Do fogo para a frigideira
6 de julho de 2010O petróleo continua jorrando nas profundezas do Golfo do México, até agora apenas uma pequena parte do vazamento pôde ser contida. Os dois meses e meio desde o naufrágio da plataforma de perfuração Deepwater Horizon são os mais caros na história do antes soberbo conglomerado BP. Mas é possível que os tempos realmente duros ainda estejam por vir.
Pelo menos é o que faz crer o noticiário britânico, segundo o qual Londres estaria desenvolvendo planos de emergência para o caso de a empresa não sobreviver à crise, sobrecarregada com os custos bilionários do acidente. Fontes locais afirmam que o governo está se preparando "para todas as eventualidades". Afinal, um colapso da BP afeta diretamente interesses britânicos, já que ela detém a maior parte da infraestrutura energética do país
"Para além do petróleo"
Antes da explosão na costa dos Estados Unidos, "BP" era uma das marcas mais valiosas do planeta. Trata-se originalmente da abreviatura de British Petroleum, a maior empresa do Reino Unido. Porém, após a incorporação pela concorrente norte-americana Amoco, o nome caiu no desagrado dos estrategistas de marketing.
Assim, de uma hora para a outra, "BP" passou a significar "Beyond Petroleum" – "para além do petróleo" –, preparando a era posterior à do combustível fóssil. E a terceira maior entre as multinacionais petroleiras emprega 80 mil funcionários, faturando 239 bilhões de dólares em 2009, dos quais 14 bilhões foram computados como lucro.
Isso parece muito, mas, até agora, o vazamento no Golfo do México já custou mais de 3 bilhões de dólares, e analistas calculam o custo final em 64 bilhões de dólares. Tais projeções se baseiam, entretanto, na tese de que o grande buraco por onde vaza petróleo seja fechado até agosto. Quanto aos danos à imagem pública da BP, é provavelmente impossível expressá-los em números.
Contornando o naufrágio
Nesse ínterim, o valor de mercado da empresa reduziu-se à metade. Suas ações ainda custam respeitáveis 340 pence, porém é a cotação mais baixa em 13 anos. Isso, naturalmente, atrai a concorrência, que fareja a chance de expulsar uma rival do mercado, e incorporá-la a preço relativamente módico.
Não precisa ser todo conglomerado – pois, afinal de contas, ninguém sabe quanto a onda de óleo acabará custando, e qual o risco envolvido na transação. Porém conglomerados como a Exxon Mobile, dos EUA, ou a francesa Total já sinalizaram interesse em setores isolados. No momento, o valor da Total na bolsa é superior ao da BP.
No final de junho, a companhia britânica tomou emprestados 20 bilhões de dólares em espécie e em créditos, a fim de retomar o fôlego. Além disso, em sua central em Londres está sendo estudada a venda de participações e de segmentos de negócios, como meios de angariar 10 bilhões de dólares.
Poucas opções
Por último, a gerência da BP descobriu mais uma fonte de capital: fundos estatais na Ásia e no Oriente Médio. Antes, a empresa já vinha sondando as possibilidades e se associara a grandes conglomerados como o banco estadunidense Citigroup ou a montadora alemã Daimler.
Agora, segundo noticia a agência Reuters, citando uma fonte dos Emirados Árabes Unidos, a BP está à cata de um parceiro estratégico para evitar a incorporação por outros grandes conglomerados petrolíferos. De acordo com a agência Dow Jones, até mesmo a Líbia mostrou interesse nas ações da BP.
No entanto, analistas veem aí problemas. O banco Société Générale aponta que a entrada de um grande investidor do Oriente Médio, China ou mesmo da Líbia poderia comprometer a posição da BP em outras regiões, como nos Estados Unidos. Por outro lado, essa posição já está mais do que debilitada desde o desastre da Deepwater Horizon. Assim, a BP não tem, na realidade, muita opção.
Autoria: Henrik Böhme (AV)
Revisão: Roselaine Wandscheer