Berlusconi ensaia volta à política
16 de agosto de 2012O ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi aproveitou o verão para mostrar aos italianos seu lado esportivo. Um tabloide publicou fotos dele, aos 75 anos, fazendo jogging e, de acordo com seu médico, ele está em plena forma.
Bem de saúde, Berlusconi pode abdicar de sua mansão na praia durante as férias e ficar no escritório em Milão, pensando sobre seu retorno aos palcos da política. Pois é isso que o ex-primeiro-ministro pretende, mesmo sem dizê-lo abertamente. A hesitação e a procrastinação sempre foram suas táticas. Mas quanto mais ele desconversa, maior é a probabilidade de ele vir a figurar novamente como o principal candidato do partido Povo da Liberdade (PdL, em italiano) nas eleições parlamentares de 2013.
A pergunta que fica é: ele ainda tem chances com o eleitorado italiano? "Você sempre pode contar com o Berlusconi para surpresas. Ele é como um boneco joão-bobo: quanto piores suas chances, mais segue em frente", diz o pesquisador de mídia Giorgio Grossi. Berlusconi é um "macho alfa" e não entregou voluntariamente o cargo de chefe de governo. Alegações de suborno, decisões judiciais ou o escândalo Bunga Bunga, de extravagantes festas com prostitutas – nada disso conseguiu tirá-lo do governo.
Foram os mercados financeiros que, em setembro de 2011, retiraram a confiança depositada na Itália e assim o forçaram a renunciar. Na época, os juros dos títulos do governo subiram perigosamente, e o presidente Giorgio Napoletano teve de puxar o freio de emergência. Napoletano instaurou imediatamente um governo provisório, liderado pelo professor de economia Mario Monti.
Partido de bajuladores e top models
De lá para cá, a euforia em torno do diligente reformador e seus programas de austeridade desapareceu nos mercados financeiros e na própria Itália. Cada vez mais italianos reclamam dos cortes nos serviços sociais e de saúde, além de se queixarem da idade de aposentadoria e dos novos impostos. Neste aspecto, Berlusconi distingue-se de outros com declarações populistas, como, por exemplo, expulsar a Alemanha da zona do euro se o país não se mostrar solidário – a Alemanha, segundo ele, também deve pagar.
Mas o que mais ele pode oferecer? Muito teatro, como sempre. Há semanas que o ex-primeiro-ministro fomenta rumores sobre seu retorno à política. Ele espalhou que seus colegas de partido pedem para ele competir novamente na próxima eleição, e o seu pupilo Angelino Alfano, cotado para ser o candidato principal do partido, escreveu no Twitter que até ele insistiu para Berlusconi assumir a candidatura.
Na verdade, sem ele, o partido do qual é fundador e patrocinador financeiro não passa de um grupo de políticos amadores. Bajuladores e mulheres com medidas de top models fizeram carreira num partido em que experiência política não é uma qualificação significativa para ocupar cargos. Sem Berluconi como estrela fixa, em torno da qual tudo gira, esse sistema se desfaz como um castelo de cartas.
Fãs e detratores
Os italianos estão divididos e perguntam: "o que Berlusconi pode nos oferecer?" Especialmente pessoas jovens e politicamente interessadas querem um recomeço radical e não mais as caras antigas, o que inclui Berlusconi. "Precisamos de políticos novos, que deem rumo ao nosso país", disse o estudante de ciência da computação, Giordano Palla, que interrompeu seus estudos para trabalhar como pizzaiolo. Ele acrescenta que apenas um recomeço político pode tirar a Itália da crise.
Menor que o esperado é o número de italianos que acreditam na culpa de Berlusconi pela crise. Embora o empresário tenha governado por anos, durante os quais nenhuma reforma significativa foi executada, muitos não atribuem a ele a desoladora situação econômica do país.
"A crise é global e não doméstica", diz a garçonete Floriana Bassi. O irmão dela, Alberto Bassi, acrescenta: "Talvez Berlusconi, como empresário, entenda melhor como sair dela." Mais uma vez, a esperança de uma parte dos italianos cresce em volta do ex-primeiro-ministro. E ele, mais do que ninguém, sabe tirar proveito disso.
Autora: Kirstin Hausen (gmf)
Revisão: Francis França