Novos talentos
18 de setembro de 2007Há muitos anos, o recordista de títulos Bayern de Munique determina a história do futebol alemão. Este êxito deve-se não só às estrelas de seu futebol profissional, mas também aos investimentos nos jovens talentos.
O alojamento dos juvenis do Bayern, na Säbener Strasse de Munique, abriga 12 garotos de 15 a 17 anos de idade, que em pouco tempo poderão integrar a elite do futebol. Diretor do departamento de juvenis do Bayern desde 1998, Werner Kern conta que seus pupilos vêm de todos os lados do país: Frankfurt, Ulm, Giessen, Rostock, Rosenheim...
"Viu-se na Alemanha como esta formação é importante. Isto havia sido esquecido até algum tempo atrás. Acreditava-se que talentos cresciam nas árvores. Antigamente era até assim, os Beckenbauers, Overaths e Müllers ficaram bons sem treinador nem incentivo especial, pois jogavam todos os dias na rua. Hoje, a situação mudou. E por isso viu-se a necessidade de investir em aperfeiçoamento. Os recentes sucessos da nossa seleção juvenil provam que isso está certo", explica Kern.
Futebol não é tudo
A condição primordial para a escolha de novos talentos é um bom sistema de olheiros, que observem jogadores tanto em nível nacional como internacional, mas que também atentem para os destaques do futebol regional. Só que, nesta idade, diz Kern, o futebol ainda não pode ser tudo.
Entre os 12 jovens no internato do Bayern está também Toni Kroos, eleito o melhor jogador do Mundial U-17. Os garotos recebem não só treinamento esportivo às custas do clube, como também residem e se alimentam gratuitamente no alojamento. O atendimento pedagógico e educacional é prestado por 11 profissionais.
Este grupo está sob a responsabilidade de Florian Cichler. Segundo ele, os alunos praticamente não perdem nenhum conteúdo escolar, a não ser quando são convocados para torneios. "Tentamos compensar estas ausências através de ajuda nos deveres de casa e aulas extraordinárias. Temos três professores de diferentes disciplinas à nossa disposição, três vezes por semana."
Disciplina dura
Os treinos acontecem duas vezes ao dia, em até sete campos diferentes. Um dos jovens talentos formados pelo internato do Bayern é Michael Rensing. O sucessor de Oliver Kahn no gol e jogador da seleção alemã de juniores chegou a Munique vindo da distante Emsland, no norte do país, aos 16 anos de idade, trazendo apenas duas sacolas.
"Foi um tempo maravilhoso. Conheci bons amigos e aprendi muito para a vida. Aprendi cedo a me virar sozinho, a fazer coisas que normalmente meus pais teriam feito por mim. Acho que no Bayern não se aprende apenas em campo, mas também a personalidade de um jovem jogador amadurece mais rápido".
Naturalmente, todos os jovens de 15 ou 16 anos querem ser as estrelas de amanhã. Mas só o talento não basta: também são necessárias fortes doses de capacidade de imposição e disciplina.
Gertrud Warnke, a administradora do internato, é ao mesmo tempo a "mãe de todos". "Há horários predeterminados em que todos têm que estar em casa, e há horários em que as visitas têm de ir embora", conta. Além disso, visitas de garotas são expressamente proibidas. Também nas férias, o café da manhã é servido às oito horas. "Se num final de semana não houver jogo, podemos marcar o café para as nove horas", diz, rindo.
Dificuldade de se impor
Nenhum dos jovens tem menos de 15 anos de idade. Por isso, foram tão marcantes as manchetes de algumas semanas atrás, sobre a vinda de um peruano de 13 anos ao clube bávaro. Kern explica que, na realidade, tratou-se de um médico peruano que quis dar a chance a seu filho para que, em um ano, ele aperfeiçoasse suas habilidades no futebol.
"Hoje, Pier Laraurri freqüenta diariamente a escola internacional de Munique, das oito da manhã às quatro da tarde. A tônica aqui é claramente a formação escolar. Depois disso é que ele tenta jogar futebol com a gente", explica.
Kern garante que não houve pagamento do clube ao garoto. Segundo ele, o jovem apenas recebe mesada, alimentação e hospedagem em Munique. A chance de aprender com treinadores altamente qualificados e o convívio com os grandes ídolos são a única recompensa, assegura Kern.
"Claro que é difícil impor-se num clube de formato mundial como o Bayern. Muito poucos conseguem ir adiante. Mas, considerando jogadores que atuam regularmente na Bundesliga ou em partidas internacionais, como Phillip Lahm, Sebastian Schweinsteiger, Christian Lell e também Andi Otte, mais eu, teremos cinco, seis jogadores, e isto é muito raro em nível internacional. Esta já é uma prova do sensacional trabalho das categorias de base do Bayern", exemplifica Rensing.