Barco-piscina atraca em Berlim
26 de agosto de 2004No ano passado, a moda eram os "beach bars" – bares à beira do Rio Spree, com cadeiras de praia sobre a areia importada, trazida em toneladas para a capital, com vista para o rio. Neste ano, a cidade foi um pouco mais fundo –literalmente – e instalou uma piscina dentro do rio: o Badeschiff ou barco-piscina.
Ele está ancorado na parte oriental do centro de Berlim, em uma vizinhança um tanto crua, de velhas indústrias, à primeira vista imprópria para um fim de semana de verão. Mas, ao atravessar o portão, a coisa muda: areia branca, guarda-sóis, cadeiras de praia e a clara água da piscina em contraste ao corpo escuro do rio, onde se pode nadar das 8 da manhã à meia-noite.
De lá, vê-se a ponte Oberbaum, fronteira entre os distritos de Kreuzberg e Friedrichshain, oeste e leste, hoje um dos mais belos pontos turísticos da cidade. E assiste-se de camarote como a região vem mudando nos últimos tempos, com prédios imponentes como o da gravadora Universal, hotéis de luxo e até um centro empresarial, que contribuirá em breve para valorizar a vizinhança.
O luxo de um velho cargueiro
A responsável pelo design da piscina foi a artista Suzanne Lorenz. Ela transformou um velho navio de carga em uma piscina retangular, de 32,5 metros de comprimento por 8,2 de largura, com mais de 2 metros de profundidade. A piscina está cheia até a borda – apenas 70 centímetros acima do nível do rio – com 400 mil litros de água levemente clorada e aquecida a 24 graus.
"Queríamos que os banhistas se sentissem o mais próximo possível do rio", disse Lorenz para DW-WORLD, "para que eles possam ter uma vista melhor da cidade". A artista buscou inspiração no passado da cidade, quando ainda havia diversas áreas do Rio Spree adequadas para banhistas. Em 1906, existiam sete áreas para homens e outras sete para mulheres. A poluição do rio acabou com isso e os banhistas tiveram que mudar para lagos fora da cidade ou para piscinas cobertas.
A piscina faz parte de uma exposição financiada pelo City Art Project Association, que investiga diversas formas de conexão entre os cidadãos e a urbe. O parceiro de Lorenz, a oficina de arquitetura AMP, queria resgatar uma relação com o rio que os berlinenses haviam perdido. "É uma mistura de lago com piscina", explica Lorenz.
Na verdade, um bar com piscina
Perto da entrada, há uma grande área coberta de areia, uma espécie de pista de dança com DJ e música para dançar. "Nós idealizamos o local como um bar no qual se pode nadar", disse Lone Bech, da agência de produção de eventos Arena. "À noite, a piscina é iluminada e a vista de Berlim é linda."
A empresa financiou 80% dos custos da piscina – segundo Bech, um valor superior a 100 mil euros. Mas está valendo tanto a pena, que os organizadores já avaliam a possibilidade de tornar a instalação permanente, aberta o ano todo, com aquecedores e saunas para suportar o inverno.
O público agradece. Mesmo com algumas gotas de chuva atrapalhando a vista, a banhista Ingrid, de 49 anos, não se deixa irritar. Há 20 anos, ela se mudou para a região para ficar perto do rio. Seu maior sonho era poder sair de casa e pular na água. "Hoje esse sonho se tornou realidade. Quem poderia imaginar?"