Bombas de guerras mundiais são risco a banhistas em praias alemãs
20 de janeiro de 2014A cena se repete com mais frequência do que se imagina: em praias alemãs como na ilha de Usedom, no Báltico, um turista encontra na água uma pedrinha amarelada, acredita ser âmbar e a coloca no bolso. Segundos depois, ao ter contato com oxigênio, ela se incendeia.
Nos últimos 40 anos, mais de cem banhistas sofreram queimaduras graves dessa maneira. As pedras em questão não são âmbar, mas nódulos de fósforo remanescentes de bombas utilizadas nas duas guerras mundiais que caíram no mar e não explodiram.
Na região do Báltico, grande parte da munição encontrada tinha como alvo o vilarejo de Peenemünde, onde na Segunda Guerra havia um importante centro de fabricação e teste de armas. Todo ano, são achados na costa alemã entre 60 e 70 resquícios de bombas.
"E de dois a quatro casos envolvem acidentes com pessoas", afirma o secretário do Meio Ambiente do estado de Schleswig-Holstein, Claus Böttcher. "A tendência está aumentando."
Böttcher faz parte do grupo de trabalho estadual e federal que trata de armas de guerra perdidas no mar. Em 2011, o grupo publicou o mais abrangente relatório sobre contaminação da costa alemã em decorrências de vestígios militares.
Correntes e tempestades acabam levando para a praia essa munição. Atualmente, na entrada das praias placas informam sobre os perigos. Geralmente os acidentes fazem com que o tema apareça na mídia.
Minas submarinas
Nos anos finais das duas guerras, para evitar que seu arsenal caísse nas mãos inimigas, os alemães jogaram suas próprias armas nos mares Báltico e do Norte. Estima-se que cerca de 2 mil toneladas de munição tenham sido lançadas ao oceano no período.
Além de bombas e vários tipos de explosivos, grandes quantidades de gás venenoso também foram descartadas no mar – como gás mostarda e fosgênio. Seriam 220 mil toneladas no mar do Norte e 65 mil no Báltico. O estado dos recipientes dessas munições é bem diverso depois de 70 e 100 anos no oceano.
"Muitas carcaças de metal estão intactas, outras foram corroídas e algumas foram encontradas vazias", conta Jens Sternheim, da Secretaria do Meio Ambiente da cidade de Kiel. "Não é possível generalizar sobre o estado das munições, pois as taxas de corrosão e a liberação de agentes ativos dependem também das condições específicas do mar."
Os especialistas de Kiel consideram improvável a ruptura repentina – e simultânea – de vários invólucros de armamentos, liberando em grande quantidade as substâncias ativas de seu interior. Os componentes tóxicos da munição seriam, na verdade, liberados gradualmente.
Algumas dessas substâncias reagem rapidamente ao entrar em contato com a água do mar e acabam se dissolvendo. Outras ligações permanecem estáveis durante muito tempo ou vão se decompondo devagar. Esses componentes químicos podem acabar se concentrando na cadeia alimentar, na qual o ser humano está na ponta final.
Segundo Tobias Knobloch, especialista em armamento do Departamento Federal para Navegação Marítima, não foi constada até agora, numa série de pesquisas realizadas nos mares do Norte e Báltico, qualquer traço de material tóxico derivado de armamentos na cadeia alimentar.
Diversos problemas
Enquanto a construção de parques eólicos offshore se expande na Alemanha, a munição no fundo do mar é um problema crescente. As áreas onde são colocados os cabos submarinos e construídos os aerogeradores precisam ser fiscalizadas antes, e as munições encontradas, desativadas – o que atrasa e encarece o trabalho.
"Devido ao estado da munição e às condições frequentemente adversas sob a água, resta aos especialistas detonar as munições no local onde foram encontradas", relata Jürgen Kroll, do Departamento Estadual de Investigações de Kiel.
Existem planos para a construção de veículo de limpeza submarina, desenvolvido pelo Instituto Fraunhofer para Tecnologia Química, para desativar essas munições de maneira não poluente. "Mas infelizmente falta no momento vontade política e a liberação do financiamento pedido", lamenta Sternheim.
O órgão internacional responsável pela proteção do Báltico (Helcom) estabeleceu um grupo de especialistas para abordar o problema. No momento, eles estão compilando informação sobre a munição que está soterrada abaixo do mar. Também está sendo delineada uma estratégia para lidar melhor com a questão no futuro.