Atenções se voltam mais uma vez para Atenas
15 de fevereiro de 2017A situação é a mesma há anos: regularmente, falta dinheiro para o endividado Estado grego. Paira sobre a Grécia o perigo de falir e de deixar a união monetária. Credores e autoridades gregas ameaçam, brigam até o último minuto – e, no final, se acaba pagando.
Isso aconteceu pela última vez em meados de 2015, quando foi assegurado à Grécia o seu último pacote de resgate financeiro, no valor de 86 bilhões de euros. Ele deve se estender, possivelmente, até 2018. As diversas parcelas são pagas somente se a Grécia cumprir os pré-requisitos, ou seja, implementar reformas e uma política de austeridade econômica. Mas esse processo está emperrado.
Em meados deste ano, Atenas terá que saldar dívidas no montante de mais de 6 bilhões de euros. Mas esse valor só poderá ser reembolsado se os credores liberarem novos pagamentos. E não se sabe se isso vai acontecer.
Ano de eleições
Hoje, duas coisas mudaram em relação ao passado: diferentemente do primeiro e do segundo pacote de resgate financeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) não tem mais participação no atual.
"Não acreditamos que o peso da dívida é sustentável para a Grécia", disse o diretor europeu do FMI, Poul Thomsen. Em outras palavras: para participar como credor, o FMI exige que alguém assuma parte do endividamento grego. Em cogitação estariam somente os países do euro. Só que, e esse é o segundo motivo: o clima político mudou completamente.
Na Europa, floresce um populismo de direita que também se volta contra a União Europeia (UE) e contra a moeda comum. E, neste ano, haverá eleições em importantes países do bloco, entre eles, a França, onde a candidata presidencial Marine Le Pen defende uma saída da união monetária. Os eleitores também irão às urnas na Alemanha, onde muitas pessoas têm a impressão que o governo em Berlim já desperdiçou bastante dinheiro dos contribuintes numa causa perdida.
"Não se pode esperar nenhuma solução antes do pleito presidencial na França e das eleições parlamentares na Alemanha", diz Markus Will, economista da Universidade de St. Gallen, na Suíça.
Schulz defende Grécia
Em tempos de campanha eleitoral, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, se mostra linha-dura. Num programa da emissora pública alemã ARD, ele exigiu da Grécia mais esforços de austeridade econômica e reformas, pois, de outra forma, o "país não poderá continuar na zona do euro."
Schäuble afirmou que o país desfrutaria um "padrão de vida maior do que permite a sua economia". O jornal holandês de Volkskrant pede que a Grécia saia até mesmo agora da zona do euro. De qualquer forma, o dinheiro emprestado já foi embora, e para os eleitores seria "mais fácil de digerir", se a Grécia "deixasse temporariamente a zona do euro", escreveu o diário.
Por outro lado, o candidato presidencial do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) e ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, declarou ao jornal alemão Die Welt: "Quem flerta agora com o Grexit [saída da Grécia da UE] brinca com a divisão do continente. Isso talvez seja do interesse de Donald Trump ou de Marine Le Pen, mas certamente não do interesse da Alemanha e da Europa." E, na emissora Deutschlandfunk, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, elogiou os gregos por sua disposição de reformas: "Nenhum outro país teve mais progressos de competitividade do que a Grécia."
Isso deve ter agradado aos ouvidos do primeiro-ministro esquerdista grego, Alexis Tsipras. Ele já pediu à chanceler federal alemã, Angela Merkel, que controle o seu ministro de Finanças, pois Schäuble evidenciaria uma "permanente agressividade" frente à Grécia.
E Tsipras também tem de enfrentar a ira de seus conterrâneos. Ao assumir o poder, há quase dois anos, ele ainda era o terror de todos os credores, porque havia se posicionado simplesmente contra as exigências de austeridade. Mas, ele já conseguiu implementar muitas das mudanças exigidas, como o recente aumento de impostos a partir de 1° de janeiro deste ano.
Isso não ajudou a aumentar a sua popularidade. Os gregos vão às barricadas; greves e protestos são comuns. Nas enquetes, a oposição conservadora já está bem à frente de Tsipras. Kyriakos Mitsotakis, o novo presidente do partido Nova Democracia, se encontrou na última segunda-feira com Angela Merkel em Berlim. Ao lado do social-democrata Pasok, a Nova Democracia levou o país à crise após décadas de má gestão. Assim como Tsipras, Mitsotakis também exige novos alívios da dívida – só que mais gentilmente.
Mau momento
Além Alemanha, outros países credores esperam da Grécia que, a longo prazo, o país obtenha um superavit orçamentário de 3,5% – após a dedução do pagamento da dívida. Para Tsipras, algo simplesmente impossível. Mas também o líder da oposição Mitsotakis diz: "Eles vão encontrar alguns especialistas que acham que isso pode ser alcançado."
O líder oposicionista acha que 2% é viável. Para Markus Will, Atenas deve empreender reformas mais profundas, como na previdência: "Sem um alívio da dívida, os gregos não poderão retornar a um caminho saudável de crescimento."
Essa também é a opinião de muitos especialistas, não somente do FMI. E, talvez, os ministros das Finanças da Alemanha, Holanda e França vejam da mesma forma. O azar dos gregos é que, no momento, nenhum deles pode se mostrar condescendente nos olhos dos eleitores.
"O momento desta última rodada da tragédia grega", avalia o economista Michael Every, do banco holandês Rabobank, "não podia ser pior."