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Aumento de bactérias resistentes a antibióticos põe médicos em alerta

Claudia Witte (msb)2 de maio de 2014

Estudo da OMS mostra que grande parte da população mundial tem no organismo alguma bactéria que não é eliminada com medicamento.

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Foto: DW

O número de pacientes infectados por bactérias multirresistentes cresceu nos últimos anos no Hospital Universitário de Genebra. A constatação é do o infectologista alemão Benedikt Huttner, que trabalha no local. Para essas pessoas, diz ele, praticamente nenhum antibiótico mais faz efeito.

"As bactérias extremamente resistentes que encontramos aqui atingem pacientes que podem ter passado uns dias na UTI em algum país estrangeiro – por exemplo, que tiveram um acidente de carro na Índia ou no Egito – e depois foram removidos para cá", diz Huttner.

E não é uma exclusividade da Suíça. A resistência a antibióticos vem crescendo em todo o mundo e representa uma séria ameaça à saúde pública – segundo alerta o primeiro relatório global da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema. O vice-diretor-geral da organização, Keiji Fukuda, lembra que as consequências podem ser fatais.

"Hospitais de várias regiões do mundo vêm reportando infecções difíceis, ou mesmo impossíveis, de ser tratadas", conta Fukuda.

Problema global

Há tempos um levantamento sobre a amplitude da resistência a antibióticos era aguardado pela comunidade científica. Além de ter sido elogiada por médicos que trabalham em hospitais bem equipados em países de excelência em saúde, como Huttner, a iniciativa também foi bem recebida por organizações internacionais como a Médicos Sem Fronteiras (MSF). Segundo Jennifer Cohn, da campanha por medicamentos da ONG, foi um alívio ver que o tema finalmente passou a ser abordado na OMS.

"Este é um problema recorrente em nossas ações em várias partes do mundo", afirma Cohn. "Na Nigéria, ele atinge crianças subnutridas. Na Jordânia, vemos que ocorre em pacientes com ferimentos. Para qualquer lugar que olhemos, vemos diferentes tipos de bactérias que são resistentes a antibióticos."

Benedikt Huttner stellvertr. WHO-Direktor Genf
Infectologista Benedikt HuttnerFoto: WHO/ Violaine Martin

A OMS compilou dados coletados em 114 países relativos a sete tipos de bactérias mais disseminados no mundo e que podem causar uma série de doenças. O resultado é alarmante: boa parte da população global tem no organismo alguma cepa resistente a antibióticos.

"O número exato pode variar de região para região, mas de maneira geral o quadro é bem uniforme", comenta Fukuda. "A capacidade do tratamento de infecções mais graves está sendo reduzida em todas as partes do planeta."

Recentemente, o periódico científico The New England Journal of Medicine publicou que uma nova superbactéria foi identificada pela primeira vez no mundo em um paciente do Hospital das Clínicas, em São Paulo. O caso foi registrado em 2012.

O homem de 35 anos, que acabou morrendo, apresentou uma cepa da bactéria conhecida como "Staphylococcus aureus Resistente à Meticilina" (Sarm) – que não responde à vancomicina, um dos antibióticos mais comuns e baratos, nem à meticilina, que pertence ao grupo das penicilinas. A descoberta preocupa porque o microorganismo não é restrito ao ambiente hospitalar, podendo infectar pessoas saudáveis.

Risco aos mais vulneráveis

A OMS alerta sobre uma "era pós-antibiótico". Na ausência de um medicamento eficaz, problemas como infecção pulmonar, septicemia (infecção generalizada), Doenças Sexualmente Transmissíveis ou mesmo uma simples diarreia podem voltar a ser tão fatais como nos tempos anteriores à descoberta da penicilina.

Inicialmente, o problema atinge pessoas com ferimentos e mais vulneráveis. Benedikt Huttner recorda-se do caso complicado de um paciente grego, que pegou uma infecção durante uma cirurgia em seu país de origem e foi transferido para a Suíça.

"Era um paciente que foi operado de um tumor cerebral. Ele teve uma infecção pós-operatória com uma cepa que não reagia a nenhum dos antibióticos disponíveis", conta o infectologista. "É uma situação dramática quando, como médico, não há praticamente nada que se possa fazer para salvar um paciente".

Antibióticos na carne e na água

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Antibióticos dados a animais propicia o desenvolvimento de superbactériasFoto: picture alliance / ZB

Segundo estimativa da OMS, todos os anos 25 mil pessoas morrem em consequência da resistência a antibióticos – isso apenas na Europa. Não há um levantamento do tipo em âmbito global, pois em diversos países a ameaça causada por essas bactérias é subestimada e, portanto, não há dados a respeito.

Especialistas concordam que a principal causa do aumento da resistência das bactérias é o uso indiscriminado de antibióticos. "Eles são prescritos em excesso, e não apenas para pessoas, mas também para animais. Cerca de 80% dos antibióticos receitados atualmente são para animais", afirma Huttner.

O médico ressalta ainda que o antibiótico entra em contato com o organismo humano pelas mais diferentes fontes: pela carne servida nas refeições, pelo esterco animal usado nas plantações, pela água potável. As bactérias encontraram, assim, grande oportunidade para desenvolver resistência aos remédios. E fizeram isso de maneira tão veloz que as indústrias farmacêuticas nem se interessaram em desenvolver novos medicamentos, que logo ficariam ineficazes.

A OMS destaca que haveria muitos ganhos para a saúde pública se os antibióticos fossem usados apenas com receita médica, e manipulados corretamente pelos pacientes. A redução do risco de infecção de pessoa para pessoa também seria outra medida eficaz, afirma Fukuda.

Ainda que não se tenha atualmente uma ideia da dimensão do problema no futuro, os médicos esperam que o relatório da OMS aumente a conscientização sobre os perigos da resistência a antibióticos. Para Huttner, as consequências ainda são subestimadas. Ele defende uma ação determinada e coordenada dos órgãos internacionais de saúde.

"Vimos isso muitas vezes no passado: quando não se detecta um problema suficientemente cedo e não se toma medidas para resolvê-lo a tempo, ele fica muito mais difícil de ser controlado. Quando a resistência já está instalada, fica muito mais complicado reverter o quadro", alerta.