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Berlim se irrita com discriminação de firmas alemãs

Estelina Farias11 de dezembro de 2003

Governo alemão rejeita como "inaceitável" e Paris vai examinar a legalidade da decisão do Pentágono de excluir da reconstrução do Iraque firmas de países que não participam das tropas de ocupação.

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"Era só o que faltava" diz a ministra Heidemarie Wieczorek-Zeul

A discriminação de firmas alemãs, francesas, russas e canadenses na licitação de obras para a reconstrução do Iraque, no valor total de US$ 18,6 bilhões, foi criticada da forma mais dura pelo governo em Berlim. O seu porta-voz, Bela Anda, disse que tal exclusão contradiz o espírito de cooperação recíproca. Para a ministra da Cooperação Econômica, Heidemarie Wieczorek-Zeul, "era só o que faltava".

Para ela, "é um desaforo" que o Estados Unidos peçam tropas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao mesmo tempo em que não mostram disposição para dividir o poder. Washington nega novas possibilidades à ONU e empurra o aliado britânico para trás, disse a ministra.

Paul Wolfowitz
Paul Wolfowitz: contrato só para firmas de países que tenhma tropa no IraqueFoto: AP

O ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, anunciou conversações com o governo americano sobre a discriminação. Ele disse que Berlim foi apanhado de surpresa e espanto com a decisão do Pentágono, contida num memorando assinado pelo subsecretário da Defesa, Paul Wolfowitz.

Escolhidos e excluídos

- O documento, que foi divulgado no site para a reconstrução do Iraque (www.rebuilding-iraq.net), contém uma lista de 63 países aptos a competir pelos contratos milionários. Alemanha, França, Rússia e Canadá, que lideraram a resistência à guerra e não integram a coalizão de ocupação do Iraque, não figuram na lista. O Brasil também está fora da lista. Porém, as empresas destes países não estão impedidas de atuar como subcontratadas em obras de construção de unidades de energia, instalações petroleiras e sistemas de comunicação.

Interesses de segurança

- Wolfowitz justificou a discriminação dos adversários da guerra com "interesses de segurança essencial dos Estados Unidos" e com a necessidade de incentivar o envio de mais tropas para o Iraque. A Alemanha disse, repetidas vezes, que não mandará soldados. Berlim também fez coro com Paris nas exigências para a ONU desempenhar um papel importante no período de transição e para os Estados Unidos devolverem a soberania do Iraque o mais rápido possível.

Empresariado reage com serenidade

- Organizações do empresariado alemão reagiram com serenidade à discriminação anunciada pelo governo do presidente George W. Bush. Elas estimam que o efeito será pequeno, porque já sabiam de antemão que os EUA iriam, de qualquer maneira, dar preferência às suas próprias firmas. Além do mais, resta a possibilidade de empresas alemãs participarem da reconstrução do Iraque como subcontratadas, avalia o diretor da Federação de Comércio Exterior, Hans-Jürgen Müller.

A mesmo possibilidade foi aventada por Klaus Friedrich, da organização alemã de cúpula dos construtores de máquinas e instalações industriais. "Para nós são decisivos os subcontratos, os quais deverão ser disputados em licitação internacional mesmo depois da decisão do Pentágono", afirmou, acrescentando que firmas alemãs ainda podem se sair relativamente bem dessa situação, "porque para as empresas americanas o atendimento das condições contratuais tem um papel muito mais importante que as sensibilidades políticas".

Moscou reagiu à discriminação das firmas russas com uma cobrança da dívida do Iraque. Afinal, nenhum país perdoou da Rússia as dívidas deixadas pela União Soviética, disse o ministro das Relações Exteriores, Igor Ivanov.

Interesses econômicos

- A decisão do Pentágono dá razão aos críticos que acusaram os EUA de perseguir metas econômicas com a guerra no Iraque. Conforme um estudo publicado no final de outubro passado pelo Centro em Prol da Probidade Pública, a parte do leão dos contratos no Iraque iria para firmas americanas, que apoiaram, generosamente, a campanha eleitoral do presidente Bush três anos atrás.

Na conferência dos doadores de recursos ao Iraque de outubro, em Madri, os EUA prometeram um total de U$ 1,5 bilhão de euros para a reconstrução do Iraque e ajuda humanitária. Ao contrário da Espanha e Grã-Bretanha, Alemanha e França não foram além da ajuda humanitária que já haviam prometido.