Barroso critica países
30 de setembro de 2011O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, foi contundente nas críticas a países-membros da União Europeia (UE) em entrevista ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung desta sexta-feira (30/09). "Alguns países foram negligentes nas suas responsabilidades" perante a União Europeia, afirmou o português, há sete anos à frente da instituição. "Alguns manipularam dados para entrar na zona do euro", acusou.
O presidente da comissão disse ao periódico que, ainda durante o seu primeiro mandato, sugeriu o fortalecimento do órgão de estatísticas da UE, o Eurostat. "Ele deveria provar in loco os dados enviados por cada país para Bruxelas", disse. "Mas os países-membros bloquearam a decisão."
Barroso também defendeu maiores poderes para a Comissão Europeia. "Somente somos convicentes [os europeus] se tivermos instituições fortes. Não se trata de mais poder para a Comissão pelo poder em si, mas porque estou convencido de que a Europa só funciona com as instituições, e não contra elas."
Em pronunciamento diante do Parlamento Europeu em Estrasburgo nesta quarta-feira, ele já havia enviado mensagem à França e à Alemanha ao rechaçar a ideia de um governo econômico da zona do euro. Na entrevista, voltou ao assunto. "Deixar a regulamentação de uma zona do euro estável somente para os países-membros – isso jamais funcionaria", afirmou.
Segundo ele, há "bons motivos" para a existência de instituições europeias independentes, como a Comissão Europeia, a Corte Europeia de Justiça e o Parlamento Europeu. "Elas foram sugeridas pelos próprios governos nacionais", lembrou.
Barroso defendeu ainda a união dos países como condição sine qua non para solucionar a atual crise da dívida que atinge alguns países europeus. "Precisamos enfrentar a crise com verdadeiro espírito de comunidade."
Nas próximas semanas, a Comissão deverá apresentar propostas para uma melhor coordenação das políticas econômicas de todos os 27 países da UE, disse o político português. A participação de todos os integrantes do bloco europeu é importante, segundo ele, pois mesmo os países que não usam o euro estão ligados à zona de moeda única por conta do mercado comum. Ele também pretende apresentar opções para um uso mais eficiente do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF).
Ameaça eslovaca
A Europa vive dias de expectativa em relação à aprovação, pelos parlamentos dos países-membros da zona do euro, da expansão do fundo de resgate. Nesta quinta-feira, o Parlamento da Alemanha, maior economia do grupo, deu sinal verde para o aumento das garantias alemãs no fundo – que subirão de 123 bilhões para 211 bilhões de euros. O pacote terá 440 bilhões de euros disponíveis para empréstimos, e 780 bilhões de euros em garantias.
Aprovadas em julho passado pela UE, as modificações ainda precisam ser chanceladas por outros quatro países: Áustria, Malta, Países Baixos e Eslováquia.
A votação no Parlamento austríaco é aguardada para esta sexta-feira sem maiores dificuldades, com apoio da base do governo. As garantias da Áustria deverão subir de 12,2 bilhões para 21,6 bilhões de euros. A aprovação de Malta e dos Países Baixos também deve ser confirmada nos próximos dias.
A maior barreira para concluir a aprovação agora parece ser a pequena Eslováquia, um dos membros mais novos do bloco. A base de apoio do governo ameaça votar contra as medidas, argumentando que o país não tem como oferecer garantias financeiras. A Eslováquia é o segundo país mais pobre da zona do euro, atrás apenas da Estônia.
Os parlamentares eslovacos votarão o fundo em outubro. Os líderes da zona do euro aguardam ansiosos se o líder do partido Liberdade e Solidariedade, Richard Sulik, vai prosseguir com as ameaças.
"O fundo de resgate vai simplesmente ganhar tempo de uma maneira incrivelmente dispendiosa, mas não vai resolver os problemas", afirmou Sulik a um canal de televisão alemão. "Se o euro desmoronar será por causa dos grandes deficits dos países e não porque nós rejeitamos o fundo", disse.
O assunto vem sendo intensamente discutido em Bratislava, a capital do país, para tentar persuadir Sulik a mudar de idéia. O político também vem sendo pressionado por outros países do bloco a assegurar o fundo e acalmar os mercados.
MS/afp/ap/rtr/lusa
Revisão: Alexandre Schossler