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Brasil é campeão em monitoramento de raios

Nadia Pontes14 de janeiro de 2015

Núcleo acompanha tempestades com descargas elétricas em todo o país e emite alertas com meia hora de antecedência. Essa informação pode evitar mortes e cortes de energia.

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Foto: Jeferson Alves

Nos meses do verão, a rotina no Núcleo de Monitoramento de Descargas Elétricas é acelerada – nessa época, a temporada das tempestades de raios preocupa diversos setores produtivos e causa mortes no Brasil.

Uma equipe de 30 profissionais do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) monitora 24 horas por dia as ocorrências no país. São eles que emitem os alertas sobre a chegada de uma tempestade e acompanham o paradeiro dos cerca de 50 milhões de raios de caem no Brasil todos os anos.

"Nós fazemos monitoramento em tempo real, com modelos que interpretam os dados captados pelos nossos sensores espalhados pelo país", detalha Osmar Pinto Junior, coordenador do Elat, que foi criado em 1995 e faz parte do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A rede operada pelo Elat, a BrasilDAT, tem 70 sensores distribuídos pelo território nacional. "Aqui nós avaliamos as imagens enviadas por esses equipamentos, fazemos os relatórios avisando onde irão cair os raios e passamos aos nosso parceiros", diz Diovane Rodolfo de Campos, técnico do núcleo, baseado em São José dos Campos, São Paulo.

Infografik Die Länder mit den meisten Blitze Portugiesisch

Os parceiros do Elat são empresas, principalmente dos setores elétrico e da construção civil. Para elas, saber com antecedência por onde a tempestade de raios irá passar tem importância estratégica.

Uma distribuidora de eletricidade, por exemplo, tem a chance de desligar as partes da rede localizadas na região de ocorrência dos raios ou redistribuir a energia por linhas que evitem a área. No caso de uma empreiteira, quando a rota das descargas elétricas coincide com a localização de uma obra, a empresa dispensa os trabalhadores.

Análise de raio em 3D

Até o momento, os pesquisadores só conseguem analisar os raios em duas dimensões, como numa foto. A expectativa é que, em breve, uma ferramenta em três dimensões esteja disponível. Será como reconstruir um raio, colocá-lo dentro de uma caixa transparente e poder girar essa caixa para ver todos os detalhes, ângulos e ramificações, de onde o raio partiu e onde ele caiu.

"Esse software reconstruiria o caminho exato que o raio percorreu", explica Jeferson Alves, que trabalha no projeto como parte do seu doutorado no Inpe. O matemático utiliza três câmeras de alta velocidade que registram, de diferentes posições, um mesmo raio. Essa área de estudo ainda é nova, explorada por poucos grupos de pesquisa no mundo.

"É um tipo de monitoramento importante para aumentar a proteção. O resultado vai ajudar a entender melhor quais tipos de relevo e construções influenciam a ocorrência dos raios e, assim, será possível se proteger melhor", comenta.

Zentrum für Unwetter- und Blitzforschung in Sao José dos Campos Brasilien
Monitoramento: os pontos vermelhos mostram locais atingidos por um raio nos últimos 10 minutosFoto: DW/N. Pontes

Raios que matam

Nas duas primeiras semanas de 2015, pelo menos cinco pessoas morreram após serem atingidas por raios. Nos últimos dias de 2014, a morte de quatro membros de uma mesma família, vítimas de um raio no litoral paulista, repercutiu até na imprensa internacional.

Estudos do Elat apontam que a ocorrência de raios deve se intensificar nas grandes cidades. Mas a tendência é que as tragédias diminuam. "Entre 2000 e 2010, a média de mortes era de 130 por ano no Brasil. De 2010 até 2014, esse número caiu para 110 [por ano]", comenta Osmar Pinto Junior. "Acreditamos que as pessoas estão mais cautelosas e procuram se abrigar com segurança em caso de tempestade", acrescenta.

Além do Elat, outras redes monitoram as descargas elétricas pelo mundo. A World Wide Lightning Location Network (WWLLN) mantém uma rede mundial administrada pela Universidade de Washington, e conta com a colaboração de mais de 50 universidades.

"A maior parte dos raios ocorrem em países tropicais e subtropicais e, em muitos países, os dados sobre as mortes não são precisos", afirma Robert Holzworth, coordenador da WWLLN. "Nos Estados Unidos, de clima temperado, são de 30 a 50 óbitos por ano", completou.