um ato terrorista como "estratégia de comunicação" dirigida contra um meio de comunicação. Mas o histórico de terrorismo dos grupos à margem da lei na Colômbia fazem acreditar nessa hipótese.

Darío Arizmendi, diretor do principal programa de notícias e análises da Caracol Radio, já havia tido que deixar o país em 2009 após ameaças do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Durante vários meses, ele teve que apresentar o programa a partir de Madri. Arizmendi e sua equipe escaparam ilesos ao desabamento do teto metálico do estúdio em que transmitiam, provocado pela detonação.

Justo quando a Colômbia vivia uma certa euforia com a mera ideia de um possível futuro de paz, uma mistura de 50 quilos de explosivos plásticos e químicos pôs fim ao estado de “normalidade” a que os colombianos estavam se acostumando.

Kolumbien Bogota Caracol Radio Bombe
Explosão atingiu o edifício da Radio CaracolFoto: AP

Segundo o sociólogo alemão Hans Blumenthal, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Universidade Tecnológica de Bolívar, sediado em Cartagena, o ataque não significa um "retorno do terrorismo", pois nas regiões distantes das cidades colobianas o terrorismo não havia desaparecido.

"O que vimos de diferente neste 12 de agosto de 2010 foi que esse tipo de ato foi cometido em uma cidade grande”, afirmou, em entrevista à Deutsche Welle.

Terrorismo como demonstração de poder

Para Blumenthal, que conhece a realidade colombiana há vários anos, o sinal enviado pelos terroristas não se dirigia exclusivamente ao grupo de mídia Caracol. Para o sociólogo, é muito provável que o atentado tenha sido preparado com antecedência, motivado pela mudança de governo no país, mas não pôde ser executado anteriormente devido às altas medidas de segurança.

“Se o ato terrorista, como quase sempre, veio das Farc, a mensagem é: 'existimos'", conclui Hans Blumenthal. As Farc, segundo ele, querem demonstrar que "ainda não foram derrotadas" e possuem algum poder, por mais que um atentado terrorista demonstre exatamente o contrário. “As Farc podem provocar danos onde quiserem e quando quiserem”, esta é claramente a mensagem, conclui.

As Farc fizeram algo semelhante em 2002, durante a posse do presidente Álvaro Uribe. Em 7 de agosto de 2002, o grupo guerrilheiro lançou vários foguetes contra a Casa de Nariño, sede presidencial onde aconteciam as cerimônias, provocando pânico entre os presentes. Outros caíram em um bairro próximo, matando 27 pessoas e ferindo outras 13.

Farc, lógica e contradições

Trata-se de uma mensagem aparentemente contraditória se for considerado um recente vídeo transmitido por um canal de TV árabe, no qual Alfonso Cano, atual comandante das Farc, convidou o novo governo a negociar. Segundo Blumenthal, a "oferta de diálogo" das Farc é mais tática que intencional já que, na sua avaliação, "o discurso de Cano é excessivamente antiquado, repetitivo e não realista".

Kolumbien Amtseinführung Santos
Posse do novo presidente, Juan Manuel SantosFoto: AP

Uma paz negociada significaria para os líderes das Farc algo similar ao que aconteceu com os ex-líderes paramilitares que aceitaram o plano Justiça e Paz. “Este plano, que inclui prisão, ainda que de poucos anos, reconhecimento dos delitos e indenização das vítimas não é nada atraente para os chefes das Farc, que estão perto dos 60 anos”, afirma Blumenthal.

De acordo com o analista, os comandantes das guerrilhas colombianas estão velhos demais para sair das Farc e poderem refazer suas vidas pessoais e profissionais. Velhos e sem poder, “eles não querem sair da selva para entrarem em uma cela”, comenta.

Nunca é tarde para a paz

De fato, no início dos anos 90 uma anistia permitiu a dissolução, entre outos, do grupo guerrilheiro M-19. Desde então, vários ex-membros dessas organizações têm feito brilhantes carreiras políticas dentro da legalidade institucional.

“A vitória do Estado de direito sobre o terrorismo deve se dar através da debilitação militar das Farc, seguida de pesados investimentos sociais e econômicos nos territórios onde esses grupos recrutam suas tropas”, recomenda o analista alemão. Na opinião dele, a União Europeia deveria intensificar o apoio às iniciativas de desenvolvimento na Colômbia.

Autor: José Ospina-Valencia (md)
Revisão: Rodrigo Rimon