Bananas do Equador na mira do narcotráfico
10 de fevereiro de 2024No dia 25 de agosto de 2023, autoridades espanholas apreenderam o maior carregamento de cocaína já registrado no país: 9,5 toneladas. A mercadoria estava escondida dentro de um contêiner cheio de bananas vindo de Machala, no Equador.
Em julho do mesmo ano, no porto de Roterdã, o maior da Europa, foi apreendido o maior carregamento de cocaína da história da Holanda – 8 toneladas, igualmente escondido em um contêiner de bananas originárias do Equador. Apreensões semelhantes ocorreram nos últimos anos também em portos da Itália e da Alemanha.
As bananas são o segundo principal produto de exportação não petrolífero do Equador. Segundo a Associação dos Produtores de Banana do Equador (AEBE), o país sul-americano exportou mais de 350 milhões de caixas de banana em 2023. Diante de tal magnitude, essas mesmas exportações acabam se transformando num alvo atraente para o tráfico de drogas.
Segundo uma investigação da plataforma jornalística Connectas, das 77 toneladas de cocaína apreendidas em todos os portos equatorianos, 61% estavam em cargas de bananas. As apreensões de drogas em cargas do tipo aumentaram 233%, afirma a reportagem, citando fontes da Polícia Antinarcóticos.
Realizada em conjunto com a emissora de televisão TC Televisión e publicada em setembro de 2023, a reportagem levanta questões sobre a eficácia das medidas governamentais de combate ao tráfico de drogas. Ela denuncia a falta de ação contra os representantes legais das empresas envolvidas nos carregamentos com cocaína e aponta supostas deficiências no sistema judicial equatoriano e nos mecanismos de regulação e controle de exportações.
Em novembro de 2023, com a posse do governo de Daniel Noboa, veio a esperança de uma mudança significativa na situação. "Dentro da pasta do setor agrícola, tomaremos todas as medidas necessárias", afirmou o ministro da Agricultura e Pecuária, Danilo Palacios.
Investimentos em segurança e cooperação internacional
Segundo o ministro, um trabalho para proteger os setores mais vulneráveis e reduzir os riscos existentes está sendo feito através de um esforço coordenado envolvendo todas as entidades relacionadas, incluindo os setores produtivos, os ministérios do Interior e da Segurança.
A indústria bananeira, por sua vez, começou a investir em segurança, incluindo o uso de selos com localização via satélite para contêineres, segundo José Antonio Hidalgo, diretor-executivo da AEBE. "Atualmente, o setor bananeiro investe entre 200 e 220 dólares por contêiner em segurança", afirma.
Apesar de todos os esforços, Hidalgo reconhece que o problema também depende da oferta e da demanda no mercado internacional. Por isso, ele defende uma responsabilidade e compromisso compartilhados, especialmente com os principais mercados de exportação da União Europeia, para onde se destinam quase 30% das bananas.
Na semana passada, o presidente do Equador, Daniel Noboa, reuniu-se com os prefeitos das principais cidades portuárias europeias: Antuérpia, na Bélgica, Roterdã, na Holanda, e Hamburgo, na Alemanha. A reunião buscava a elaboração de estratégias conjuntas na luta contra o tráfico de drogas. Esses portos, fundamentais no fluxo comercial marítimo, têm se destacado como principais canais de entrada da cocaína vinda do Equador para o norte da Europa.
Apesar das apreensões, o governo equatoriano e a indústria agrícola negam ter sofrido impactos econômicos negativos significativos no setor devido ao tráfico de drogas, à violência ou ao conflito armado interno declarado pelo presidente Daniel Noboa.
Uma questão também de segurança
Contudo, a crescente onda de violência ligada ao narcotráfico suscita inquietações em outros aspectos. Hidalgo expressa temores com relação à segurança nas fazendas: "Estamos preocupados com a segurança de nossas fazendas, trabalhadores e administradores. Já não estamos apenas expostos ao esquema de carga adulterada. Trata-se da segurança geral dos funcionários."
Segundo Ángel Rivera, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores Agroindustriais, Camponeses e Povos Indígenas Livres do Equador (Fenacle), a violência afeta desproporcionalmente a população rural, especialmente os trabalhadores do setor bananeiro. "É problemático quando se chega ao trabalho com esse pensamento: o que vai acontecer quando eu sair do trabalho? O que vai acontecer com minha família?"
De acordo com Rivera, a extorsão é uma das principais adversidades enfrentadas pelos trabalhadores, com casos de ameaças nas entradas das plantações com frases do tipo: "Ou me pagam ou matamos os trabalhadores".
No entanto, a situação começou a melhorar graças ao aumento da vigilância policial em tais zonas, afirma o dirigente sindical. A Fenacle procura iniciar um diálogo com as autoridades para implementar medidas de controle no acesso às plantações e oferecer o apoio necessário tanto às empresas quanto aos seus funcionários.
Apostando na mudança que o novo governo é capaz de trazer, Rivera se mostra otimista: "Ressaltamos que as coisas vão mudar com as decisões do presidente".