Boeing contra Airbus: guerra comercial nas alturas
21 de janeiro de 2005O presidente da Airbus, Noel Forgeard, sempre que possível, deixa claro para o concorrente norte-americano que ele é somente o número dois no mundo. O consórcio europeu fechou o ano de 2004 com um balanço extremamente positivo, deixando a Boeing bem para trás na liderança do segmento da aviação civil, pelo segundo ano consecutivo.
A Airbus entregou mais aeronaves do que a Boeing nos últimos dois anos. A montadora de Seattle, entretanto, acredita que o sucesso dos europeus se deve às elevadas subvenções dos países-membros do consórcio. Na campanha por sua reeleição, George W. Bush contra-atacou e rescindiu um acordo feito com a União Européia em 1992, sobre a ajuda estatal à indústria aeronáutica.
Claude Veron-Reville, porta-voz do comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, disse tratar-se de uma atitude que expressa o pânico dos norte-americanos: "O que os eles perceberam é que a Airbus não só é uma grande concorrente como também a líder mundial. E isto é muito diferente dos anos 80".
Até a rescisão: subvenções de ambos os lados
O acordo de 1992 fixou que os proprietários do consórcio europeu – França, Reino Unido, Espanha e Alemanha – poderiam cobrir até um terço dos custos de desenvolvimento de uma nova aeronave. O superjumbo A380 recebeu um suporte de 2 bilhões de euros. O presidente da empresa afirma tratar-se, entretanto, de créditos a juros que já foram amortizados pela Airbus.
Segundo o acordo, o governo norte-americano poderia subvencionar a Boeing, por sua vez, através da compra de aviões militares da empresa e através de reduções de impostos.
Medo de uma sentença da OMC
Após a iniciativa do presidente Bush de rescindir o contrato, tanto a Airbus quanto a UE dirigiram-se à Organização Mundial do Comércio (OMC). Uma guerra comercial nas alturas entre Estados Unidos e Europa ameaça surgir desde então. A Boeing queixa-se principalmente de possíveis subsídios para o projeto do Airbus A350, que deverá ser concorrente direto do seu novo 7E7 Dreamliner.
No início de janeiro, o encarregado de comércio exterior dos Estados Unidos, Robert Zoellick, entrou num acordo de cessar-fogo com o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson. "Agora queremos colocar tudo na mesa. Para cada uma das partes terão de valer as mesmas condições", anunciou a porta-voz Veron-Reville.
Três meses para uma reconciliação
Antes de o caso chegar ao nível judicial da OMC, Estados Unidos e UE pretendem negociar possíveis saídas para o caso durante pelo menos três meses. O objetivo, a longo prazo, seria acabar completamente com as subvenções estatais. Hans-Joachim Gante, diretor da Federação Alemã das Indústrias Aerospaciais, acredita entretanto que os valores de subvenção podem baixar, mas não serão completamente eliminados.
O mais importante são os fomentos da pesquisa, que não precisam ser restituídos. Para isso, o governo alemão gasta 160 milhões de euros em cinco anos. Afinal, da produção do A380 dependem 40 mil postos de trabalho somente na Alemanha.
Barroso mais tranqüilo
O chefe da Comissão Européia, José Manuel Barroso, está aliviado que o drama entre as duas empresas tenha tomado um rumo razoável ainda antes da visita de Bush a Bruxelas, em fevereiro próximo. "Um problema comercial não deveria criar conflitos em outras áreas da política", reivindicou Barroso. "Deixem-nos resolver o problema, se possível. Se não, pelo menos o diálogo transatlântico não deveria ser afetado."
Quem jogou mais lenha na fogueira, entretanto, foi o chanceler alemão Gerhard Schröder. Durante a apresentação do novo Airbus A380, na última terça-feira (18), ele afirmou que, nas negociações com os Estados Unidos, a "bandeira européia" deve ser levantada bem alto. Além disso, o chefe de Estado alemão apelou à EADS (holding proprietária da Airbus) que abrisse espaço também para a Rússia.
Alguns diplomatas da UE acreditam que os ataques americanos ao financiamento da Airbus foram somente uma manobra política de Bush, na busca da reeleição. Teria sido uma maneira de ele mostrar que está preocupado com os postos de trabalho no país. Uma análise mais precisa e aprofundada, entretanto, mostra que ambos os lados sairiam perdendo numa sentença da OMC. Neste caso, quem iria rir por último seriam as emergentes indústrias aeronáuticas do Brasil ou da China.