Brecht deixou marcas em Berlim
27 de maio de 2006Berlim é uma cidade por onde já passaram incontáveis artistas e intelectuais. Mas talvez nenhum outro escritor moderno tenha deixado pistas tão nítidas na cidade como o dramaturgo Bertolt Brecht, autor da Ópera dos Três Vinténs e mentor do chamado Teatro Épico.
Berlim foi a cidade em que o jovem autor nascido em Augsburg conseguiu chamar a atenção dos intelectuais e do público para sua obra. Em 1924, Brecht mudou de sua cidade bávara para Berlim, onde trabalhou com o escritor Carl Zuckmayer no Deutsches Theater.
O Deutsches Theater (Schumannstrasse 13a), fundado em 1850 como sociedade de atores, se transformou no "Olimpo" dos teatros alemães sob a direção de Max Reinhardt, de 1905 a 1933, ano de emigração de seu diretor. Após a Segunda Guerra, o Deusches Theater se tornou um importante centro da dramaturgia e das artes cênicas da Alemanha Oriental.
A efervescência cultural da República de Weimar teve fim com a ascensão do nazismo. No início de 1933, uma apresentação da peça A Medida, de Brecht, foi interrompida por policiais. Um dia antes do atentado incendiário contra o Reichstag (Platz der Republik 1), em fevereiro do mesmo ano, Brecht partiu com seus filhos e sua terceira mulher, a atriz vienense Helene Weigel, para o exílio dinamarquês. No mesmo ano, as obras de Brecht foram lançadas ao fogo durante a queima de livros organizada pelos nazistas na Opernplatz, atual Bebelplatz.
A Bebelplatz, ao lado da Staatsoper (Unter den Linden 7), abriga hoje um memorial da queima de livros. A "biblioteca imersa", do artista israelenese Micha Ullmann, consiste em um espaço subterrâneo de 50 metros quadrados. Através de uma laje de vidro, vêem-se estantes vazias formando uma biblioteca com lugar para 20 mil livros.
Após os nazistas invadirem a Dinamarca, Brecht emigrou para os Estados Unidos, onde permaneceu até 1948. Após uma permanência na Suíça, o dramaturgo retornou à Alemanha Oriental em 1949, com passaporte tcheco, já que sua cidadania tinha sido cassada pelos nazistas em 1935.
Ao retornar a Berlim, Brecht residiu com Helene Weigel numa casa na Chausseestrasse 125, em Mitte. Desde 1989, este endereço abriga a Casa Brecht, onde se pode visitar a última residência do casal, o arquivo Berthold Brecht e o restaurante com receitas da austríaca Helene Weigel.
De volta à Alemanha, Brecht e Weigel criaram sua própria companhia, o Berliner Ensemble, que inicialmente funcionou no Deutsches Theater, instalando-se posteriormente no Theater am Schiffbauerdamm, onde a Ópera dos Três Vinténs havia estreado em 1928. Em 1954, esta se tornou a sede definitiva do Berliner Ensemble (Bertolt-Brecht-Platz 1).
A Akademie der Künste (Academia das Artes) da Alemanha Oriental (Pariser Platz 4), da qual Brecht era membro, foi reinaugurada em maio de 2005, nas imediações do Portão de Brandemburgo. O edifício foi projetado por Behnisch & Partner com Werner Durth e funciona hoje como espaço de exposições.
Bertolt Brecht faleceu no hospital Charité (o único arranha-céu nas imediações do Berliner Ensemble), em agosto de 1956, em decorrência de um infarto. Ele está enterrado ao lado de Helene Weigel no Dorotheenstädtischer Friedhof (Chausseestrasse 126), ao lado da Casa Brecht.
Neste mesmo cemitério também estão sepultados Hanns Eisler, Johann Gottlieb Fichte, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Heinrich Mann, Karl Friedrich Schinkel, Anna Seghers, Arnold Zweig e Heiner Müller, entre outros.
Quem tiver mais tempo para seguir no encalço de Brecht pode ir até Buckow, uma hora e meia de trem a leste de Berlim, onde se localiza a casa de verão do casal Brecht-Weigel, às margens do Schermützelsee.