Austrália abre inquérito sobre sequestro em café de Sydney
17 de dezembro de 2014Após o drama envolvendo reféns num café de Sydney, o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, prometeu uma investigação transparente, com relatórios "acessíveis a todos" sobre as circunstâncias do sequestro de motivação presumivelmente islâmica, declarou Abbott à emissora de rádio ABC.
Ao anunciar a abertura do inquérito oficial sobre o caso nesta quarta-feira (17/12), o premiê australiano prometeu trabalhar de forma incansável para garantir a segurança da população. "Não descansarei até ter a certeza de que vocês estão o mais seguro possível."
Em Sydney, as medidas de segurança foram elevadas. A cidade está sendo patrulhada por centenas de policiais adicionais. Enquanto isso, milhares de pessoas continuam depositando flores, velas, cartões e caixas de chocolate na praça onde fica o local do sequestro ocorrido nesta segunda-feira, o Café Lindt.
O sequestrador – o iraniano Man Haron Monis – era conhecido pela polícia do estado de Nova Gales do Sul, cuja capital é Sydney, assim como pela polícia federal australiana e pelos serviços de inteligência. "Queremos saber por que ele não foi monitorado", disse Abbott sobre o autor do sequestro, que resultou na morte do próprio Monis e de dois reféns.
"Profundamente perturbado"
Monis foi descrito pelo primeiro-ministro como "profundamente perturbado". Ele era acusado, entre outros crimes, de ser cúmplice do homicídio de sua ex-mulher. O autoproclamado clérigo iraniano de 50 anos foi condenado, no ano passado, a 300 horas de serviços sociais por ter enviado cartas ofensivas a famílias de soldados mortos no Afeganistão entre 2007 e 2009. No início do ano, ele foi acusado de ter cometido abuso sexual contra uma mulher em 2002.
O dito clérigo foi posto em liberdade sob fiança em todas as acusações. "Após seu envolvimento num crime particularmente abominável, precisamos saber como alguém com um histórico tão longo de violência e de instabilidade mental foi solto sob fiança", declarou Abbott.
O premiê também questionou o fato de Monis ter uma licença de porte de arma e por que ele desapareceu da lista de observação da agência de segurança australiana em 2009. "Quero respostas para essa série de questões", frisou Abott. Em janeiro, o governo espera divulgar um relatório sobre os resultados da investigação do sequestro.
Lista de vigilância
Andrew Scipione, comissário de polícia de Nova Gales do Sul, disse que a polícia havia pedido que Monis não fosse colocado em liberdade condicional sob fiança, mas que a corte australiana decidiu de outra forma, disse o comissário.
Scipione explicou que Monis não havia sido condenado e que os crimes de que foi acusado não estavam relacionados com a violência por motivos políticos, observando que, como o sequestrador, há muitos outros.
"Claramente trabalhamos sob um sistema baseado em prioridades. Se alguém está na lista de vigilância nacional, então, prestamos especial atenção nele", disse o comissário. "Mas, na ocasião, o indivíduo em particular não estava."
Falha no sistema
A investigação visa examinar as circunstâncias da chegada de Monis à Austrália, procedente do Irã, e a subsequente concessão de asilo e cidadania, bem como os dados que os serviços de inteligência tinham sobre ele e como os compartilhavam. "O sistema não funcionou adequadamente com este indivíduo, não há dúvida sobre isso", reconheceu Abbott.
Monis cresceu no Irã com o nome Mohammad Hassan Manteghi. Em 1996, ele abriu uma agência de viagens, mas roubou o dinheiro dos clientes e fugiu. A Austrália, então, o aceitou como refugiado, afirmou nesta terça-feira o chefe da polícia iraniana, general Ismail Ahmadi Moghaddam.
Em 2000, o governo do Irã pediu a extradição de Monis, mas o pedido não foi adiante, porque a República Islâmica não tem um acordo de extradição com a Austrália, informou o chefe de polícia.
CA/lusa/ap/dpa