Berlim avalia proibir venda de imóveis a estrangeiros
3 de setembro de 2018A especulação imobiliária encontrou em Berlim um terreno fértil nos últimos anos e tem atraído principalmente investidores estrangeiros. Em apenas uma década, o preço dos imóveis subiu 104% na cidade, o que atinge diretamente inquilinos locais. Esta não é primeira vez que abordo o tema na coluna (e provavelmente não será a última).
Encontrar uma moradia pagável na capital alemã é algo cada vez mais raro. Em dez anos morando em Berlim, pude acompanhar essa transformação, que começou lenta em bairros como Prenzlauer Berg, Mitte e Kreuzberg, e que nos últimos cinco anos se espalhou rapidamente por toda a cidade.
Esse processo está transformado Berlim, onde diversas classes sociais ocupavam o mesmo espaço e florescia o pequeno comércio local. Atualmente, os mais carentes estão sendo empurrados para a periferia, muitos acabam indo morar na rua, e apenas grandes redes conseguem arcar com o valor cobrado em aluguéis de salas comerciais. A explosão dos aluguéis também se reflete no aumento de preços em restaurantes e bares.
Para conter essa crise habitacional que está transformando a cidade, o governo local avalia proibir a venda de imóveis a investidores estrangeiros. A medida não é uma novidade. Recentemente, a Nova Zelândia aprovou uma lei que proibiu a compra, por estrangeiros, de imóveis residenciais.
Em entrevista a um jornal alemão, o prefeito de Berlim, Michael Müller, afirmou que o governo local prepara um plano para conter a especulação imobiliária na cidade e avalia adotar uma medida semelhante à da Nova Zelândia.
Especialistas entrevistados por diversos jornais, porém, afirmam que a proibição não é tão simples como parece. Primeiro, por não haver dados sobre nacionalidade de donos de imóveis na cidade. Segundo, porque muitos imóveis são adquiridos por empresas alemãs, das quais investidores estrangeiros possuem ações.
Por exemplo, a maior empresa do setor imobiliário de Berlim é a alemã Deutsche Wohnen, com cerca de 110 mil apartamentos. Por trás dela estão diversos investidores, incluindo o fundo soberano da Noruega.
Outro aspecto a ser considerado é que a União Europeia não permite leis que discriminem cidadãos de outras nacionalidades do bloco.
A ideia de Berlim parece, portanto, inicialmente inviável. Depois do bafafá causado pela declaração do prefeito, o governo amenizou um pouco o tema e afirmou que avalia a restrição da venda de imóveis a estrangeiros que os adquirem visando à especulação imobiliária.
Se Berlim vai de fato tentar adotar uma proibição e como ela será, só será revelado no fim deste ano ou início do próximo, quando um plano para enfrentar a atual crise habitacional será apresentado. Resta esperar para ver.
Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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