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Brasil quer exportar etanol para UE

Geraldo Hoffmann3 de junho de 2004

Ministra das Minas e Energia espera compromisso dos países europeus para aumentar participação de biocombustíveis na matriz energética. Brasil e Alemanha assinam memorando de cooperação.

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Encontro da ministra Rousseff com Wieczorek Zeul em Bonn

"Espero uma deliberação no sentido de tornar mandatória e não apenas indicativa a participação de etanol na gasolina. Modificar padrões de comportamento dependem de determinados atos de vontade política. E seria um ato de vontade política evidenciado pelos governos da União Européia, ter um compromisso de atingir uma meta concreta na área de combustíveis verdes na matriz energética dos diferentes países europeus", declarou a ministra das Minas e Energia do Brasil, Dilma Vana Rousseff, em entrevista à DW-WORLD, na Conferência Internacional para Energias Renováveis em Bonn.

Rousseff aproveitou o segundo dia da Conferência de Bonn, dedicado aos mercados de energias renováveis, para tratar de assuntos bilaterais com o governo alemão. Com o ministro do Meio Ambiente, JürgenTrittin, assinou um memorando de entendimento entre Brasil e Alemanha para a "promoção de energias renováveis". Segundo a ministra brasileira, trata-se de uma cooperação estratégica tanto na área tecnológica quanto comercial.

"Com a mistura de etanol em 20 a 25% da gasolina consumida no país, o Brasil tem um dos programas mais ousados de participação das renováveis. Temos condições de exportar etanol a um terço do preço de qualquer competidor. Além disso, temos o carro flex fuel (bicombustível). Já a Alemanha tem experiência com energia eólica e fotovoltaica. Nós estamos comprando 1100 megawatts de energia eólica. Em troca, a Alemanha poderia ter uma participação no nosso programa do etanol", disse Roussef. Num encontro com a ministra para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul, Rousseff sugeriu que a cooperação econômica entre Brasil e Alemanha no campo das energias renováveis comece exatamente pelo etanol e a biomassa.

Energia nuclear é irrelevante

Lembrando os 30 anos do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, a ministra declarou que a participação da energia nuclear na matriz energética brasileira é irrelevante (de apenas 2%). "Ela nunca teve para nós a relevância que alcançou nos países industrializados. O Brasil nunca a usou como fonte de energia básica", disse. Rousseff negou categoricamente que esteja buscando o apoio da Alemanha para concluir a usina nuclear de Angra III. "Não tratei desse assunto com nenhum ministro alemão. Essa questão está sendo analisada pelo Conselho Nacional de Política Energética e não há qualquer decisão do governo a respeito de Angra III", disse.

Etanol, biomassa e vento

A ministra fez questão de ressaltar que 41% da energia consumida no Brasil é renovável, enquanto a média mundial é de apenas 14%. A maior parte das energias renováveis brasileiras (85%) é hidrelétrica. Além disso, "dependendo da safra de cana, 20 a 25% da gasolina brasileira recebe uma mistura de etanol, que hoje não precisa mais ser subsidiado, tal é o nível de produtividade atingido pela indústria", disse.

Ministerin Dilma Vana Rousseff, Brasilien
A ministra Dilma Vana Rousseff na conferência em Bonn

Um novo impulso para o uso do etanol deve vir com o carro flex fuel (bicombustível), que vem sendo desenvolvido no Brasil pela Fiat, Ford, GM e Volkswagen. Segundo Rousseff, já foram vendidas 46 mil unidades do veículo, movido a gasolina ou álcool ou por qualquer mistura dos dois combustíveis. "A meta é vender 500 mil unidades até 2005/2006", disse.

Segundo a ministra, as montadoras também estão dispostas a embarcar no programa do biodiesel, que será extraído da mamona. Elas já sinalizaram que uma mistura de 2 a 5% de biodiesel na gasolina é viável sem grandes alterações técnicas nos automóveis. "Optamos pelo aproveitamento da mamona porque ela cresce em zonas semi-áridas do Nordeste e não precisa de muita irrigação. Com isso vamos incentivar a agricultura familiar, a pequena propriedade, fazer reforma agrária, usando terras não aproveitáveis para a agricultura de alimentos", explicou. Até 2010, o governo brasileiro pretende assentar 156 mil famílias e gerar mais de 1 milhão de novos empregos com o programa do biodiesel.

Incentivo à fontes renováveis

Rousseff anunciou que, até o próximo dia 30 de junho, vai assinar o Programa de Incentivo a Fontes de Energias Renováveis, envolvendo a compra de 3300 megawatts de energia: 1100 MW de eólica, 1100 MW de biomassa e 1100 MW de pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Numa chamada pública feita pelo Ministério das Minas e Energias, foram apresentados 216 projetos com um volume de 6600 megwatts. A escolha dos projetos a ser implementados será feita com base num rateio para as diferentes regiões do país, e a nova energia deverá estar disponível em dezembro de 2006.

Apesar de a construção de usinas hidrelétricas ser criticada por grupos ecológicos, a ministra não vê problemas em incentivar pequenas centrais. "O Brasil conta com a construção de hidrelétricas como principal fonte de energia. Apenas 12% do nosso potencial hidrelético é aproveitado. Em outros países, esse percentual é bem mais elevado. Iremos diversificar nossa matriz energética, mas não vamos substituir os combustíveis fósseis. Ainda temos 12 milhões de pessoas sem acesso à luz elétrica, o que corresponde à população da Hungria", argumentou Rousseff.

Ela disse que "não têm qualquer fundamento" as críticas de ecologistas, segundo as quais a energia hidrelética não pode ser considerada renovável por provocar danos ao meio ambiente. "Todas as energias renováveis têm impactos ambientais. O importante é buscar formas de minimizá-los. Não posso dizer que a energia eólica não é renovável só porque um parque de cata-ventos numa praia como Copacabana ou Ipanema representaria a destruição dessas paisagens turísticas", comparou.

Segundo Rousseff, o Brasil ainda não decidiu qual fonte de energia verde vai privilegiar, mas uma coisa é certa: "Vai ser a mais barata, mais eficiente e renovável". Possivelmente, haverá uma mistura de fontes, com prioridades regionais. Por exemplo, na Amazônia, que consome 97% do diesel elétrico do país, está previsto o aproveitamento de gás natural. A energia fotovoltaica vem sendo usada para suprir regiões distantes, quando funciona. "Trinta por cento das células solares instaladas no Brasil têm problemas de manutenção", disse a ministra. O assunto foi tratado também nas reuniões da ministra na Alemanha, já que o Brasil busca suporte internacional para solucionar o problema.