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Atirador é absolvido por mortes em ato do Black Lives Matter

Darko Janjevic
20 de novembro de 2021

Kyle Rittenhouse foi a manifestação no ano passado portando arma semi-automática e alegou que queria proteger a propriedade privada. Veredito divide o país, e críticos temem precedente para futuros casos semelhantes.

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Kyle Rittenhouse gesticula no tribunal
Kyle Rittenhouse tinha 17 anos à época e afirmou ter atirado em três homens em autodefesaFoto: Sean Krajacic/Pool via REUTERS

O americano Kyle Rittenhouse foi absolvido nesta sexta-feira (19/11) de todas as acusações por ter matado dois homens e ferido um terceiro em agosto do ano passado, durante uma manifestação do movimento Black Lives Matter em Kenosha, no estado de Wisconsin.

Rittenhouse tinha 17 anos à época e é branco, assim como as três pessoas em que ele atirou durante a manifestação.

Após quatro dias de deliberação, o júri considerou Rittenhouse inocente nas duas acusações de assassinato e em uma acusação de tentativa de assassinato. Ele também foi absolvido das acusações de "colocar em risco a segurança de forma imprudente" por suas ações durante a manifestação.

O que aconteceu em Kenosha?

Os protestos, que também incluíram tumultos, saques e incêndios, foram desencadeados depois que a polícia atirou em um homem negro, Jacob Blake, deixando-o paraplégico. O caso ocorreu poucos meses após o assassinato amplamente divulgado de outro homem negro, George Floyd.

Rittenhouse foi às manifestações de Kenosha portando uma arma semi-automática estilo AR-15, e disse que tinha a intenção de proteger a propriedade privada contra desordeiros. Ele afirmou que atirou nos três homens em autodefesa.

Imagem mostra Rittenhouse no dia do protesto portando sua arma
Rittenhouse matou dois homens e feriu um terceiro no local das manifestaçõesFoto: DW

Vídeos do local mostram Rittenhouse abrindo fogo contra Joseph Rosenbaum, de 36 anos, depois que ele começou a persegui-lo e jogar uma bolsa nele. De acordo com Rittenhouse e um repórter que estava na área, Rosenbaum pulou para alcançar a arma de Rittenhouse antes de ser baleado.

Rittenhouse então deixou a cena ainda empunhando seu rifle, antes de aparentemente tropeçar e cair na rua. Outros manifestantes então tentaram confrontá-lo, incluindo Anthony Huber, de 26 anos, que atingiu Rittenhouse na cabeça com um skate. Rittenhouse abriu fogo novamente e matou Huber com um tiro. Outro manifestante, Gaige Grosskreutz, foi baleado depois de apontar a sua própria arma para Rittenhouse. À Justiça, Grosskreutz disse que estava tentando desarmar o atirador.

Os promotores descreveram o réu como um justiceiro e disseram que ele tinha ido ao protesto com a intenção de usar a sua arma.

Quais são as primeiras reações ao veredicto?

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que apoiava a conclusão do júri. "O sistema do júri funciona", disse ele, segundo a agência de notícias Reuters. "Temos que cumpri-la".

Derrick Johnson, chefe da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), disse que o sistema de Justiça "falhou conosco". A NAACP é um dos grupos mais antigos e influentes que lutam pelos direitos da população negra nos EUA.

Manifestantes negros protestam em frente ao local do julgamento
Associação de defesa da população negra criticou papel que "a supremacia e o privilégio dos brancos" tem no sistema de Justiça dos EUAFoto: Evelyn Hockstein/REUTERS

"O veredicto do #KyleRittenhouseTrial é um lembrete do papel traiçoeiro que a supremacia e o privilégio dos brancos desempenham dentro de nosso sistema de Justiça", disse o chefe da NAACP no Twitter.

As autoridades temem que o resultado do julgamento possa desencadear novos tumultos e violência, aprofundando ainda mais as divisões na sociedade norte-americana. 

O advogado de Rittenhouse, Mark Richards, disse ter recebido ameaças de morte relacionadas ao caso. "Para mim, é assustador quantas ameaças de morte recebemos", disse ele a um repórter. "Após a terceira ameaça de morte, parei de atender meu telefone".

"Estamos todos muito felizes que Kyle possa viver sua vida como um homem livre e inocente, mas em toda essa situação não há vencedores, há duas pessoas que perderam suas vidas e isso não é ignorado por nós", disse David Hancock, porta-voz da família Rittenhouse.

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, criticou o veredito e o chamou de "repugnante". "Chamar isso de um erro judiciário é incompleto", disse De Blasio no Twitter.

Os pais de Anthony Huber disseram que o veredito "significa que não há responsabilização da pessoa que assassinou nosso filho".

"Ele envia a mensagem inaceitável de que civis armados podem aparecer em qualquer cidade, incitar a violência e depois usar o perigo que eles criaram para justificar atirar em pessoas nas ruas", disseram.

Manifestantes seguram placa com os dizeres "Free Kyle"
Integrantes da direita veem Rittenhouse como herói que se colocou em risco para proteger propriedade privadaFoto: Evelyn Hockstein/REUTERS

A bancada negra do Congresso dos EUA afirmou que a alegação de autodefesa de Rittenhouse era "absurda".

"É inconcebível que nosso sistema de Justiça permita que um justiceiro armado (...) saia em liberdade", disse a bancada negra do Congresso em uma declaração. "Está na hora da reforma da Justiça criminal, e já passou do tempo da reforma sobre armas."

Qual é o impacto esperado do julgamento?

O caso se conecta a debates sobre racismo, protestos e o direito de ter armas nos EUA. Muitos dos políticos da direita veem o adolescente como um herói que se colocou em risco para proteger a propriedade privada, enquanto muitos à esquerda acreditam que ele agiu motivado por racismo e desejo de cometer violência.

Em Kenosha, o correspondente da DW Oliver Sallet disse que "as emoções estavam intensas" no tribunal enquanto o veredito era lido.

Fora da sala do tribunal, algumas pessoas estavam buzinando e celebrando enquanto outras estavam em descrença, disse. "Muitas pessoas ficarão aliviadas ou muito frustradas com o veredito de hoje", afirmou.

Há também receio de que a absolvição possa encorajar mais violência armada. "Muitas pessoas e críticos estão preocupados que isso será um precedente para as pessoas, que diz em suma que não há problema em levar sua arma, seu rifle de assalto, a um protesto", disse. "E talvez a pergunta mais importante: O que teria acontecido se Kyle Rittenhouse fosse um cidadão negro, teríamos visto outro veredito?"

O caso também suscitou perguntas sobre o tratamento policial dado a Rittenhouse e outras pessoas armadas que foram às rua para o que eles alegam ser a proteção da propriedade privada, comparado com a resposta da polícia aos manifestantes do Black Lives Matter. Após o tiroteio, Rittenhouse aproximou-se da polícia com suas mãos no ar, mas os policiais o ignoraram. Ele só foi preso no dia seguinte.