Bolsas de plástico reciclado ajudam a reduzir lixo
20 de outubro de 2012A sexta edição do Futurando chama a atenção para a reciclagem. Um projeto na Guatemala constrói casas e escolas à base de lixo. Na África Ocidental, não é diferente. Também lá se recicla. A partir de pequenos sacos plásticos, nos quais estiveram armazenados 500 ml de água, são fabricadas bolsas.
Em países como Gana, a água potável é vendida em sacos plásticos. A tradição já dura dez anos, e o preço por unidade é de dois centavos de euro. Higiênicas e de preço acessível, as embalagens acabam espalhadas pelas ruas e entopem bueiros. O paradeiro final dos pacotes não é novidade. Bueiros entupidos resultam em enchentes e problemas de cidade grande. No Brasil, acontece o mesmo com as garrafas plásticas e sacolas que não têm destino certo.
Na capital de Gana, Acra, um arquiteto britânico desenvolveu uma técnica para reaproveitar essas embalagens. "Quando vim a Acra, há seis anos, o problema do lixo plástico ficou muito claro para mim", conta Stuart Gold. Em 2006, ele fundou a organização Trashy Bags, uma iniciativa de transformar embalagens plásticas em bolsas.
Encarecimento do produto
A fábrica do britânico em Acra recebe diariamente muitos pacotes de água potável. Os 60 funcionários da Trashy Bags são responsáveis por lavar as embalagens três vezes e colocá-las para secar ao sol.
Depois, os sacos plásticos são separados por cor. A equipe de colaboradores costura um pacote no outro, transformando o material numa espécie de tecido que, então, é trabalhado até resultar em bolsas para laptops e carteiras, por exemplo. Todo esse processo é chamado, em inglês, de upcycling. Significa que o produto final tem maior valor ou qualidade do que os resíduos usados no início dos trabalhos.
A população de Gana simpatiza com a bolsa fabricada à base de lixo, mas os ganeses não são os principais consumidores do produto reciclado. A empresa do britânico foca na exportação. "Aqui em Acra, principalmente os turistas ou imigrantes nos procuram para comprar a bolsa", comenta Gold. "Exportamos para a Holanda, Reino Unido, Estados Unidos e Japão. Também temos vendedores na Alemanha."
Vendas online
A loja virtual do alemão Bernhard Erkelenz vende as bolsas recicladas na capital de Gana. Mas não só elas. Em seu depósito, na cidade de Colônia, o comerciante armazena artesanato, pedras e tecidos africanos.
As bolsas correspondem a apenas uma pequena parte do seu faturamento. O alemão não acha que o futuro da Trashy Bag esteja na exportação, mas sim no mercado interno, em Gana. Ele defende sua posição dizendo que além das bolsas do britânico serem peculiares e incomuns no exterior, sempre é preciso explicar ao consumidor estrangeiro por que o produto é especial. "Na Alemanha, por exemplo, as pessoas não conhecem esses pacotinhos de água."
Mesmo assim, Erkelenz acredita na competitividade da Trashy Bag. Ela é robusta, devido ao polietileno, material do qual é feito o pacote que embala a água potável. O polietileno, assim como a maioria dos plásticos, deriva do petróleo. Assim ele é resistente a alguns ácidos e produtos químicos e demora centenas de anos para se decompor.
Para conscientizar a população dos danos ao meio ambiente, a empresa do britânico, em parceria com outras organizações, planeja diferentes projetos. Um deles é conseguir que a fabricação de sacolas ecológicas seja subvencionada. "Desta forma, a população de Gana poderia voltar a comprar bolsas recicladas, o lixo diminuiria, e seriam gerados empregos", explica Gold.
A empresa já reciclou aproximadamente 20 milhões de pacotes plásticos. O alemão Erkelenz viaja a Gana uma vez por ano. Na opinião dele, as mudanças no país são visíveis. "Se compararmos as ruas de Gana com as de cinco anos atrás, é possível observar uma grande mudança. Até mesmo nas ruas menos movimentadas não há mais tanto lixo jogado no chão."
Água contaminada
Desde que começou o trabalho de reciclagem, as ruas de Acra estão mais limpas. Mas o problema "saquinhos de água" está longe de ser resolvido. Além da embalagem trazer consequências negativas ao meio ambiente, a qualidade da água vendida nesta embalagem é discutível.
Em 2005, cientistas da Universidade do Gana descobriram que 77% dos pacotes com água analisados continham agentes causadores de doenças. Por isso, em 2011, a Vigilância Sanitária colocou em uma lista negra 28 fabricantes de água potável e sucos de frutas, vendidos em embalagens plásticas flexíveis.
Autor: Vanessa Hermann e Hervé Gogua (br)
Revisão: Francis França