Arte emergente de Berlim
13 de junho de 2011Berlim tem se tornado nos últimos anos não apenas um dos destinos favoritos dos jovens turistas que visitam a Europa. Uma grande onda de jovens artistas e "criativos" vindos de diversos pontos do continente e do mundo se mudaram para a capital alemã nos últimos anos, atraídos pelo baixo custo de vida e pela liberdade e o espaço para exercer sua criatividade.
Mas haverá espaço – e principalmente dinheiro – para toda essa criatividade? O megaevento Based in Berlin (do inglês "Baseado em Berlim"), aberto na semana passada, quer mostrar que sim. Depois de anos de festa, a cidade busca mostrar que tem potencial e principalmente um papel importante no mundo da arte contemporânea.
Based in Berlin exibe o trabalho de 80 artistas que vivem e trabalham na cidade. As exposições pretendem mostrar toda a diversidade dos trabalhos de arte contemporânea, com pinturas, esculturas, fotografia, vídeo, filme, performances e instalações. Para complementar as exposições, acontecerão também palestras e workshops, com temas como o papel das instituições de arte na cidade, condições de trabalho e produção para os artistas, entre outros.
Curadoria jovem
O evento acontece em cinco diferentes e importantes espaços de arte da cidade, como o Instituto de Arte Contemporânea KW, Galeria Nacional em Hamburger Bahnhof e Berlinische Galerie. A sua sede fica no parque Monbijou, no bairro Mitte, no coração da cidade. O espaço foi cedido pela administração local para ser o centro do evento até sua demolição, em agosto. Ponto positivo para público e artistas, já que o local fica entre os pontos turísticos mais visitados da cidade e no meio de um charmoso parque, onde jovens e turistas se encontram nos dias quentes de verão.
O critério de seleção buscava novos e emergentes artistas baseados em Berlim, que surgiram na cena local nos últimos cinco anos. O evento ofereceu suporte financeiro aos artistas que desenvolveram trabalhos exclusivamente para a mostra, em diálogo com a curadoria. Vindo da Bélgica, Suíça, Alemanha e Estados Unidos, o jovem grupo de curadores visitou, desde novembro de 2010, o estúdio de centenas de artistas que vivem na cidade.
Esses artistas foram descobertos através de pesquisa, mas a seleção também foi aberta a todos que queriam se escrever. Foram avaliados mais de 1250 portfólios antes de os curadores visitarem os artistas. "Queremos criar uma concentração espacial e temporal que seja capaz de condensar as variadas atividades artísticas e torná-las acessíveis ao grande público", declarou a equipe de curadores.
Polêmica política
A ideia inicial era ter um espaço permanente para mostrar a nova cena artística da cidade. O prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, era a favor da iniciativa, que foi vetada pela administração da cidade, mas a ideia do evento persistiu. O projeto, ainda com o apoio de Wowereit, tinha o nome de Leistungsschau junger Kunst (mostra de arte jovem, em tradução livre do alemão).
A palavra Leistungsschau desagradou alguns dos artistas e curadores que já estavam envolvidos no projeto, já que a palavra em alemão tem um caráter mais comercial e geralmente é usada em feiras de indústria e agricultura. Foram necessários um novo nome e um conceito para a concretização o projeto, que se tornou um dos maiores eventos de arte do ano na cidade.
Com sua locação privilegiada e a intensa cobertura da mídia local, o evento, pelo menos na abertura, atingiu seu objetivo de alcançar o grande público. Mas o resultado disso envolve questões delicadas para artistas e organizadores, como a pergunta: Berlim é capaz de mostrar que tem uma grande produção artística, mas esta grande quantidade estaria gerando também alta qualidade e competitividade internacional?
Apesar das filas, alguns dos trabalhos exibidos no parque Monbijou transitavam no limite do universitário. Esses fatores associados à aversão de palavras como indústria e mercado, e a autoglorificação da cena na cidade bastariam para criar um mercado realmente autossuficiente, onde ser artista é uma profissão e não um passatempo?
Enquanto essas questões ainda procuram respostas, o público pode tirar suas conclusões, visitando as cinco exposições gratuitas em Berlim até o dia 24 de julho.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Roselaine Wandscheer