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Caminho para a democracia no Iraque está traçado

Peter Philipp / gh14 de fevereiro de 2005

União Européia congratula os vencedores das eleições no Iraque e pede que contemplem os interesses de toda a população na elaboração da futura Constituição do país.

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Votação em Basra: assinatura com impressão digitalFoto: AP

A comissão eleitoral iraquiana divulgou, neste domingo (13/02) em Bagdá, o resultado oficial das eleições parlamentares realizadas no dia 30 de janeiro passado.

"Trata-se de mais um passo da transformação política do país", disse a comissária de Política Externa da União Européia, Benita Ferrero-Waldner, nesta segunda-feira (14/02), em Bruxelas. Ela manifestou-se confiante de que os candidatos eleitos irão representar toda a sociedade iraquiana no processo político, sobretudo na elaboração da nova Constituição.

"O caminho para a democracia no Iraque está cheio de obstáculos", escreve o jornalista Peter Philipp, da Deutsche Welle, profundo conhecedor do país. Leia, a seguir, a íntegra de sua análise do pleito.

"Nos tempos em que Saddam Hussein convocava eleições, o resultado sempre era previsível e as autoridades só tinham que cuidar para que o ditador não recebesse, por engano, uma aprovação superior a 100%. Diante disso, é compreensível que os xiitas da Aliança Iraque Unido tenham apostado numa vitória expressiva, embora os 47,6% dos votos sejam um resultado respeitável, com o qual os representantes dessa coalizão deverão ter o acesso esperado aos principais postos políticos do país. Os outros também não têm motivos para descontentamento: os curdos ficaram em segundo lugar, com 25,4% dos votos, enquanto o partido do atual primeiro-ministro interino, Iyad Allawi, obteve 14% das preferências.

Mais importante do que os números é o fato de que, pela primeira vez, no Iraque – e, em sentido amplo, no mundo árabe – os eleitores puderam optar e não foram forçados a legitimar um regime que não admite oposição.

Eleições sob ocupação

Os críticos afirmam que as eleições não foram livres, por terem sido realizadas sob ocupação e porque a maioria dos sunitas não puderam ir às urnas. São argumentos superficiais, porque os sunitas não foram impedidos pelas forças de ocupação nem pelo governo interino de ir votar e, sim, pelos radicais em suas próprias fileiras e pelo próprio clero sunita, pressionado pelos extremistas.

Eleições sob ocupação também já foram realizadas na República Federal da Alemanha em 1949, um pleito livre que lançou a base da democracia alemã. Obviamente, a Alemanha na época não sofria a violência que agora aflige o Iraque. Mesmo assim, espera-se que as eleições iraquianas ponham em marcha um processo de democratização semelhante. Os eleitores demonstraram quão valiosa lhes é a perspectiva de liberdade e que estão dispostos a arriscar a vida por ela. Seria trágico se não fosse possível dar continuidade ao caminho enveredado.

Caminho tortuoso

Este caminho está traçado, mas passa por muitos campos minados. O Parlamento transitório eleito precisa nomear um presidente e dois substitutos que, por sua vez, designarão o chefe de governo. O Parlamento deve também elaborar e aprovar uma Constituição, com base na qual serão realizadas novas eleições em dezembro deste ano.

Não são poucos os obstáculos a enfrentar nesse caminho. Por exemplo, na questão do teor "islâmico" que deverá ter o Estado. Mas também há esperanças: até mesmo os líderes religiosos da maioria xiita rejeita uma versão iraquiana da "república islâmica". Se mantiveram essa postura, será possível formar coalizões, e é provável que as atuais afinidades étnicas e religiosas dêem lugar à formação de partidos políticos abertos a todos, inclusive para os sunitas, para que o Iraque possa preservar sua unidade nacional."