Calor tropical castiga Alemanha
7 de agosto de 2003De maneira geral, os alemães comportam-se como adoradores do sol, estendendo o corpo sempre que possível para gozar cada um de seus raios, que não costumam brilhar tão generosos como em outras partes do globo. Mas as temperaturas incomuns das últimas semanas, que transformaram o país um verdadeiro forno, fazem a população conhecer também o lado mais penoso da vida em clima tropical.
Céu azul, sem sombra de nuvens, sol ardente, temperaturas acima de 35ºC durante o dia e dificilmente abaixo dos 20 durante a noite — e nenhuma perspectiva refrescante em forma de chuva: é assim que se resumem os boletins meteorológicos. Só o litoral está mais ameno, com temperaturas entre 25ºC e 29ºC. "Uma hora destas e em algum lugar" do país, os termômetros devem ultrapassar a marca dos 40ºC, acreditam os meteorologistas. O recorde de calor na Alemanha foi registrado no verão de 1983, com 40,2ºC.
Trabalhar, com esse calor?!
Habituados a relacionar o calor ardente ao clima de férias em países sulinos, os alemães têm dificuldade em viver o cotidiano nessas condições. Um dos debates do momento é se os patrões não deveriam conceder uma dispensa geral aos empregados, enquanto as temperaturas estiverem tão altas. Aliás, um regulamento existente nas escolas permite aos diretores mandar a garotada para casa quando os termômetros externos apontam pelo menos 25ºC. Ter um dia hitzefrei — livre por causa do calor — é um grande motivo de alegria para os alunos.
Agora, não só os jornais populares começam a exigir o mesmo para os adultos, em suas manchetes — aproveitando que o verão costuma ser pobre em assuntos de maior peso. O chefe da administração municipal de Berlim já introduziu a medida para os funcionários da capital, a partir de 29ºC à sombra, o que faz deles os servidores públicos mais invejados do país no momento.
Ozônio de mais, água de menos
As constantes temperaturas elevadas estão ocasionando um aumento da concentração de ozônio de ar. Em muitas parte do país, já se registraram mais de 200 microgramas por metro cúbico de ar, marca a partir da qual a concentração passa a ser prejudicial para o organismo humano, segundo a Organização Mundial da Saúde. ONGs de proteção à natureza, tal como Greenpeace e BUND, reivindicam a proibição imediata de circulação de veículos. Na Alemanha, a partir de 180 microgramas, as autoridades apenas recomendam que se evite usar o automóvel e se limitem os esforços ao ar livre.
A falta prolongada de chuva afeta principalmente a agricultura, setor em que se conta com perdas médias de 15% na colheita de cereais. Os rios, com seus níveis baixos, mal se prestam à navegação, que já precisou ser limitada em muitos trechos. Um exemplo eloqüente é o do Elba, que em agosto de 2002, durante a grande inundação, tinha 9,40 metros de profundidade e registra hoje parcos 81 centímetros.
Menos energia, mais incêndios
A escassez das águas fluviais está tendo conseqüências também para o funcionamento das usinas nucleares. A água utilizada no resfriamento das turbinas está quente demais — no Elba, ela chega a 26ºC —, o que obrigou as operadoras a limitar seu funcionamento e reduzir, assim, a produção de energia elétrica.
A seca aumenta ainda o perigo de incêndios nos bosques. Embora ainda estejam longe de atingir as proporções catastróficas do Sul da Europa — sobretudo em Portugal — também na Alemanha os fogos registrados em florestas, no primeiro semestre deste ano, triplicaram em relação ao mesmo período de 2002. No Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, o governo já mandou interditar metade dos bosques, mesmo os situados em regiões turísticas.