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'Liberado para maiores...'

18 de julho de 2009

A FSK é uma organização de controle voluntário, visando poupar os menores de conteúdos potencialmente nocivos nos filmes. Suas seis décadas de existência são uma história dos costumes e até mesmo da política na Alemanha.

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'Liberado a partir de...'Foto: picture-alliance/ dpa

Segundo a Lei Fundamental alemã, não existe censura para filmes no país. O que não significa que não haja uma legislação de proteção ao menor. Para evitar que adolescentes sejam confrontados com sexo e violência, a instância de autocontrole voluntário da indústria cinematográfica examina, a cada mês, dezenas de películas, e as libera para espectadores a partir de 6, 12, 16 ou 18 anos de idade. Ou não.

A Freiwillige Selbstkontrolle der Filmwirtschaft (FSK) é uma organização particular, criada em 18 de julho de 1949, tendo como modelo a norte-americana Production Code Association (PCA), igualmente não estatal.

As distribuidoras lhe apresentam suas produções e ela as classifica de acordo com sua adequação a partir de uma determinada faixa etária. Filmes sem o selo FSK são automaticamente considerados desaconselháveis para menores de 18 anos e só podem ser exibidos sob condições restritas.

Poder demais?

Ausstellung "Skandale in Deutschland nach 1945" im Haus der Geschichte der BRD 2008
La Knef escandalizou em 1949

Assim, a FSK acumula um relativo poder. Pois, através da classificação etária, decide quando e onde a obra pode ser vista, codeterminando suas chances de sucesso junto ao público. E esse tem sido um ponto de crítica à organização: "Se um filme não é liberado para menores de 18 anos, isso equivale a um desastre econômico total", explica o expert em cinema Manfred Riepe.

Para ele, as prerrogativas da FSK vão decididamente longe demais. "Uma certa forma de controle é necessária", admite, "mas tudo o que entra no campo do controle de adultos é problemático".

O que incomoda a Riepe em especial é o fato de, desde meados de 1980, um "representante permanente do Supremo Juizado Estadual de Menores" estar presente às sessões da FSK como "cão de guarda". "Desse modo, o processo de avaliação se transforma num ato administrativo estatal", interpreta.

Censura política

Die Reifeprüfung
Primeira noite imoral na década de 60Foto: picture-alliance / KPA Honorar & Belege

Uma olhada nos primórdios da organização comprova que ela também já exerceu censura política. Em 1950, Roma, cidade aberta de Roberto Rossellini foi proibido na então Alemanha Ocidental. A FSK incomodou-se com o realismo com que era mostrada a fúria destrutiva das tropas SS alemãs na Itália.

Hoje, a própria instância de autocontrole da indústria cinematográfica alemã encara de forma crítica essa parte de sua história. A proibição, na época, foi uma espécie de "recalque histórico" da culpa do país, analisa sua diretora-geral, Christiane von Wahlert.

Em certos casos, a FSK chegava a exigir que determinadas cenas fossem cortadas dos filmes. Hoje, não há mais esse tipo de prescrição. Por outro lado, são os próprios distribuidores a propor a exclusão de uma cena ou outra, de forma a baixar a classificação etária.

Classificações empoeiradas

Tal der Wölfe - Irak Filmszene
'Vale dos Lobos': ação à la turcaFoto: presse

A história da FSK mostra, acima de tudo, como as opiniões sobre violência e sexualidade se alteraram, através das décadas. Muitas decisões da organização parecem empoeiradas hoje em dia, se não absurdas.

Um exemplo é A vida de Brian, sátira sobre a vida de Jesus do grupo de comediantes britânicos Monty Python, que, ao estrear em 1980, não pôde ser exibido na Sexta-Feira Santa.

Devido à sugestão de um movimento masturbatório, No decurso do tempo (1975), de Wim Wenders, ficou interditado para menores de 18 anos. Vinte anos mais tarde, ele seria liberado para espectadores a partir dos 6 anos de idade.

Também A primeira noite de um homem, com Dustin Hoffman no papel principal e música de Simon & Garfunkel, só pôde ser visto por maiores de 16 anos em 1968. Em 1990 foi reavaliado e sua exibição permitida para crianças a partir de 12 anos.

Rigor maior

Szenenbild Keinohrhasen
Coelho sem orelhas e sexo demaisFoto: Warner Bros. Ent.

Mas também há exemplos contrários. A FSK defendeu Die Sünderin (A pecadora, 1949), de Willy Fort, contra protestos veementes das Igrejas, indignadas com uma cena de nudez da atriz Hildegard Knef. Ainda hoje o órgão de controle é, por vezes, criticado por excesso de liberalidade, pelos motivos mais diversos.

O filme de ação turco Vale dos Lobos (Kurtlar Vadisi Irak) foi primeiramente classificado para maiores de 16 anos. Após críticas de antiamericanismo e antissemitismo, a FSK o interditou para menores de 18 anos. E "promoveu" de 6 para 12 anos de idade a comédia Keinohrhasen (Coelhos sem orelhas, 2007), de Til Schweiger, acatando as queixas sobre o teor excessivamente sexual dos diálogos.

Autor: Dirk Eckert
Revisão: Alexandre Schossler