Berlim e Bruxelas vêem vitória de Bush com cautela
4 de novembro de 2004O candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, John Kerry, reconheceu por telefone a vitória de George W. Bush, que garantiu também a maioria republicana tanto na Câmara dos Representantes quanto no Senado.
Até então, o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, optara por não divulgar nenhum comentário oficial. Após a notícia da vitória de Bush, declarou que vai "congratular calorosamente" o presidente reeleito e "continuar nossa estreita e boa cooperação".
Os ministros alemães da Economia, Wolfgang Clement, e das Relações Exteriores, Joschka Fischer, já haviam anunciado a disposição da Alemanha de cooperar com ambos os candidatos. "A Alemanha se ajeitará com qualquer um dos resultados e trabalhará de forma cooperativa e amigável com o vencedor", disse Clement.
O ministro alemão do Interior, Otto Schily, antecipara não ver problema algum em mais quatro anos de trabalho com George W. Bush. "Tenho muito boas relações com membros do governo Bush. A cooperação na luta contra o terrorismo funcionou de maneira excelente".
A líder democrata-cristã Angela Merkel acredita que Bush "ajudará a superar o atual fosso entre os EUA e a Europa, assim como entre a Alemanha e os EUA".
"Diferenças no estilo, não no conteúdo"
Fora do corpo de ministros, as reações foram menos "diplomáticas". Para o político Hans-Christian Ströbele, do Partido Verde, essa é uma "comprovação da política de Bush pela maioria da população dos EUA, especialmente uma justificativa para a guerra no Iraque, que para mim permanece um ato avesso aos direitos humanos. Esse é um dia negro para a paz".
O governador do Estado da Baviera, Edmund Stoiber, que mostrara-se surpreso pelo rumo que a corrida eleitoral havia tomado. "Estou surpreso pelo fato de que as previsões de que Kerry lucraria com o aumento da participação eleitoral não vingaram". Para ele, no entanto, a diferença entre um e outro está "talvez no estilo, não no conteúdo".
Críticas à guerra e à política externa
Na União Européia, onde 70% da população eram, segundo pesquisas, contra a reeleição de Bush, as críticas mais comuns se referem à política externa americana e à guerra no Iraque.
Para o chefe da bancada socialista no Parlamento Europeu, Martin Schulz, uma vitória de John Kerry teria sido preferível. "Ele admite que a guerra no Iraque foi um erro, assim como também queremos à frente da UE alguém que admita que essa guerra foi um erro", disse, aproveitando para criticar a postura do atual presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso.
Também entre os membros da UE a simpatia pelo candidato democrata era maior. Apenas o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, anunciara seu apoio oficial a Bush, apoiado por seu colega holandês. O apoio aos republicanos veio também dos novos membros da união, especialmente da Polônia, que se considera um importante parceiro dos EUA, e da Romênia, que conta com o deslocamento de bases militares americanas do oeste europeu para Bucareste.
Paris disse contar com um recomeço nas relações transatlânticas. Afinal, "vivemos num mundo multipolar que os EUA não podem controlar sozinhos", disse o ministro francês das Relações Exteriores, Michel Barnier. "Além do mais, é preciso aumentar a confiança americana no "projeto europeu".
"Temas, não pessoas"
Ainda antes da divulgação da vitória de Bush, o coordenador de política externa da UE, Javier Solana, declarara ser preciso concentrar-se em temas, não em pessoas. "Não é segredo que tivemos divergências com o primeiro governo Bush quanto à questão iraquiana. Agora, trata-se de acertar o resto do caminho", disse.
Conflitos existem, por exemplo, quanto à política comercial. Especialistas acreditam que, enquanto Bush provavelmente agirá de acordo com o livre comércio, Kerry seria mais ligado aos sindicatos, exercendo uma política mais protecionista.
A influência da reeleição de Bush também é tida como decisiva para o futuro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), cuja importância foi reduzida durante seu primeiro mandato.