Berlim homenageia Ai Weiwei com grande mostra individual
2 de abril de 2014Reina uma calma estoica nas salas da exposição do artista chinês Ai Weiwei em Berlim. Seis mil banquinhos de madeira são acomodados com precisão no átrio do espaço de exposição Martin Gropius Bau. Blocos de mármore de várias toneladas são alçados, e plantas construtivas são distribuídas. Sem pressa, sem estresse – apesar de 20 contêineres com obras de Ai Weiwei terem chegado com uma semana de atraso a Berlim.
O motivo foi uma tempestade no Oceano Pacífico. "Planejamos tais atrasos desde o início", diz Garang, de 39 anos, um dos cinco assistentes do astro chinês das artes plásticas. Eles estão montando a exposição em Berlim. Trata-se da maior mostra individual das obras de Ai Weiwei: 34 instalações de grande porte, esculturas, mais da metade criada especialmente para o evento.
"Ele nos deu plantas exatas", conta Garang. "À noite, sempre tiramos fotos, e lhe enviamos por e-mail. Continuamos a construir no dia seguinte, seguindo as orientações dele." A força-tarefa artística é necessária porque Ai Weiwei não pode deixar a China, onde há três anos as autoridades lhe negam a emissão de um passaporte.
Em 2011, ele ficou detido por três meses numa prisão secreta por motivos espúrios. Suas críticas de grande apelo midiático não agradam aos governantes em Pequim. Em seu blog, Ai Weiwei defende desafiadoramente a liberdade de expressão, e denuncia em seus trabalhos a rede de corrupção na China.
"Por esse motivo, ele não pode expor suas obras. Ele não pode se expressar publicamente, tudo é censurado", comenta o diretor do Martin Gropius Bau, Gereon Sievernich. Durante os dois anos de preparação da exposição, ele visitou várias vezes Ai Weiwei em Pequim. "Várias câmeras de vigilância estão penduradas em frente ao seu ateliê. Todo o mundo que passa por ali é filmado."
Humor contra a opressão
Ai Weiwei tenta superar essas represálias com humor. Ele pendurou lanternas vermelhas brilhantes nas câmeras de vigilância, ridicularizando o poder estatal. "Para esta mostra ele reproduziu as câmeras em mármore, assim como a cela em que ficou preso durante 81 dias", revela o curador. Nesse contexto, o título da exposição é programa artístico: Evidence, ou provas.
Através de suas obras, Ai Weiwei presta um testemunho e reflete sobre a opressão política em seu país. Justamente por isso, conseguiu se tornar uma marca global, uma espécie de mártir artístico chinês, cujos trabalhos são admirados em todo o mundo.
Mas como isso funciona? "Ele simplesmente encontrou uma linguagem que é compreendida em todo o mundo", diz Sievernich. "Seus trabalhos se referem à realidade social na China e, ao mesmo tempo, são absolutamente sensoriais." Superação estética em vez de arte cerebral: também na exposição berlinense, a fórmula parece funcionar.
Bicicletas como metáfora
O visitante terá oportunidade de passear por ilhas de mármore – uma réplica daquelas disputadas há anos pela China e o Japão. No saguão de entrada do Martin Gropius Bau está pendurada uma imensa instalação: 150 bicicletas soldadas umas às outras, numa megametáfora.
"Antigamente, as bicicletas estavam por todos os lugares nas ruas chinesas e só havia uma pista para carros", explica Sievernich. "Hoje é o contrário. Quem anda de bicicleta em Pequim corre risco de vida, devido ao tráfego de carros e à poluição ambiental." As mudanças da sociedade chinesa são vistas à luz da arte.
Particularmente impressionante é, sobretudo, a precisão com que Ai Weiwei explora os espaços do museu com suas obras, como ele calculou o efeito dos trabalhos, a milhares de quilômetros de Berlim. "Ele nunca viu o Martin Gropius Bau por dentro", comenta o diretor, que, ao início da colaboração, lhe enviou fotos e plantas do prédio histórico. "Ai Weiwei também é arquiteto. Talvez daí venha o seu extraordinário senso de espaço."
Marca global de arte
O artista de 57 anos já tem experiência em montar exposições a partir de Pequim. Justamente por isso ele precisa de ajudantes como Garang, que há anos faz parte de sua equipe, juntamente com outros marceneiros e serralheiros. Em 2013, também na ausência do artista, eles montaram uma instalação na Bienal de Veneza.
Mas, ao serem indagados sobre as contradições, eles se retraem num silêncio reservado. Por que Ai Weiwei não pode deixar a China, por que ele não pode exibir suas obras em seu país, mas no exterior sim? Ele serve como uma espécie de "tapa na cara" artístico para o Partido Comunista? Como se a China quisesse dizer ao mundo: "Olhem, ele pode trabalhar, ser festejado pelo Ocidente. Só para nós é que a arte dele não é boa o suficiente!"?
Direito de ir e vir
O fato é que as autoridades chinesas tudo fazem para difamar Ai Weiwei em seu próprio país. Ele é insultado de "pornográfico", denunciado como "criminoso" e "espião ocidental" em campanhas de grande escala.
"O governo em Pequim adoraria vê-lo sair, mas com a promessa de que nunca mais iria voltar", afirma Sievernich. Mas é justamente isso que Ai Weiwei não quer. "Ele quer poder entrar e sair do país como cidadão chinês. E expressar livremente a sua opinião."
Enquanto isso, uma iniciativa de instituições culturais berlinenses tenta fazer pressão política. O apelo se dirige diretamente à chanceler federal alemã, Angela Merkel, para que ela intervenha pessoalmente, junto ao governo chinês, pela liberdade de ir e vir de Ai Weiwei.
Até o momento, não se sabe se o artista vai estar presente à abertura. Mas ele já provou que tem humor, e convidou o presidente chinês, Xi Jinping, para visitar sua exposição em Berlim.