Crise na Síria
1 de agosto de 2011Os relatos da violência que tomou conta da cidade de Hama, na Síria, provocaram uma rápida reação do mundo ocidental. Nesta segunda-feira (01/08), a União Europeia endureceu as sanções contra o regime de Bashar al-Assad: novas reservas no exterior foram congeladas e a lista de nomes proibidos de entrar nos países do bloco foi ampliada de 30 para 35.
Catherine Ashton, alta representante europeia para Assuntos Externos, avisou que medidas mais severas poderão ser adotadas contra a Síria "caso o governo persista neste caminho". A violência do regime contra civis contrários a Assad teria causado a morte de pelo menos 100 pessoas desde domingo. Tanques e artilharia também se deslocaram até Deir al-Zor, onde segundo os moradores teriam sido mortos 29 civis no final de semana.
"Isso mostra que o governo sírio não está disposto a colocar em prática as reformas prometidas como resposta à vontade legítima da população", comentou Ashton em Bruxelas. Em nome dos 27 países-membros da União Europeia (UE), ela pede que o governo sírio autorize manifestações e liberte todos os presos políticos.
As novas sanções devem ser publicadas oficialmente nesta terça-feira e, logo após, entram em vigor. Da última vez que a UE impôs restrições ao governo Assad foi em 24 de junho. Também quatro empresas sírias constam da lista com as quais os europeus não podem fazer negócios.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas anunciou uma sessão de emergência ainda nesta segunda-feira para debater os acontecimentos no país árabe. "É hora de o Conselho de Segurança assumir uma posição clara quanto à necessidade do fim da violência", pediu Ashton em seu comunicado. No entanto, Rússia e China, que têm poder de veto, se opuseram previamente a uma intervenção militar na Síria.
Em Londres, o ministro inglês do Exterior, William Hague, disse que espera mais pressão internacional. Esta teria que vir também de países árabes, e inclusive da Turquia. O governo turco, aliado de Assad até o início da revolta, se disse "desapontado e triste" com as mortes registradas neste domingo.
Também a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, pediu que Assad pare de empregar a violência contra o próprio povo. Segundo o porta-voz de Merkel, Christoph Steegmans, a Alemanha trabalha desde domingo para levar ao Conselho de Segurança a discussão sobre o agravamento da crise na Síria.
Tensão nas ruas
Nesta segunda-feira, os tanques sírios continuavam nas ruas da cidade de Hama, região central do país e palco de protestos contra o presidente. No segundo dia de repressão, as forças pró-governo teriam matado mais civis, dizem moradores. "Ninguém pode deixar a cidade porque as milícias pró-Assad (shabbiha) estão atirando aleatoriamente com metralhadoras", contou um civil.
As tropas fiéis ao governo estão em Hama há aproximadamente um mês. A cidade de 700 mil habitantes e de maioria sunita já teve outro massacre em sua história. Em 1982, o pai de Assad reprimiu uma revolta armada da Irmandade Muçulmana, que causou a morte de milhares de pessoas.
O aumento da violência coincide com o início do Ramadã, mês sagrado entre os muçulmanos. As autoridades sírias expulsaram os jornalistas independentes quando começaram os protestos contra Assad, no início de março, o que dificulta a confirmação das informações transmitidas a partir do país.
Posição oficial
Numa carta aos militares, Assad disse que a Síria está enfrentando uma conspiração internacional para propagar o conflito sectário e "dividir o país em pequenos pedaços para satisfazer aqueles que trabalham para fatiá-lo".
O governo culpa "grupos terroristas armados" pelas mortes na atual revolta, dizendo que mais 500 soldados e seguranças já foram mortos. No caso da repressão deste domingo, a agência oficial de notícias disse que os militares entraram em Hama para combater grupos armados que estariam aterrorizando a população. Tal explicação foi classificada como "tola" por diplomatas norte-americanos em Damasco.
O poder no país está concentrado nas mãos dos alauitas sírios, uma minoria religiosa à qual pertence também a família Assad. O Exército e os serviços de inteligência estão unidos em torno do presidente. Muitos alauitas ocupam as posições-chave. No poder desde 2000, Bashar al-Assad assumiu depois da morte de seu pai, Hafez al-Assad, que estava na presidência desde 1971.
NP/dpa/rts
Revisão: Roselaine Wandscheer