Tráfico de bebês
23 de fevereiro de 2011A advogada grega Elektra Koutra quer ajudar mulheres estrangeiras que estão lutando para reaver seus filhos. Ela está convencida de que as quadrilhas abusam de mulheres jovens necessitadas ou as chantageiam para tirar delas seus bebês e vendê-los para casais gregos sem filhos.
Koutra está representando uma romena diante da Justiça em Atenas e reclama da inércia das autoridades gregas na luta contra o tráfico de bebês. "Minha cliente quer ter seu bebê de volta, mas esbarra em um muro de indiferença ou mesmo na resistência das autoridades", diz a advogada.
Já em julho de 2009, ela apresentou uma queixa na Justiça por fraude comercial e extorsão, e ainda hoje a polícia diz que o caso está sob investigação. "Eu já solicitei consulta aos documentos dos órgãos públicos e na maternidade, mas nem o ombudsman grego pode consultar esses documentos. Em suma, temos de lutar em cada pequeno detalhe para poder ir adiante", reclama a advogada.
Segundo a imprensa grega, os preços para um bebê da Bulgária ou da Romênia vão de 15 mil a 25 mil euros. A mãe fica com no máximo 3 mil euros. Caso ela venha a ter remorso ou se opor à proposta, é ameaçada de violência.
Cidadãos colaboram com traficantes
"Os traficantes podem exercer sua atividade criminosa sem serem perturbados porque dispõem de ajudantes corruptos dentro dos órgãos públicos", diz Koutra. Alexandros Zavos, diretor do Instituto para Política de Migração, em Atenas, também suspeita da cumplicidade de funcionários públicos. Estrangeiros contam sempre casos similares.
Na fronteira da Grécia com a Turquia, já foram presos diversos cúmplices dos traficantes. "Na cidade de Patras, dois policiais portuários foram acusados de ter assaltado refugiados. Mesmo nas ilhas, acredita-se que meros cidadãos atuam como ajudantes dos contrabandistas e os informam sobre as próximas fiscalizações da polícia", diz Zavos.
Enquanto isso, a Eurojust, órgão da União Europeia de combate à criminalidade através de fronteiras, entrou na guerra contra o tráfico de seres humanos entre a Grécia e a Bulgária, conseguindo êxitos importantes, segundo Koutra. No entanto, os truques dos traficantes se tornam cada vez mais sofisticados, lamenta.
Comércio de óvulos humanos
Na fronteira norte da Grécia floresce agora também o comércio ilegal de óvulos humanos, relata a advogada grega. "Devido à dificuldade econômica, muitas mulheres concordam em doar seus óvulos em troca de dinheiro. Conheço doadoras da Bulgária, da Romênia e da Letônia", afirmou. As mulheres ficam na Grécia por algumas semanas, onde são tratadas com injeções de hormônio para produzir a maior quantidade possível de óvulos. "Muitas dessas mulheres são vítimas de tráfico humano e prostituição forçada e não passam por exames médicos. Além disso, quase não são informadas sobre possíveis complicações para a sua saúde", conta Koutra.
"O melhor seria ajudar essas pessoas afetadas no próprio país de origem", opina o pesquisador de migração Alexandros Zavos. Um exemplo de sucesso, segundo ele, é um programa de reintegração na Moldávia, para as mulheres que foram vítimas de abuso e prostituição forçada.
Em 2008, ele mesmo supervisionou o projeto. "O mais importante era o apoio psicológico, porque muitas das mulheres sofriam de graves abalos psicológicos, incluindo desejos de suicídio", lembra. "Outro componente importante do programa é a qualificação profissional", completa Zavos. "As mulheres não recebiam quantias em dinheiro, mas financiávamos a formação delas e as acompanhávamos até conseguirem um emprego."
Zavos, que é formado em matemática, é de opinião que medidas policiais "infelizmente" não bastam para controlar a situação. Segundo ele, o tráfico humano continuará fazendo parte do cotidiano enquanto ele continuar rendendo muito dinheiro para as quadrilhas.
Autor: Jannis Papadimitriou (md)
Revisão: Roselaine Wandscheer