Berlim tem pouca influência na resolução do conflito no Líbano
31 de julho de 2006Rolf Mützenich, historiador e cientista político, é integrante do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) e porta-voz para política desarmamentista da bancada social-democrata (SPD). Ele também integra a Comissão de Assuntos Externos do Bundestag. Mützenich concedeu entrevista à DW-WORLD sobre a participação da diplomacia alemã nas tentativas de resolução do conflito entre Israel e o Líbano.
DW-WORLD: Tanto observadores políticos como especialistas em Oriente Médio reclamam da passividade do governo alemão em relação à crise no Oriente Médio. Como a posição européia pode se contrapor à posição norte-americana?
Rolf Mützenich: Eu não percebo nenhuma passividade. Outros Estados europeus, que têm um passado colonizador na região, poderiam ser acusados disso. Mas o Ministério alemão das Relações Exteriores faz muito, tanto na região como nos arredores. Ele não esteve apenas em Israel, no Egito e na Palestina. Ele também enviou representantes a Beirute, Damasco e Nova York. Isso é um ativo trabalho diplomático.
Mesmo assim, nossa influência permanece pequena, ao menos enquanto a política externa americana se mantiver tão hesitante. Eu absolutamente não concordo com a percepção da Secretária de Estado norte-americana de que estaria se desenvolvendo um novo Oriente Médio. Fico tonto só de imaginar que, com o uso de meios violentos, seja possível construir novas estruturas. Essas são uma linguagem e uma percepção que deveriam pertencer ao passado.
A opinião pública alemã e o governo se posicionaram de forma unânime contra a Guerra do Iraque em 2003. No conflito atual, a maioria dos alemães vê as atitudes de Israel de maneira cada vez mais crítica, se comparada com a elite que toma as decisões políticas. Está se criando uma discrepância entre a opinião dos polítcos e da população?
Isso não é assim tão claro como a sua pergunta sugere. Existem algumas diferenças entre os dois casos. Primeiro: Israel foi atacado. Soldados israelenses foram seqüestrados. Israel se vê ameaçado em sua existência e, por exemplo, depois que o presidente do Irã fez discursos antiisraelenses e anti-semitas, pode-se entender isso. Ainda assim: o que Israel está fazendo é uma violência sem limites contra grande parte do Líbano e uma grande parte da população libanesa, que não tem nada a ver com a atual crise.
A tragédia é ainda mais lamentável porque, apenas nos últimos meses, se formou um novo Líbano com um sociedade ativa. Claro que esses fatos não destoam numa região que há anos só conhece violência. Triste é que, com os bombardeios, o seqüestro dos soldados, a detenção de deputados e de ministros palestinos, encerrou-se um processo em cujo final talvez uma parte do Hamas poderia ter seguido o mesmo caminho que a Fatah seguiu: o reconhecimento do Estado de Israel e a renúncia à violência. Com o Plano dos Prisioneiros, há algumas semanas, abriu-se uma chance para a paz. Mas os extremistas não querem essa solução. E também grupos em Israel não viram com bons olhos essa solução diplomática.
Israel entendeu o resultado da Conferência de Roma como uma carta em branco para continuar com sua ofensiva contra o Líbano, enquanto o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, falou de um grande mal-entendido. A comunidade internacional, em especial a União Européia, colaborou para esse mal-entendido?
A interpretação de Israel é totalmente absurda. Por isso também não se pode falar em uma legitimação desse uso desproporcional da violência. Com suas ações militares, ambos os lados atingem principalmente a população civil. Isso finalmente precisa terminar.