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Bastian Schweinsteiger, o Grande

15 de outubro de 2019

Após começo de carreira atribulado, meio-campista decolou na Copa de 2006 e se consagrou na de 2014, quando literalmente deu o sangue pela seleção alemã na final no Maracanã. O herói vai deixar saudades entre torcedores.

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Bastian Schweinsteiger
Após pendurar as chuteiras, Schweinsteiger comentará na TV jogos da Alemanha na Eurocopa de 2020 e na Copa de 2022Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe

Contam as más línguas que, depois de ter visto Bastian Schweinsteiger atuando pela primeira vez, no time juvenil do Bayern em 2000, Franz Beckenbauer teria profetizado para os seus colegas de diretoria: "Esse aí não vai dar em nada."

Outro que não botou muita fé nele foi Felix Magath, técnico do Bayern de 2004 a 2007. Logo após ter se recuperado de uma contusão, o jovem Schweinsteiger, então com 20 anos, ficou sabendo que passaria a treinar com o time das categorias de base, o Bayern II. Foi uma humilhação. Afinal, naquele mesmo ano de 2004, ele tinha vestido pela primeira vez a camisa da seleção alemã.    

Dois anos antes, mais precisamente no dia 13 de novembro de 2002, "Schweini", como era apelidado carinhosamente na época, fazia sua estreia no time profissional do Bayern, comandado então por Ottmar Hitzfeld. Foi num jogo da Champions League contra o RC Lens. Ele entrou no lugar de Mehmet Scholl. Outro estreante naquela noite fria de inverno foi Philipp Lahm, que também passaria a desempenhar um papel importante na história do clube bávaro.   

A primeira partida de Schweinsteiger na Bundesliga se deu um mês depois, na vitória sobre o Stuttgart por 3 a 0.  Lembro-me bem desse confronto, porque meu colega na transmissão pela ESPN teve algumas dificuldades iniciais para pronunciar adequadamente o nome do jogador. Nada que algumas dicas de pronúncia correta não pudessem resolver.

O grande divisor de águas da carreira de Bastian Schweinsteiger foi a Copa do Mundo realizada na Alemanha em 2006. O eixo formado com ele no meio campo, Philipp Lahm na defesa, Lukas Podolski e Miroslav Klose no ataque, deixou marcas indeléveis na forma de jogar da seleção alemã durante quase uma década.

A consagração final só viria oito anos mais tarde, na Copa realizada no Brasil, mas é sabido que as grandes lendas do futebol se constroem também com derrotas. É a partir do fracasso que se molda o caráter do herói, que mais tarde ressurge em triunfo, e fracassos não faltaram na vida de Bastian.

Basta lembrar a final da Champions League de 2012 em Munique, contra o Chelsea. Na decisão por pênaltis, o Fussballgott da torcida bávara desperdiçou sua cobrança, para logo em seguida Drogba converter sem chance para Neuer, decretando a derrota do Bayern na sua própria sala de estar.

Um ano mais tarde, Schweinsteiger, Robben e companhia renasciam das cinzas em Londres. Eles triunfaram ao vencer o título pela quinta vez e, de quebra, ainda conquistar a tríplice coroa.

Também na seleção alemã, as grandes vitórias foram precedidas por grandes derrotas. Na hora H, a Mannschaft amarelava. Foi assim no Mundial de 2010 e na Euro de 2012. A opinião pública alemã suspeitava fortemente que a geração surgida em 2006 não estava à altura de gloriosas conquistas. Para muitos, era uma geração de fracassados.

Até que veio o ano de 2014.

Schweinsteiger machucado durante a final da Copa do Mundo de 2014, no Maracanã
Schweinsteiger deu literalmente o sangue na final da Copa do Mundo de 2014, no MaracanãFoto: picture-alliance/dpa/EPA/C. Moya

Um mês antes da Copa, estive na Alemanha para entrevistar Schweinsteiger. Foi muito divertido, à beira do campo do CT do Bayern na Säbener Strasse 51, em Munique. Durante o bate-papo, de repente passa o Dante, brincalhão como sempre. Pergunto para o Bastian se ele está preparado para eventualmente encarar o Brasil numa final em pleno Maracanã, e ele, sorrindo, responde: "Preparados para vencer, claro!" Dante, meio sem jeito, sai de mansinho.

Em 2014, Schweinsteiger comprovou de qual matéria-prima são feitos os heróis: basicamente do desejo inquebrantável de vencer. Inesquecível a cena com ele sangrando à beira do campo já na prorrogação da final contra a Argentina.

Durante o jogo, Schweinsteiger não evitou nenhuma dividida, teve câimbras, sofreu meia dúzia de faltas, deu literalmente o sangue, comeu a grama que o diabo amassou com o rabo e aguentou o tranco até o fim.

Caído em campo, a cada vez que se levantava, voltava mais forte, mais determinado a vencer. Com seu desempenho no Maracanã, tornou-se o ícone do triunfo da seleção alemã.

Bastian Schweinsteiger, o Grande, entra na história do futebol alemão como um dos seus maiores protagonistas. Os torcedores ainda vão sentir saudades dele por muito tempo. Eu também.

P.S. Schweinsteiger encerrou sua carreira como jogador profissional, mas continuará ligado ao esporte. Foi contratado pela TV pública ARD para comentar os jogos da Alemanha na Eurocopa de 2020 e na Copa do Mundo de 2022.   

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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