Berlim 'smoke free'?
12 de novembro de 2006O prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, e sua coalizão de governo, formada pelos partidos Social Democrata e de Esquerda, quebraram um tabu na segunda semana de novembro, ao anunciar passos decisivos no sentido de tornar a capital alemã não fumante.
A proibição do tabagismo, por consideração à saúde pública, já poderá entrar em vigor em janeiro próximo, incluindo não apenas edifícios públicos, como todos os bares e restaurantes da cidade.
Campeã do fumo
A Alemanha pertence ao grupo cada vez mais reduzido dos países da União Européia que ainda não baniram o cigarro dos espaços públicos, em nível nacional. Na realidade, ela é a campeã européia de consumo de tabaco.
Uma média de 34% da população fuma regularmente, e a cada ano quase 140 mil são vítimas fatais de moléstias relacionadas ao fumo. Segundo o Centro Alemão de Pesquisa do Câncer, três mil fumantes passivos (ou "de segunda mão") também morrem anualmente.
Há alguns anos, representantes do setor gastronômico propuseram criar voluntariamente áreas livres de fumo em seus estabelecimentos. Entretanto a Associação Alemã de Hotéis e Restaurantes revela que, até hoje, apenas cerca de 30% dos 100 mil locais do país oferecem essa civilizada comodidade.
O irracional "vício alemão"
Na última quinta-feira (09/11) o Parlamento alemão finalmente conseguiu aprovar a implementação, em lei nacional, da diretriz da UE que proíbe a propaganda de derivados de tabaco na internet, na mídia impressa e em eventos esportivos televisados.
A inércia da Alemanha em coibir o fumo em público ou mesmo sua propaganda – em face do exemplo dos Estados Unidos e das experiências positivas de outros países europeus – tem certamente explicações pragmáticas, como a importância da indústria do tabaco para a economia nacional.
Outros aspectos, entretanto, beiram o grotesco. Por exemplo, o fato de o sistema de saúde ser, em parte, financiado pelos impostos dos fabricantes de cigarros gera uma equação estranha: "fumar mais = mais saúde". Seja como for, a peculiar resistência germânica até já originou um eufemismo irônico: "o vício alemão".
Hora de entrar para o clube
Contudo, contrariando as expectativas, a opinião pública, em peso, está do lado de Wowereit. Numa enquete da revista Der Spiegel, 44% dos entrevistados se pronunciaram pela proibição radical em restaurantes, e 66% prefeririam ar despoluído nos locais de trabalho.
Os simpatizantes não crêem que a gastronomia berlinense venha a perder freguesia em conseqüência da proibição. Hans, de 39 anos, trabalha como freelance no setor administrativo e já antecipa a alegria de terminar uma noitada sem cheirar como um cinzeiro.
"Acho uma boa idéia, os lugares ficam mais limpos e o ar é melhor". Segundo ele, está na hora de a Alemanha entrar para o clube europeu dos que não fumam. Matthias, de 31 anos, também acredita que os berlinenses se acostumarão em breve à nova situação. Ele evoca a experiência da Irlanda, onde o fumo no local do trabalho foi banido há dois anos.
Quociente de chiquismo
Claro, nem todos concordam. Dina, de 23 anos, trabalha como garçonete num bar há dois anos e fuma há mais de seis. Ela está convencida que um local sem fumaça é garantia de uma noite tensa. "Veja só, estou fumando. Gosto de fumar quando saio", justifica.
Nos bares da moda de Berlim o "quociente de chiquismo" parece de fato ser inversamente proporcional à qualidade do ar. Fato desconcertante, já que os yuppies e dondocas freqüentadores pagam fortunas por tudo o que é natural e orgânico, e têm um ataque quando perdem um só dia da ioga.
As novas leis em Berlim podem ser o anúncio de uma nova vida para os alemães. Mas não é aconselhável prender a respiração enquanto se espera.